Entrevista “Invertida”, com Alexandre Accioly: “Não gosto do silêncio”
"Adoro imaginar um projeto, visualizar, colocar no papel e, principalmente, ver que está se materializando"

Alexandre Accioly, no centro de vários negócios no Rio, se empolga ao falar de todos eles: atua, por exemplo, em academias, é o principal sócio da BodyTech; gastronomia, é sócio do Casa Tua; entretenimento, é sócio da casa de shows Qualistage, na Barra; do evento Noites Cariocas, no Morro da Urca, e mais recentemente, do Roxy Dinner Show, em Copacabana, com espetáculo principalmente para turistas, celebrando a cultura brasileira.
O Roxy acaba de ser eleito pela revista americana Time como um dos melhores lugares do mundo em 2025. Na inauguração, em outubro de 2024, ao chegar e olhar o ambiente, o empresário Luiz Severiano Ribeiro, dono do imóvel, ao ser recebido por Alexandre, em noite de festa, disse: “Você é um homem peitudo”. Ali foram investidos RS 67 milhões na reforma.
Em dezembro, Accioly recebeu o prêmio “O Rio Agradece”, da nossa Veja Rio, pelos serviços prestados aos cariocas. A energia de momento de AA está ainda na revitalização do Jardim de Alah, através da sua empresa Rio + Verde, projeto ainda sob resistência de alguns moradores. Costuma dizer que seu compromisso é com o desenvolvimento urbano e cultural da cidade carioca.
É pai de Maria Carolina, do casamento de duas décadas, com Renata Padilha, e de Antonio, de 20 anos, com Astrid Monteiro de Carvalho.
Nessa sexta (28/03), foi homenageado com o Prêmio Barão de Mauá — Rio Empreendedor, dado a empresários que alcançaram os critérios de mérito e inovação e tiveram o nome avaliado pelo Comitê de Elegibilidade e aprovado pela Presidência e Diretoria da Associação Comercial do Rio.
Em 10 minutos de conversa, Accioly consegue trazer à tona a ideia de um novo negócio, desejo de um novo empreendimento, ou o seu mais novo sonho ainda secreto.
Leia sua entrevista:
UMA LOUCURA: Empreender é, sem dúvida, a minha maior loucura. Eu amo empreender. Acordo pensando nos projetos que quero fazer, durmo pensando neles. Fico o tempo todo atento a oportunidades, a ideias que possam virar algo concreto. Adoro imaginar um projeto, visualizar, colocar no papel e, principalmente, ver que está se materializando. Fazer acontecer é o que me move. Muitas vezes, nem dá tempo de escrever — já parto direto pra execução. Essa urgência criativa, essa inquietação constante, é a minha loucura… E também a minha paixão.
UMA ROUBADA: O que chamo de “quebra de expectativa”. Acho que a maior roubada da vida é quando você se decepciona com alguém em quem acreditava. Ao longo da minha vida, encontrei pessoas com quem me relacionei, me envolvi, convivi, dividi planos, confiança e projetos, esperando que isso gerasse algo maior — multiplicação mesmo. E, de repente, você se vê diante de uma grande decepção. Essa quebra de expectativa, quando alguém em quem você acreditava não corresponde, talvez seja a maior roubada.
UMA IDEIA FIXA: Fazer. Simples assim: fazer. Essa é a minha ideia fixa. Não gosto de perder tempo com blá-blá-blá, com teoria demais, com planos que nunca saem do papel. Eu gosto de agir. Fazer. Entregar. De ver as coisas acontecendo. Tenho obsessão por tirar ideias da cabeça e colocar no mundo. Fazer é o que me move.
UM PORRE: Todos que eu tomei no Noites Cariocas. Risos. Foram muitos! O Noites Cariocas marcou uma época e sempre foi sinônimo de alegria, música boa e boas companhias. E o melhor: em junho, o TIM Music Noites Cariocas está de volta! Um projeto que eu tenho o prazer de realizar com meu irmão querido, Luiz Calainho. Vai ser mais uma temporada inesquecível.
UMA FRUSTRAÇÃO: Não ter investido mais em mim. Sem dúvida, a maior frustração foi não ter tido a oportunidade de estudar mais, de me formar, de investir na minha própria educação. Ter aprendido inglês, francês, ter estudado com mais profundidade… Sinto falta disso. Também gostaria de ter aproveitado mais a vida fora do trabalho: ter pego onda e praticado mais esportes. Infelizmente, desde cedo fui muito focado no trabalho. Não tinha opção. Trabalhar sempre foi a minha prioridade, e acabei deixando essas outras questões de lado. Hoje vejo o valor de tudo isso.
UM APAGÃO: Sem dúvida, a pandemia. A pandemia foi o maior apagão que eu jamais poderia imaginar. De uma hora pra outra, com mais de seis mil funcionários, várias empresas e negócios dependentes diretamente do público, tudo parou. Portas fechadas, receitas zeradas, contas a pagar e uma enorme incerteza — não só sobre o futuro dos negócios, mas também da própria vida. O medo de estar com pessoas, de voltar a conviver, de sair de casa… Tudo isso foi avassalador. Acho que esse apagão não foi só meu, foi de todos. Mas, até hoje, eu e meus sócios seguimos lutando muito para superar as marcas que esse período deixou — tanto emocionais quanto estruturais.
UMA SÍNDROME: O silêncio. Definitivamente, não gosto do silêncio. Gosto de falar — e falo muito! Gosto de conversar, trocar, ouvir e ser ouvido. Adoro estar com gente, me reunir, sair, viajar… Mas nunca para uma ilha deserta! Preciso de movimento, de vida acontecendo ao redor. O silêncio, pra mim, é quase um incômodo. Prefiro o barulho das ideias, das músicas, das conversas, da convivência.
UM MEDO: De não ter medo. Meu medo é justamente esse: não ter medo. Sou uma pessoa naturalmente destemida; isso é bom em muitos momentos, mas também pode ser perigoso. Às vezes, a coragem em excesso te leva a arriscar demais, a confiar demais, a ir além do limite sem freio. Conheço pouco o medo; talvez, por isso, mesmo, ele me assuste.
UM DEFEITO: Ouvir pouco e ter pouca paciência. Reconheço que esses dois andam juntos no meu caso. Tenho pouca paciência com enrolação, com lentidão, com falta de ação; por isso, às vezes ouço menos do que deveria. Estou sempre com a cabeça a mil, querendo resolver, fazer andar. Mas tenho trabalhado nisso. Ouvir mais é uma meta constante.
UM INSUCESSO: Tenho vários, mas o maior é a decepção. Não tenho um único insucesso. Tenho muitos: pequenos, médios, grandes. Faz parte do dia dia de quem faz, de quem se arrisca, de quem empreende. Mas, sem nenhuma dúvida, o maior insucesso, pra mim, é a decepção. A decepção com pessoas, com expectativas que não se cumprem, com relações que pareciam verdadeiras e não eram. Isso, sim, é o que mais marca. O resto, a gente supera. Mas a decepção deixa rastro.
UM IMPULSO: Ah, são muitos! Talvez, a cada 60 minutos, 60 impulsos. Sou assim: cheio de ideias, vontades e movimentos. É o impulso que me empurra pra frente.
UMA PARANOIA: O ócio: não sei lidar com ele. Às vezes penso que tenho esse traço comum com o prefeito Eduardo Paes. Parar me incomoda. Ficar sem fazer nada me tira do eixo. Eu preciso estar em movimento.