Os negócios de moda vão se transformar muito nos próximos meses
Novas parcerias: Amazon cria loja com marcas de luxo independentes
Enfrentando uma de suas maiores crises dos últimos 75 anos, o setor de moda tem se esforçado para se unir e se organizar para promover ações beneficentes, para trocar experiências sobre a resistência de seus negócios à pandemia e buscar soluções para as vendas, que despencaram na grande maioria dos casos pelo lockdown ou isolamento social. Diante deste cenário, nos Estados Unidos, a Amazon em parceria com a revista “Vogue America” e com o CFDA (Conselho de Estilistas de Moda dos Estados Unidos) lançou uma loja eletrônica que reúne inicialmente 20 marcas criativas, independentes e de luxo.
Para tentar resgatar um dos segmentos mais afetados, o de estilistas independentes de produtos de luxo, a gigante das vendas online criou este novo veículo de comércio. A loja se chama “Common Threads: Vogue x Amazon Fashion”. Entre as marcas que estão à venda, nomes mais conhecidos como Phillip Lim e Tabitha Simons e outros mais locais como Batsheva. Com esta empreitada, eles terão acesso a uma base maior de potenciais consumidores, uma oportunidade de movimentar seu estoque, além de um parceiro de logística para as vendas online.
A parceria foi costurada pela editora todo-poderosa Anna Wintour, da “Vogue” e do grupo editorial Condé Nast, que está usando todo seu poder de influência e articulação no sentido de buscar caminhos que amorteçam os impactos da crise da Covid-19. “Embora não exista uma solução simples para nosso setor, que sofreu um abalo tão grande, esse é um passo importante”, declarou ao jornal NYT, que noticiou a novidade em primeira mão.
A aproximação entre a empresa e a moda soa como uma boa notícia. Se existe uma unanimidade em vendas online nesta pandemia, mesmo aqui no Brasil, ela se chama Amazon. Difícil conhecer alguém que não tenha comprado pelo menos uma coisa no site nesta quarentena.
O nome da loja, Common Threads, vem do programa de assistência criado pela Vogue America e pelo CFDA no mês passado, que arrecadou mais de US$ 4 milhões para distribuição em pequenas quantias a estilistas, empresas de varejo e fabricantes de roupas e se comprometeu a desenvolver um sistema de apoio à indústria da moda a fim de ajudá-lo a atravessar a crise e sobreviver. A parceria com a Amazon começou quando a empresa doou US$ 500 mil ao fundo e perguntou como poderia ser útil, além da doação. Uma pena que uma ação como este programa ainda não tenha sido organizada no Brasil, podendo auxiliar tantos talentos da moda, sobretudo os pequenos empreendedores.
A entrada da Amazon, que já é um dos maiores vendedores de roupas dos Estados Unidos, representa um respiro positivo que pode oxigenar especialmente marcas de luxo independentes ameaçadas de fechar de vez. Com isso, a ação também abre caminho para a consolidação da empresa, conhecida como “a loja que vende tudo”, no varejo eletrônico da alta moda, segmento do qual eles ainda não conseguiram se aproximar por não ser, digamos, glamouroso o suficiente para expor os produtos.
Em 2016, por exemplo, o grupo LVMH declarou que a Amazon não combinava com suas marcas de luxo e que só seria possível estar na plataforma se a empresa mudasse o modelo de negócios. A pandemia pode ser uma oportunidade, neste sentido, para a Jeff Bezoz, CEO da Amazon. Por outro lado, essa pequena aproximação iniciada na pandemia pode também ameaçar o futuro de grandes plataformas online de moda, como a Net-à-Porter, que, inclusive teve que fechar armazéns após a pandemia.
O mundo está se transformando e os negócios vão mudar bastante nos próximos meses. Que estas mudanças sejam benéficas, sobretudo, para os estilistas locais, criativos e independentes, que ainda serão capazes de oferecer a experiência única de venda em suas lojas e ateliês. Nada como conhecer uma coleção de perto e escutar do próprio estilista como usar aquela roupa, como ela foi criada, porque ela é especial em seus materiais e mão de obra e o que ela representa.
Julia Golldenzon é estilista especializada em festas e noivas. Formada em Comunicação Social pela PUC-Rio, ela trabalhou em marcas como Farm e La Estampa e, desde 2013, tem um ateliê no Leblon, que leva seu nome.