Praça Mauá
Praça Mauá, Praça feia, malfalada… Os versos da canção de Billy Blanco do início dos anos 60 não fazem mais jus à praça, que sofreu uma bem-sucedida plástica. Vale a visita. Sem o horror da Perimetral, caminha-se livremente até a Baía de Guanabara em meio aos canteiros verdes, com o Museu do Amanhã quase terminado […]

Praça Mauá,
Praça feia, malfalada…
Os versos da canção de Billy Blanco do início dos anos 60 não fazem mais jus à praça, que sofreu uma bem-sucedida plástica.
Vale a visita.
Sem o horror da Perimetral, caminha-se livremente até a Baía de Guanabara em meio aos canteiros verdes, com o Museu do Amanhã quase terminado ao fundo e o MAR ao lado; e torce-se pela recuperação do imponente, e ainda abandonado, prédio da Rádio Nacional. Seria a glória.
Eike tinha planos de restaurá-lo, mas faliu antes do feito. Espero que o mesmo não aconteça com as empresas envolvidas na remodelação.
O Centro, enterrado por tantas décadas debaixo do monstruoso viaduto, volta a fazer sentido, com a Rio Branco cruzando a cidade de mar a mar.
Descobri os novos prazeres da região há vinte dias, na missa de sete anos da morte do meu pai, realizada num Mosteiro de São Bento tinindo de novo. A família deixou a igreja e saiu em carreata para conhecer as obras recém-inauguradas, os túneis e os mergulhões que permitem a livre circulação pela Zona Portuária, da Praça Mauá até a Francisco Bicalho.
Minha mãe, no banco do carona, foi descrevendo os prédios e ruas em que circulou na juventude: a Rádio Nacional, a TV Tupi, o casario da Saúde e da Gamboa; enquanto o neto, no banco de trás, admirava os bairros desconhecidos por mim, mãe dele, graças ao progresso urbanístico equivocado.
No sábado seguinte, voltei com a prole para ver a ArtRio e, no domingo, as três gerações bateram ponto na efervescente Fábrica Bhering, com ateliês, galerias, lojas e concertos de violino ocupando o imenso espaço no Santo Cristo.
Há seis anos, agradeci ao prefeito Eduardo Paes pela implosão daquela passarela pavorosa erguida na divisa entre Ipanema e Leblon. Agora, repito o gesto por algo bem mais significativo. Nos meus 50 anos, eu jamais havia transitado por aquela área, nem sequer entendido o labirinto de ruas que cruzei e recruzei nesses dois últimos fins de semana.
Em meio a tantas notícias funestas e previsões de um futuro negro para o Brasil, a reviravolta do Centro serve de alento. Recomendo a visita como antídoto à depressão, à sensação de que só se caminha para trás. Algo de concreto foi feito ali. No breve período de bonança, aproveitou-se a janela de oportunidade para agir com bom-senso e inteligência. Num país acostumado com promessas de campanha que nunca são cumpridas, parece até milagre.
Ouvi críticas a respeito da mistura entre gestão pública e negócio privado empregada na reforma do Centro. Eu não sei quais serão as consequências futuras desse modelo. Mas é preciso reconhecer, independentemente das convicções político-partidárias, que houve um avanço significativo no coração da cidade.
Eduardo Paes vai deixar saudade.