Marcas e patentes
Um amigo me deu a notícia: eu possuo um Facebook ativo, com fotos minhas e dos meus filhos, alimentado diariamente e seguido por muitos amigos, fãs e conhecidos. Tudo lindo, se fosse eu. Acessei a página e dei com comentários que mais lembravam uma versão grosseira e equivocada da Vani, de Os Normais, do que […]
Um amigo me deu a notícia: eu possuo um Facebook ativo, com fotos minhas e dos meus filhos, alimentado diariamente e seguido por muitos amigos, fãs e conhecidos. Tudo lindo, se fosse eu.
Acessei a página e dei com comentários que mais lembravam uma versão grosseira e equivocada da Vani, de Os Normais, do que eu mesma. Frases como “durmam com seus consolos, danadinhos” ou “sejam felizes, no buraco que lhes agradam! Haha” dominam os posts. Fiquei com vergonha de alguém pensar que aquilo pudesse ter saído de mim.
Sem querer me juntar aos mais de 9 000 inscritos, pedi a meu colega que informasse aos desavisados que eles se dirigiam à Fernanda errada, mas o alerta foi apagado pouco depois de postado. O autor não parece disposto a largar o osso.
Na busca, descobri outros dois perfis fraudulentos, um com cerca de 7 000 seguidores, além de um blog. Pasmei.
O conteúdo das páginas é de uma mediocridade ímpar, mas não deixa de ser amistoso, o que não as torna menos condenáveis. Fazer-se passar por outro é um crime grave, previsto em lei.
Por coincidência, na mesma semana em que tomei conhecimento do embuste, o Registro de Marcas e Patentes me concedeu o direito sobre o nome Fernanda Torres.
Quem insistir correrá o risco de ter de se explicar na Justiça.
A internet é uma terra de ninguém onde reina o anonimato. Eu me comunico por e-mail. Nunca fui afeita a sites de relacionamento que me põem em contato com milhares de pessoas que não conheço. Sou antiga, gosto de saber com quem estou falando.
Temo ofender o criador da fraude e ganhar, com isso, um inimigo. Uma pessoa que adota uma identidade que não lhe pertence pode ser movida pela admiração ou pelo ódio. É de dar arrepios. A cibervingança acontece sempre à revelia da vítima.
Não é possível controlar os avanços da ciência. A tecnologia que viabilizou a rede foi mais rápida do que os métodos para evitar abusos. Na vida real, pensa-se vinte vezes antes de assinar um cheque, um documento, ou mesmo uma ata em nome de terceiros. No mundo virtual, isso não parece grave. Mas é.
A punição pelo uso indevido de imagem precisa avançar.
É a única maneira de barrar os malucos que se sentem protegidos pela impessoalidade dos bytes. Acionei um advogado que já está rastreando o IP dos computadores das falsas Fernandas. Meus clones receberão, em breve, uma notificação.
Luciano Huck, mestre no assunto, me passou o nome de um especialista que checa a internet atrás dos falsos Hucks. No caso dele, a situação é ainda mais séria. Muitas vezes, os impostores pedem dinheiro em troca de uma aparição no programa.
Mais do que abrir processos, Huck me aconselhou a entrar em contato com o próprio Facebook. O gigante tem uma assessoria que ajuda as pessoas de vida pública a se livrarem do mal. Descobri que o melhor antídoto é abrir uma página oficial para onde os navegadores incautos são automaticamente encaminhados.
Eu estava errada em pensar que o afastamento me protegeria desse tipo de confusão. Marcar presença é a única maneira de me transformar num ser palpável em um reino onde impera a pirataria.
Fica o conselho para os que pretendem manter a própria persona: registrem seu nome e finquem sua bandeira virtual. Não há como evitar.
O mar não está para peixe.
P.S.: as obras do viaduto do Joá ficaram prontas.
Agradeço o esforço. Acabou a paranoia da minha rotina de trânsito até o Projac.