A cidade vai voltando aos poucos ao normal. Com as exceções vexatórias que vimos circular no noticiário e nas redes, grande parte dos cariocas está retomando as atividades de trabalho, rotina e lazer com consciência e devidos cuidados. A pandemia ainda é uma questão preocupante no país e não sabemos se sairemos melhores dessa, como alguns apostam. Só o futuro dirá. Mas de uma coisa não tenho dúvida, tivemos a chance de dar as mãos simbolicamente uns aos outros para fazer cada vez mais o bem, para ajudar cada vez mais gente. Voluntariado pode não resolver todos os problemas do mundo, mas se cada um fizer um pouco, juntos, como pudemos ver nesta quarentena, podemos contribuir de maneira mais efetiva.
Tudo isso para dizer que há algum tempo eu vinha sentindo necessidade de me envolver ainda mais em causas sociais que eu realmente acredito, em ajudar o próximo. De modo geral e considerando os bons exemplos, que, sim, existem aos montes, a moda já vinha discutindo as questões ambientais e de gênero de maneira cada vez mais ampla. Mas as ações sociais ainda não eram uma bandeira de todas as marcas. É claro que antes da pandemia já existiam projetos incríveis e emocionantes, como a campanha 1P5P, da Reserva, que já doou mais de 38 milhões de pratos de comida a quem tem fome.
Mas foi durante a pandemia que pude ver tantos donos de marcas e estilistas mobilizados para ajudar, ajudar e ajudar. Muitos acionaram toda sua estrutura para produzir e doar máscaras. Outros auxiliaram na organização de coletivos e cooperativas de costureiras para vender máscaras produzidas por elas, e assim gerar renda para as profissionais. Muitos doaram parte de suas vendas para entidades que prestam todo tipo de auxílio de primeira necessidade a famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade.
E o que fez estas ações serem tão diferentes das que já eram feitas antes do coronavírus? A união. A moda mostrou a força do coletivo e encontrou um caminho novo. Sem as rotinas atribuladas e corridas de antes da quarentena, pudemos abrir espaço e os olhos para entrar em contato com parceiros frequentes e outros nem tanto para pensarmos juntos qual a melhor maneira de contribuir para as pessoas que mais precisam na nossa cidade.
Foi a partir de tudo isso, que um grupo de estilistas e designers, do qual faço parte ao lado de Cecilia Correia (Marju), Manu Bragança (Totta), Valentina F Leta (Fingers), Roberta e Maria Claudia Palhares (IdBags), se juntou e criou o projeto AMARras. A união de marcas, que estreita laços e aproxima pessoas, com o único propósito de criar uma rede solidária de fé, amor, afeto e vida. A primeira ação, que lançamos nesta terça-feira, é a venda de medalhas com palavras de esperança, que terão 100% do lucro revertido para a instituição Solar Meninos de Luz. Outro projeto carioca foi criado pela stylist Mimi Coelho e pela agência NaBossa e se chama Com Paixão, com o intuito de gerar renda extra para artesãs locais que, como muitos da indústria da moda, estão sofrendo as consequências econômicas da Covid-19. Todas as peças são produzidas por artesãs do Balangandã Feito à Mão e vendidas a um preço fixo, sendo 50% do valor doado para as profissionais que produziram os colares. Nada como a força e a potência de tantas mulheres juntas para transformar pequenas coisas, como um acessório, em algo especial.
Não vamos fingir que nós, da moda, não temos urgência em retomar a saúde financeira dos nossos negócios. Claro, precisamos produzir, vender e criar. Precisamos manter nossas marcas, manter nossas equipes e se possível gerar emprego em breve. Mas agora, mais do que nunca, precisamos ajudar a achatar a curva – para usar uma expressão tão presente nos últimos tempos – da desigualdade. Fazer o bem está na moda no melhor dos sentido. Que seja um caminho sem volta para todos nós.