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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Crônica, por Eduardo Affonso: Alô, alô, marciano

Rita Lee já ensinou que tem sempre um aiatolá pra atolar Alá – e não faltam (lá e cá) cristãos dispostos a pegar o povo para Cristo

Por lu.lacerda
12 jan 2025, 07h00
eduardo affonso
 (IA/Internet)
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Quando Trump dizia querer tornar os Estados Unidos grandes novamente (“Make America Great Again”, ou MAGA), dava a (falsa) impressão de falar de glórias passadas, como as dos tempos em que o país acolhia os que ansiavam por liberdade religiosa ou fugiam do nazifascismo. De quando era a terra das oportunidades para os que se dispunham a trabalhar duro e reconstruir a vida longe da fome, da opressão. Ou, principalmente, de quando a grande nação do Norte liderava o Ocidente democrático, fazendo frente aos regimes totalitários da China e da finada União Soviética e seus satélites.

Não se poderia supor que, ao falar em grandeza, Trump estivesse sendo tão literal. Com a anexação do Canadá e a aquisição da Groenlândia – bravateadas esta semana – os Estados Unidos ficariam mesmo enormes. Em área, ultrapassariam a Rússia, com quase uma União Europeia inteira de lambuja.

Mas não pegaria bem dizer isso claramente, trocando “great” por “large”, no discurso e no boné. Seja porque o expansionismo declarado evoca precedentes sinistros, seja porque seus discípulos brasileiros o tenham alertado que o acrônimo MALA daria margem a muitos memes por aqui. E sabemos a força dos memes tupiniquins: se são capazes de elevar a cotação do dólar, imagine o estrago que fariam numa corrida presidencial.

Em tese, absorver o Canadá como 51º estado não seria complicado. Os canadenses já falam inglês (mesmo em Quebec), têm uma moeda chamada dólar, comemoram Halloween e Dia de Ação de Graças e embrulham as garrafas de bebidas alcoólicas quando estão em lugares públicos. Uma estrelinha a mais bagunçaria o leiaute da bandeira, mas os americanos finalmente teriam as cataratas de Niágara só para si e o Alasca não se sentiria tão isolado.

Falta combinar com o rei Charles III, que precisaria abrir mão de aparecer nos selos e moedas, e, claro, convencer os canadenses de que eles teriam vários benefícios – como perder o sistema de saúde público e universal, poder adquirir um fuzil semiautomático sem muita burocracia, não precisar dizer “sorry” o tempo todo etc.

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Os Estados Unidos já compraram territórios antes: Louisiana, Flórida, Alasca. E tomaram boa parte do México (incluindo Texas e Califórnia), além de terem anexado Havaí, Porto Rico, Guam, Samoa e, por várias décadas, as Filipinas. Norráu não lhes falta.

Isso de avançar sobre os vizinhos e redesenhar mapas é hábito antigo de tiranos. Nem é necessário remontar aos impérios da Antiguidade ou à colonização da África pelas potências europeias: Hitler anexou a Áustria, Putin vem tentando há dez anos tomar a Ucrânia, Nicolás Maduro botou olho grande na Guiana. Trump estará em ótima companhia se levar a cabo os seus factoides, que incluem o confisco do Canal do Panamá e a redesignação do Golfo do México – doravante, Golfo da América. (Aproveitando o embalo nacionalista, não será surpresa se Las Vegas se tornar The Meadows, Los Angeles se converter em The Angels, Baton Rouge passar a Red Stick, e Mar-a-Lago, onde Mr. Trump tem uma mansão, a Sea-to-Lake.)

Quanto à paz mundial, Rita Lee já ensinou que tem sempre um aiatolá pra atolar Alá – e não faltam (lá e cá) cristãos dispostos a pegar o povo para Cristo.

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Ah, sim: se a Groenlândia virar a 52ª estrela na bandeira americana, pelo menos se restaura a simetria. Ou seja, algo se salva nessa sandice toda.

Eduardo
(arquivo pessoal/Arquivo pessoal)
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