Você tem tido tempo de pensar sobre o tempo?
Talvez uma das respostas para novas formas de se relacionar com o tempo, de uma maneira mais saudável, possa estar na sabedoria indígena e ancestral
Ao longo da história, os humanos foram criando uma série de ferramentas para organizar sua relação com o tempo. Das divisões por estações do ano, passando pelos calendários até os relógios modernos. Ainda que a percepção sobre a passagem do tempo varie entre diferentes culturas, classes sociais e outros marcadores, as leis da física sobre ele ainda se aplicam da mesma forma para todos. Pelo menos por enquanto.
Com os avanços tecnológicos, pesquisadores ensaiam novas formas de prolongar a vida humana, dos animais e das coisas. O executivo do momento, Sam Altman, criador da Open AI e do Chat GPT, está investindo em uma startup que busca ampliar a vida humana em 10 anos. Enquanto isso, um empresário americano de 45 anos está gastando milhões de dólares por ano tentando voltar no tempo — ou, pelo menos fazer com que seu corpo volte ao mesmo padrão que tinha aos 18 anos.
A curva da longevidade humana é uma ascendente constante em razão de importantes avanços científicos, mas há uma desigualdade de acesso que crescerá da mesma forma exponencial se cuidados não forem tomados. Além disso, precisamos aprender melhores maneiras de utilizarmos o tempo extra que vamos ganhar. Seja pelo incremento na produtividade prometido por tecnologias como a inteligência artificial, seja pelo aumento no número de anos a mais que poderemos viver com saúde.
Por outro lado, parece também que há um relógio em contagem regressiva sobre nossas atividades na Terra. Estamos com cada vez mais tempo de vida, mas também com uma urgência cada vez maior para resolver problemas relacionados ao clima. A natureza não vai nos esperar e isso gera até novos sintomas na sociedade, como por exemplo a ecoansiedade, descrita pela American Psychological Association como um medo crônico da destruição ambiental ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas.
Não existe crescimento nem matéria prima infinita e os impactos ambientais que geramos em nossas atividades está chegando no limite. Como então repensar a produção de maneira que atenda uma lógica mais sustentável? Muitas empresas já estão investindo em biomateriais, trabalhando para o fim da obsolescência programada de eletrônicos e explorando a criação de produtos mais duradouros. No futuro devem surgir novas matérias primas e tecnologias até então pensadas apenas na ficção científica, como a mineração de asteroides por exemplo. Essa matéria da BBC explora o caso da empresa Asteroid Mining Corporation e suas iniciativas nesse sentido.
O Festival Futuros Possíveis, da Casa Firjan, vai discutir sobre perspectivas e reinvenções do tempo em um evento 100% presencial nos dias 24 e 25 de novembro. A 6ª edição do Festival Futuros Possíveis é uma oportunidade para conhecer como esse tema permeia diversos aspectos das empresas e sociedade e seus impactos em questões como sustentabilidade, novas dinâmicas de consumo e novas formas de produzir.
Aristóteles dizia que o tempo é uma medida de mudança e o sonho de matar Chronos, descrito pelo físico italiano Guido Tonelli como o desejo de parar o tempo, ou a ilusão de poder retirá-lo do lugar central que ocupa na natureza, é um anseio antigo do homem. Especialmente no contexto eurocêntrico e permeado pelos avanços vorazes das tecnologias digitais.
Talvez uma das respostas para novas formas de se relacionar com o tempo, de uma maneira mais saudável, possa estar na sabedoria indígena e ancestral. A afrofuturista Morena Mariah explora bem esse tema em seu podcast em um episódio onde trás o conceito de “Tempo espiralar”, proposto aqui no Brasil pela escritora Leda Maria Martins. Como explicou Ana Maria Gonçalves, ao falar de tempo espiralar, esse conceito traz a ideia de que “o passado habita o presente e o futuro, o que faz com que os eventos, desprovidos de uma cronologia linear, estejam em processo de perene transformação e, concomitantemente, correlacionados”. Cabe a nós explorar essas e outras possibilidades, ouvir a natureza e a nós mesmos e aprender com as mudanças inexoráveis do tempo.