Na mais recente edição deste ano do “Encontro com a prevenção”, que realizamos mensalmente na Med Rio Check-up, com transmissão ao vivo pelas redes sociais, abordamos o assunto “Espiritualidade faz bem ao corpo e à alma”, com a participação do padre, professor e doutor Aníbal Gil Lopes. A espiritualidade se tornou um tema relevante tendo em vista o medo e a insegurança que tomou conta de boa parte da população, especialmente depois da pandemia. A fé, sem necessariamente seguir uma religião, responde e suporta as questões que angustiam ou preocupam os indivíduos. Hoje, alguns dos mais importantes centros médicos no mundo já consideram o fator espiritualidade em seus estudos e pesquisas.

Segundo Aníbal, antes de mais nada é preciso entender e diferenciar os conceitos de “estar doente” e “estar saudável”. Para ele, não são conceitos diretamente relacionados ao estado físico. “A saúde é um conjunto muito maior que uma doença, um grupo de células doentes ou um órgão que funciona mal”, definiu. O professor frisou o erro de tratar uma doença descontextualizada do indivíduo. “Trata-se a doença, mas não o doente”, afirmou.

Essa desassociação de doente e doença pode ter origem em algo mais grave: a identidade do paciente, o que dá unicidade ao indivíduo, o que faz com que ele se reconheça como pessoa. “Vivemos em sociedade que estimula o encontro consigo próprio por meio externo, enquanto eu a jornada mais difícil é encontrar-se consigo próprio por uma fonte interior”, resumiu.

O professor fez questão de distinguir espiritualidade de questões religiosas ou de crença. “Quem não se encontra em si não é capaz de se encontrar com o outro e muito menos, em outra perspectiva, encontrar-se com o absoluto, com Deus. O grande desafio da espiritualidade é entrarmos em nós próprios, nos descobrirmos e nos deslumbrarmos com a gente, nos amarmos e nos querermos bem”, explicou.

Segundo Aníbal, o que nos faz pessoas é a capacidade de comunicação, troca das nossas células: dar e receber. Ele faz essa ressalva porque o sistema do organismo humano é capaz de perceber, integrar e dar respostas, formar juízos e tomar decisões. A espiritualidade, portanto, precisa ser baseada no encontro consigo próprio e na percepção que ninguém vive isolado. O professor frisa que reconhecer-se parte de um grupo impõe o entendimento que ninguém tem autonomia absoluta, vivendo marcado profundamente pela sociedade e pela cultura, representado pelos amigos e familiares. Do ponto de vista global, portanto, ter saúde é ter tal equilíbrio com tudo aquilo que nos envolve, capaz de dar e receber dentro da perspectiva de morte (todas as células, quando se originam, já estão marcadas para o mecanismo de autodestruição). A finitude, portanto, se torna um dos conceitos mais difíceis de serem aceitos pelos indivíduos.

Para o professor, é comum que quando alguém pensa em doença a associe a perdas e limitações. No entanto, é fundamental não perder de vista o caráter da infinitude de cada pessoa, aquela que ultrapassa o tempo de vida das células, por exemplo. “Uma doença não é má por si só, ela é um processo, de ganhos e perdas, de muitos aprendizados”, afirmou Aníbal. “Saúde é muito mais do que não ter dores físicas ou células doentes, saúde é ter encontrado uma unicidade em si próprio, do indivíduo com o meio, com o outro e, para os que tem fé, com Deus”. O professor complementa que espiritualidade não é algo que está fora, alheio, que pode ser comprado ou adquirido. “Espiritualidade é, acima de tudo, entrar em si próprio, se descobrir, ter a humildade de aceitar que há algo extraordinariamente maior, ser parte da cultura e da sociedade”, concluiu.

De acordo com Aníbal, quando se pensa em espiritualidade, deixa-se a dimensão carnal, do físico, para compreender a vida de modo muito mais abrangente, onde a verdadeira saúde está ao alcance de todos, independente das condições físicas. “Quem entende que existe algo a mais, que é parte de um todo maior do que o universo concreto, certamente terá uma dinâmica de vida e aquilo que o espírito pode causar de maior: a felicidade e a alegria”, concluiu o professor.

Complementando a espiritualidade, sabemos que outros hábitos são pilares de uma vida longeva: alimentação saudável, atividade física, gerenciamento estresse e do bem-estar, sono reparador e evitar o uso de substâncias, como tabaco ou álcool, bem como a realização de check-ups periódicos. Estilo de vida saudável é o melhor aliado na prevenção de doenças. Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.

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