De próprio punho, por Carla Benchimol: “Sim, eu tenho depressão!”
"A vontade de desistir é enorme. Mas desistir não é uma opção. A única opção é a tentativa e erro"

Desde muito nova, sempre vivi com um aperto no peito, que me acompanha até hoje. Naquela época, ainda não se falava muito em depressão, principalmente em uma criança/adolescente que sempre foi cercada de tudo de melhor e principalmente de muito amor. Lembro, como se fosse hoje, a primeira vez que tomei um remédio. Meu pai me vendo naquele sofrimento, me deu um Lexotan.
Imediatamente senti uma leveza que não sentia há muito tempo, ou até jamais teria sentido. Pouco tempo depois, fui diagnosticada com distimia, que é um tipo de depressão crônica, que inclui tristeza, baixa autoestima, cansaço, insônia, pouco interesse em praticamente tudo. Sim, eu tenho depressão! Mas como só me conheço com ela, poucas pessoas sabem, pois aprendi rapidamente a criar uma personagem e disfarçar, dentro do possível, minhas dores e medos. Tento ter sempre um sorriso para todos. Sei que se fala muito de remédios, mas eu acredito que a ciência está trabalhando a nosso favor, e por isso eu sei que preciso deles para viver e respirar. E creiam: mesmo assim, a minha luta é diária. O remédio é sempre uma tentativa que, na maioria das vezes, não dá certo; esse troca-troca até achar o certo é muito cansativo e desestimulante.
A vontade de desistir é enorme. Mas desistir não é uma opção. A única opção é a tentativa e erro, sair em busca de uma vida mais saudável como movimentar o corpo, trabalhar a mente, que, no meu caso, faço escrevendo. Tenho um diário onde coloco todas minhas dores e desafios. Eu adoraria escrever aqui uma palavra de consolo para todos que sofrem desse mal, porém não tenho nenhuma — simplesmente, porque não tenho nem pra mim. O que me salva é um certo senso de humor, e consigo rir de mim mesma em várias situações, até nas tragicômicas, mas, no fundo, são fases. Tenho fases piores, em que me isolo do mundo, porque nem o sorriso sai, e não quero ser uma presença pesada para ninguém. E tenho fases um pouco melhores, mas sempre, diariamente, com a ajuda da minha bengala, que são os remédios, o que, por incrível que pareça, ainda é um tabu na nossa sociedade. E sinceramente não entendo o porquê.
A insônia é o mais pesado disso tudo. Eu costumo pensar que existe remédio para todo tipo de dor física. Está com dor de cabeça? Dor de estômago? Enjoada? Simples. Para cada sintoma desses, existe um remédio que te tira essa dor em meia hora.
Mas a dor que eu sinto no peito, como se fosse uma pressão sem fim, uma faca fincada em mim, não existe remédio que tire. Alivia, com certeza, mas não passa completamente. Os sintomas que tenho são parecidos aos que meu marido cardiologista relata de quando alguém está infartando. Por duas vezes, precisei fazer uma angiotomografia para ter certeza de que estava tudo bem com o meu coração.
No momento, estou na fase baixa. Não durmo, meu corpo treme, as lágrimas escorrem sem fazer algum esforço, não sinto vontade de conversar com ninguém, de socializar, de sair e descobrir que existe vida lá fora. Eu sei que existe. Não tenho a menor dúvida, o depressivo sabe, mas simplesmente não consegue. No meu caso, piora quando o dia vai acabando, e eu começo a ficar mais angustiada e nervosa com a chegada da noite, e mais uma noite em claro.
Se você conhece alguém ou tem um familiar ou amigo que sofra de depressão, tenha paciência, ouça sem julgar, não minimize nem aponte o dedo e, principalmente, não diga que ele não tem problema na vida ou que ele não precisa de remédio. Ninguém toma remédio por prazer, ou se faz de vítima usando a depressão como desculpa. Só de saber que temos com quem contar ou nos escutar já é um suporte enorme. E por último, mas não menos importante, sempre procure um médico, e faça uso de medicação prescrita, e não da própria cabeça – quanto a isso, não existe flexibilidade. A ajuda de um psiquiatra é imprescindível em todos os casos.
O mundo é colorido. Na natureza, nas artes, no design, na moda, etc. Para um depressivo, ele é preto branco e cinza. Sem cor. Por isso, o nosso mundo é mais monótono, triste, vazio e desinteressante.
É como se as cores vibrantes da vida estivessem apagadas. E assim seguimos, dia após dia, em busca de um lindo arco-íris.
Carla Benchimol é administradora de empresas.