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Julia Zardo

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Inovação e Sociedade: uma conversa sobre desafios, oportunidades e impactos das práticas inovadoras na vida de todos nós
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O valor da Indústria Criativa para o Brasil

Do ponto de vista econômico, a Economia Criativa é um conjunto de áreas e segmentos dinâmicos com expressivo crescimento mundial

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Atualizado em 19 out 2022, 11h46 - Publicado em 19 out 2022, 11h31
Uma das grandes preciosidades da criatividade é o transbordamento da sua compreensão
Uma das grandes preciosidades da criatividade é o transbordamento da sua compreensão (divulgação/Divulgação)
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Existem diversas definições para criatividade nos mais variados campos de conhecimento, mas nenhuma consegue abranger todas as dimensões que o termo carrega. Na Psicologia, onde a criatividade individual foi mais estudada, não há consenso quanto ao fato da criatividade ser um atributo de pessoas ou um processo pelo qual as ideias originais são geradas.

Entendemos que a criatividade pode ser estruturada em três grandes grupos: a criatividade artística, relacionada com imaginação e a capacidade de produzir ideias originais, além de novas formas de interpretar o mundo através de palavras, som e imagens; a criatividade científica, que conecta com a curiosidade, o desejo de experimentar novas formas de fazer e resolver problemas; e a criatividade econômica, um processo dinâmico que contribui com a inovação tecnológica, práticas de negócios e marketing, muito relacionada com as vantagens competitivas nos produtos e serviços.

Uma das grandes preciosidades da criatividade, porém, é o transbordamento da sua compreensão, combinando estas formas. Com a Economia Criativa não é diferente. O conceito, que ganhou expressão e relevância a partir dos anos 2000, está em constante evolução e tem diferentes definições ao redor do mundo.

O termo Economia Criativa foi apresentado pelo britânico John Howkins no livro “Economia criativa – como ganhar dinheiro com ideias criativas‎”, mas a origem do conceito remonta à Austrália, em 1994. Naquele ano, o então primeiro-ministro Paul Keating lançou a política pública chamada “Creative Nation”. O manifesto enfatizou a importância da cultura para a identidade nacional, definiu o termo de forma mais ampla do que as concepções anteriores, incluindo cinema, rádio, bibliotecas, e destacou o potencial econômico da atividade cultural e das artes. À época, ele afirmou que a política cultural é também uma política econômica e que a cultura cria riqueza, emprego, além de, podemos acrescentar, criar diferencial para produtos, serviços, empresas e, até países.

Diversa no conceito e na economia

Do ponto de vista econômico, a Economia Criativa é um conjunto de áreas e segmentos dinâmicos com expressivo crescimento mundial, performando taxas mais elevadas do que o restante da economia, independentemente da forma de mensuração. Produtos e serviços baseados em criatividade têm alto valor agregado e, mesmo durante as últimas crises pelas quais o mundo passou, seu comércio mundial não foi afetado negativamente. A Economia Criativa promove a diversificação econômica e pode se relacionar de forma muito espontânea com inovação, com as novas tecnologias, em especial as Tecnologias de Informação e Comunicação.

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Essa afirmação é mais real e próxima do que se imagina. Podemos usar como exemplo a revolução que os bancos digitais trouxeram, principalmente no quesito experiência do usuário e serviço ao cliente, dando muito trabalho aos gigantes corporativos. Iniciativas baseadas nas abordagens relacionadas à Economia Criativa podem promover a recuperação de áreas urbanas degradadas ou mesmo o desenvolvimento de áreas rurais com herança de patrimônio cultural. Ações de sucesso desse tipo foram realizadas em cidades como Londres, Zurique, Copenhague, Estocolmo e aqui pertinho, no estado do Rio, no Vale do Café por exemplo.

Divulgado em julho deste ano, o Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil (publicação bianual da Firjan, realizada desde 2008, que traz um retrato desse setor, composto por 13 segmentos distribuídos em 4 áreas criativas: Tecnologia, Consumo, Mídias e Cultura), analisa os setores criativos com foco na ótica das empresas e do mercado de trabalho entre 2017 e 2020, e mostra uma crescente participação do PIB Criativo no PIB brasileiro. Em 2020 essa participação foi de 2,91%, o que representa um PIB criativo estimado de R$ 217,4 bilhões. Estamos falando de 935 mil profissionais criativos formalmente empregados com uma remuneração média 2,37 vezes maior que a média nacional, reforçando, além da espontânea inclinação para negócios que utilizam a criatividade como matéria prima, o quanto a criatividade é hoje valorizada no mercado de trabalho.

Uma das grandes preciosidades da criatividade é o transbordamento da sua compreensão
Uma das grandes preciosidades da criatividade é o transbordamento da sua compreensão (divulgação/Divulgação)

Porém, é importante ressaltar que os últimos dois anos – marcados pela pandemia da Covid 19 – foram especialmente delicados para uma expressiva parcela dos profissionais da Economia Criativa, principalmente os que atuam em teatros, casas de espetáculos e demais atividades que demandam público e interação. Em uma análise mais detalhada, nota-se que as duas áreas que o senso comum mais associa à Economia Criativa – Cultura (Expressões Culturais, Patrimônio e Artes, Música, Artes Cênicas) e Mídias (Editorial, Audiovisual) – foram severamente impactadas. Contudo, as outras duas áreas – Tecnologia (Biotecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento, Tecnologia da Informação e Comunicação) e Consumo (Publicidade & Marketing, Design, Arquitetura) – mostram dados positivos muito expressivos a ponto de camuflar o impacto das demais. Dentro de Consumo, Moda foi o único segmento que apresentou retração no período.

Na contramão, uma pesquisa realizada pela NZN Intelligence mostra que, ainda no período pandêmico, houve uma grande concentração de novos clientes no mercado de streaming (um aumento de aproximadamente 50%) e, buscando mais opções para seu tempo ocioso, a maioria dos consumidores desses serviços (84%) assinou mais de uma plataforma. Resultado do isolamento social e das recomendações de ficar em casa, o acesso a esse conjunto de produtos, entre eles música, filmes ou séries, foi a grande salvação para a saúde mental de boa parte da população que encontrou nessas plataformas uma forma de entretenimento.

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O que ocorre é que grande parte do que foi consumido das plataformas de streaming vem de fora, principalmente dos Estados Unidos, ou seja, a maior parte do retorno financeiro não fica no Brasil. Enquanto isso, o estoque de produção nacional chegou no limite, já que a pandemia impossibilitava a produção com o ritmo pré-Covid – o que fica claramente refletido nos números do Mapeamento.

A leitura e análise dos dados do Mapeamento é uma diretriz fundamental tanto para elaboração de políticas públicas quanto para as estratégias de negócios criativos. Olhando especificamente para o audiovisual, o setor tem uma expressiva movimentação econômica, seja de forma direta (vínculos de câmeras, produtores, diretores e tantos outros profissionais) ou indireta (prestadores de serviço de locação de equipamento, alimentação, apoio e outros), além do valor social e expressão cultural que representa.

Ações de fomento portanto são fundamentais para a continuidade desse impacto na contramão do que vem ocorrendo hoje em relação à Condecine – Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional.

Estratégias públicas e privadas que estimulem, desburocratizem e formem os novos profissionais criativos são extremamente necessárias para que sejamos protagonistas nesta cadeia. Valorizar a Economia Criativa é também valorizar a história e identidade de um território. O retorno do investimento no setor vai além do financeiro, alcançando, por exemplo, a autoestima de tantos grupos que enxergam na Economia Criativa a geração de emprego e renda, bem como a manutenção de valores, tradições, rituais e histórias.

Esta coluna é assinada em parceria com Oswaldo Gama Neto, Master em Branding pelo IED Rio, Pós-Graduando em Gestão e Geração de Valor na Nova Economia pelo HSM University, Analista da Gerência de Ambientes de Inovação na Firjan e Joana Siqueira, Pós-graduanda em Gestão de Marketing pela ESPM, Mestre em Métodos de Apoio à Decisão pela PUC-Rio e Consultora de Estudos e Pesquisas da Firjan.

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