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Ike Cruz

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Redes sociais dispersam talentos promissores

Grande parte da nova geração está invertendo prioridades essenciais e apostando mais nos posts do que investindo na própria carreira

Por Ike Cruz
12 mar 2020, 16h45
 (Banco de imagem/Divulgação)
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– Me falaram que o ideal é postar entre 19h e 21h pois é o período com maior alcance e visibilidade! 

Ainda me ajeitava na cadeira para uma reunião sobre a carreira de uma nova atriz, quando ela disparou essa frase. 

A reação que me ocorreu num primeiro momento foi perguntar, mas você já fez o quê?  Filmou onde ? Tomou cafezinho no SET com quem ? 

A pessoa está tão verde quanto crua, engatinhando na carreira, mas o que a preocupa mesmo é o horário ideal para um post? Juro que tem vezes que acho que acordei morando em Marte.

Muitos aspirantes a uma carreira de sucesso, esperam uma chance na TV ou no cinema.  Mas são raros os que dedicam tempo a se preparar para isso. Apostam nos milagres do acaso.

Por outro lado, são vistos no dia a dia, de forma implacável, nas timelines da vida digital. Haja conteúdo, narcisismo e tamanha criatividade, não ?  

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E o que dizer daquele ator que leva o celular pra dentro estúdio apenas pra acessar o Instagram ? 

Com o desenvolvimento das redes sociais em todos os setores, observo apreensivo, a atenção e o espaço desmedido que elas vêm obtendo de artistas, atletas e diversos profissionais. Especialmente os mais jovens, vitimas mais vulneráveis desse universo.

Ao contrário do que o público imagina, a grande maioria dos atores não ganha rios de dinheiro, sobretudo nos dias de hoje, quando os gordos e longos contratos da TV se tornaram raridade. 

Aliás, não sei como alguém ainda se surpreende quando lê que um ex-ídolo da TV está trabalhando na UBER, vendendo quentinha ou combo de salgado com Guaravita. Ser ou ter sido publicamente conhecido numa determinada fase da vida não é sinônimo de riqueza e muito menos de independência financeira. 

Poderia citar dezenas de artistas que um dia foram famosos e sumiram do mapa da mesma forma como surgiram. Justamente por acreditarem apenas no aqui e agora. 

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Glória Perez certa vez me disse que o mal do jovem ator é acreditar que ele próprio é o motivo genuíno do sucesso, quando na verdade é a personagem e a forma como o ator a desempenha que de fato arrebatam o público. 

Sem as boas remunerações e com a publicidade tradicional abalada, as redes sociais passaram a ser o meio para gerar uma receita adicional (no caso de algumas influenciadoras, o próprio sustento). Até aí nada demais, o momento é oportuno e sabendo tirar proveito, tudo certo . 

Nesse início de carreira, como a grana ainda não supre as aspirações megalômanas e a pressa das conquistas parece uma epidemia (olha aí as redes sociais atuando…), os posts, os números de seguidores e de likes se tornam o sopro de esperança para aquele carro zero ou um apezinho transado, uma vez que grande parte dos anúncios migraram para as redes sociais.

Aí surge o dilema. 

O jovem deve se concentrar nos estudos e na preparação artística ou tentar gerar posts para atrair marcas, seguidores e empresas? Parece óbvio mas na prática não é. 

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O que deixa tudo isso ainda mais delicado é que normalmente o próprio artista é que fica incumbido de gerar o seu conteúdo. O que isso significa ?

Bom, supondo que cada pessoa tivesse acesso irrestrito a substancias farmacêuticas e que fosse permitido que cada um criasse o seu próprio remédio se automedicando, o que acham que aconteceria ? Pois é… a internet fez isso e as redes sociais estão expondo as consequências. 

Talvez o leitor ache antiquado, mas fui criado com uma educação baseada em prioridades, consistência e realização. 

Mesmo agora, anos depois e com toda minha experiência profissional, continuo acreditando fielmente nisso.  

Um profissional em formação, que fraciona seu tempo com muitas atividades que não sejam relacionadas a sua preparação, dificilmente será bem sucedido e chegará a grandes realizações. 

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Evidente que há exceções, mas confiar que seu futuro pode estar em se inscrever no BBB achando que será uma nova Grazi Massafera é jogar um tanto com a sorte, não? (vale reforçar que além da sorte e do carisma, a atriz estudou muito para ser creditada e se posicionar onde está hoje). 

Fica difícil de entender e acreditar, no real objetivo profissional, com tamanho dispêndio de tempo, “criatividade” e energia, tentando elaborar fotos, stories, legendas (quase sempre prolixas e sofríveis), quando poderiam estar sendo empregados em atividades de estudo e preparação. 

Como bem diz meu amigo Marcos Motta, grande advogado e palestrante, “a distração é inimiga da intuição ”.

Hoje em dia, alguns atores já bem posicionados artística e financeiramente até contratam empresas ou pessoas pra gerenciar suas redes sociais. Seja por falta de tempo (normalmente por estarem exercendo a profissão de ator), por cuidado com a imagem ou por ambos os casos. 

Se o objetivo primário é a profissão, todo vigor deve estar voltado para isso, pois todo restante é consequência desse êxito. Uma carreira consolidada e respeitada também atrairá muita publicidade. 

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Salvo os raros casos que talvez ganhem pilhas de dinheiro e com sorte conquistem sua independência financeira através do Instagram, a maioria tem grandes chances de se frustrar não conquistando nem uma coisa e nem outra. 

Acredito que a ambição nobre está em se doar de verdade para a profissão, seja ela qual for. O restante é bônus. 

Atualmente, artistas consagrados também possuem Facebook, Instagram, etc… mas duvido que confiariam a isso sua fonte de renda e realização profissional. 

Agora peço atenção ao leitor. Não estou aqui vociferando contra as redes sociais, afinal também possuo uma. O que cada um precisa se perguntar olhando para o espelho (e não pra uma selfie)é : “como quero ser visto e, principalmente, como quero ser lembrado?”

 Em tempo: 

Denzel Washington em uma recente entrevista para um canal de TV disparou:
Branding(marca) para um ator deve ser :  

O que você realmente fez de bom?  E não quantos likes você recebe…

É isso. 

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