A moda do bebê reborn foi longe demais? Psicanalista comenta
A hashtag #maedereborn já ultrapassa milhões de visualizações, com mulheres cuidando de bonecos como se fossem reais


Caso ainda não tenham surgido, no seu feed, mães com seus bebês reborn, como se fossem reais, pode esperar que vêm. Principalmente no Tik Tok, a hashtag #maedereborn já ultrapassa milhões de visualizações, com mulheres adultas cuidando desses bonecos de silicone como se fossem de pele e osso.
Esta semana, por exemplo, Isabelle Rodrigues, de Curitiba, viralizou ao filmar o aniversário de 3 anos de uma das suas reborns, Martina. Que tal?
Procurado, o psicanalista Arnaldo Chuster sobre a nova, digamos, “trend” das redes: “A tendência é cada vez encontrarmos pessoas que estão perdendo a capacidade para pensar, por muitas razões, dentre elas, excesso de IA e modismos. Quando se perde a capacidade para pensar, também se perde a capacidade de sentir e de se relacionar com seres humanos. Fica mais fácil se relacionar com máquinas e coisas, que não têm emoções, não perturbam, obedecem. Estamos vivendo uma era do mimetismo, um pesadelo cognitivo no qual muita gente está mergulhando facilmente”.
Outro caso que viralizou foi o do padre Fábio de Melo, que adotou uma boneca reborn com síndrome de Down, em viagem a Orlando, nos EUA. Em visita a uma maternidade de bonecas, ele escolheu uma em homenagem à mãe, Ana Maria de Melo, morta em 2021. O bebê tem certidão de nascimento e até carimbo de passaporte.
O fenômeno dos bebês reborn começou, claro, nos EUA, há mais de 30 anos, mas a popularidade por aqui começou a crescer no início dos anos 2000, com valores elevadíssimos e trabalhos artesanais realistas impressionantes. Até aí, o público era de crianças e colecionadores; hoje, o preço varia muito: você pode encontrar modelos de R$ 150, R$ 200, R$ 500 até R$ 5 mil.
“Claro que poderia falar mais sobre isso, mas, querendo ou não, é um enorme faz de conta infantil, atuado por pessoas sem capacidade simbólica autônoma e com a imaginação muito pouco flexível para lidar com seres humanos. A atitude surrealista se caracteriza pela distorção da realidade e dos objetos, para demonstrar a realidade soberana do inconsciente”, completa Chuster.