Censura religiosa trava livro sobre Clara Nunes em escolas
"Eu deveria suprimir ou reescrever todos os trechos que abordassem orixás, ritos religiosos e até mesmo citações de obras de autores como Pierre Verger"
O jornalista Vagner Fernandes, autor da biografia “Clara Nunes: Guerreira da Utopia”, recebeu, nos últimos seis meses, duas propostas para transformar o livro em material paradidático para redes de ensino médio de escolas públicas. Ficou muito feliz, mas precisou interromper as negociações.
Ele ganharia os 10% convencionais de remuneração a autores — ou seja, se o contrato fosse de R$ 1 milhão, ele receberia R$ 100 mil — pela lei nº 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas de ensino fundamental e médio do país. “Havia restrições: eu deveria suprimir ou reescrever todos os trechos que abordassem orixás, ritos religiosos e até mesmo citações de obras de autores como Pierre Verger e Reginaldo Prandi. Ingenuamente, dei início a uma tentativa quando recebi a primeira proposta. Não, nada satisfazia. Eu teria mesmo de cortar trechos do livro para não caracterizar proselitismo afro-religioso. Não podia sequer falar das energias que deram a Clara Nunes a alcunha de guerreira. Ou seja, Iansã e Ogum. Foram duas semanas de tensão, idas e vindas, conversas improfícuas. Bati o martelo e sentenciei, ao final, que não censuraria a minha própria obra, sobretudo sendo um defensor da laicidade do Estado, das religiões de matriz africana e um ativista árduo contra o racismo religioso e etnorracial.”
A biografia, lançada originalmente em 2007 pela Ediouro e esgotada em algumas de suas primeiras edições, foi relançada em 2019 em versão revista e ampliada — mas está novamente esgotada, podendo ser encontrada usada e apenas em alguns sites de venda.
“Sempre agradecerei a Paulo Cesar Pinheiro (compositor e poeta que foi casado com Clara de 1975 a 1983), herdeiro universal da mais solar e irrepreensível intérprete de todos os tempos da música popular brasileira, por este feito: por ter me permitido contar a história da cantora mineira sem filtros. Musicais, documentários e estudos acadêmicos usam o trabalho como referência. É um orgulho.”, finaliza.
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