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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

De onde vem o título “Cidade Maravilhosa”, por Rafael Sento Sé

Em 1911, o Rio era uma cidade com problemas tão ou mais graves do que os de hoje, mas mereceu atenção de poeta francesa

Por lu.lacerda
26 abr 2025, 07h00
rafael santo se
 (Reprodução/Arquivo pessoal)
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Se o Rio de Janeiro é, até hoje, conhecido internacionalmente como a Cidade Maravilhosa, isto se deve a um livro. A um livro de poesia. A um livro de poesia escrito por uma mulher. Antes da cantora Aurora Miranda, irmã de Carmen, estourar com a marchinha Cidade Maravilhosa, o livro “La ville merveilleuse” orgulhou a sociedade carioca com os 33 poemas compostos pela poeta francesa Jane Catulle Mendès em sua viagem à então capital federal em 1911. Era uma cidade com problemas tão ou mais graves do que os de hoje, e ainda assim mereceu a distinção de Madame Catulle Mendès.

Apesar do valor simbólico desta obra para o Rio, a poeta francesa está quase esquecida, ignorada na cidade que a encantou no início da década de 1910. Não poderia haver momento mais adequado para revisitá-la do que agora, em 2025, ano em que o Rio de Janeiro ostentará o título de Capital Mundial do Livro, concedido anualmente pela Unesco e cuja marca foi apresentada recentemente.

Jane tornou-se uma das maiores celebridades da Belle Époque parisiense depois de se casar com o poeta que lhe emprestou o sobrenome Catulle Mendès, com o qual se consagraria. Conseguiu escapar à sombra do marido famoso, ao lado do qual foi retratada tantas vezes nas estreias teatrais, a partir do momento em que passou a colaborar para os jornais da época e, especialmente, depois de lançar seu livro de estreia, em 1904.

Ela integrou um movimento de jornalistas, escritoras e literatas descontentes com o papel submisso da mulher na sociedade, inconformadas com o Código Civil em vigor desde Napoleão. A legislação conferia à mulher um status legal semelhante ao de uma criança, e foi, através de seus livros, que esse grupo provou o contrário.

A vida de Madame Catulle Mendès era acompanhada com um interesse tão grande pela imprensa que, passado mais de um século desde sua visita ao Rio, consegui reconstituir muitos dos seus passos pela cidade e de sua vida em Paris. Aqui ela ficou amiga da escritora Júlia Lopes de Almeida, tomou chá com João do Rio e foi retratada pelo chargista Emílio Cardoso Ayres na casa de Laurinda dos Santos Lobo, em Santa Teresa.

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Ao puxar o fio da história de Madame Catulle Mendès, há quase 15 anos, quando iniciei a pesquisa, sabia que depararia com a história da cidade recém-reformada por Pereira Passos, mas nunca pensei que o resgate de “La ville merveilleuse” e de sua autora levaria também a escrever sobre a representatividade  da mulher na literatura.

Catulle Mendès me apresentou a uma geração de escritoras de trajetórias tão incríveis quanto diversas. Tinham em comum o inconformismo, debatiam questões, infelizmente, até hoje em pauta no feminismo. Reverencio essas histórias em meu livro “A poeta da Cidade Maravilhosa”, em breve nas livrarias pelo Grupo Editorial Autêntica.

Sempre fui um apaixonado pela História do Rio de Janeiro. Essa paixão influenciou a minha trajetória profissional e me levou a criar um blog sobre memória e patrimônio cariocas. Quando decidi escrever uma postagem sobre a origem do epíteto Cidade Maravilhosa, deparei com a Jane Catulle Mendès, uma personagem tão preciosa quanto desconhecida. Era uma pauta e tanto, que merecia muito mais do que algumas linhas. Levei quase 15 anos para pesquisar e escrever o livro, que é minha homenagem a essa poeta que demonstrou o seu amor pelo Rio com rara sensibilidade.

Rafael Sento Sé é jornalista, formado pela PUC-Rio. Pesquisa a memória e o patrimônio cariocas há mais de 20 anos. Criou o blog RJ-450 para fazer a contagem regressiva para os 450 anos do Rio de Janeiro, trabalho que rendeu convite para integrar o comitê organizador das comemorações oficiais da Prefeitura do Rio. Foi assessor especial da Secretaria Municipal de Cultura e do Ministério da Cultura nas gestões Marcelo Calero. Pesquisou e escreveu o dossiê que embasou o tombamento da Procissão de São Sebastião e da Bênção dos Barbadinhos e a linha do tempo sobre os 80 anos do Grupo Editorial Record. É autor de “A poeta da Cidade Maravilhosa”, que sai pela Editora Autêntica.

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