Irene Ravache, em aula do “Formar Cultura”: “Eu sou o que temos para hoje”
Artistas participaram da abertura do “Ato 2”, do Formar Cultura, com o tema "O artista como produtor da sua trajetória"





Irene Ravache, 80 anos, e Othon Bastos, 92, ela em cartaz com “Alma Despejada” no Teatro Fashion Mall, e ele cm “Não me entrego, não!”, no Teatro Vannucci, deram uma aula-espetáculo de abertura do “Ato 2”, do projeto Formar Cultura, nessa segunda (13/01), no auditório da Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo.
Também participaram o cantor e produtor cultural Mombaça, que ganhou parabéns do público pelo seu aniversário, e o diretor teatral e escritor Rodrigo França, com apresentação de Julie Wein com alguns números musicais ao piano e mediação de Eduardo Barata, coordenador geral do projeto.
Previsto para duas horas, durou quatro, com a plateia encantada. A intenção do projeto é apresentar ao público a força da produção na trajetória de grandes nomes da cultura, como de exemplo para outros artistas e fazedores de cultura.
Desde que chegaram até quando saíram Irene e Othon foram aplaudidos o tempo todo e, num dos papos, a atriz disse: “Esse nosso fazer é muito artesanal. Às vezes converso com alguns estudantes e existe uma preocupação de ser contratado, ir pra capa de revista, faturar com comerciais, mas esse me parece um caminho furado. Não que isso seja ruim, mas não pode ser o início do caminho ou ele não virá. Não é o que vai garantir o teu esteio. Não temos garantia nessa profissão. Se alguém soubesse o caminho do sucesso, a Broadway não produziria fracassos, mesmo com todo conhecimento e dinheiro. O nosso negócio é arriscado porque dependemos do que a plateia vai nos devolver. Mas é importante conhecermos o que queremos falar e para quem”.
Ravache citou o exemplo de Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães, que começaram modestamente, em “Cócegas”, na década de 1990, fazendo um espetáculo escrito por elas mesmas, sucesso de público que rodou o país e fez com que a dupla fosse parar na televisão e, juntas, protagonizaram “Sob Nova Direção”, que ficou três anos no ar. “A gente nunca sabe a resposta. Não basta gostar, tem que ter gosto de gostar, porque é isso que nos sustenta na hora que levamos uma rasteira. O que nos sustenta é nosso amor pelo que fazemos”, disse.
Quando a crítica de teatro Claudia Chaves (colaboradora da coluna) perguntou qual era a angústia de cada um na hora de criar, Irene disse: “Sou mais executora do que criadora. Não tenho muitas angústias. Não demoro a me liberar da carga de um personagem quando termina a minha peça. O verbo ‘to play’ me move mais. Gosto do jogo. Sinto se vou decepcionar vocês. Meu caminho é mais simples. Eu sou o que temos para hoje”.
Os alunos do projeto vão criar durante o ano no mínimo, 60 propostas elaboradas, com um evento de conclusão de curso com entrega dos certificados.