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Fernanda Torres: “Ninguém merece outra geração de canarinhos chorões”

Na crônica da semana em VEJA RIO, a atriz escreve sobre as surpresas e os dramas da Copa do Mundo 2018

Por Redação VEJA RIO Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 jun 2018, 16h55 - Publicado em 29 jun 2018, 16h48
(Isabelle Barreto/Veja Rio)

Já não se perde mais em Copa como antigamente. Se me lembro bem, os jogos da primeira fase costumavam ser um passeio para os graúdos. É claro que existiram eliminações sumárias, como a da Espanha em 2014, mas, em geral, as seleções tradicionais despachavam as equipes pernas de pau para casa sem maiores sofrimentos. O desespero só começava no mata-mata das oitavas. Sufoco era exceção.

A Copa ferrolho da Rússia marca o levante dos coadjuvantes. A Argentina humilhada pela Croácia, a Alemanha de joelhos diante do México, a Suíça revelação. O Brasil só se livrou do 0 a 0 com a Costa Rica aos 46 do segundo tempo, e até o goleiro cineasta da Islândia defendeu um pênalti do Messi. Cheguei a cogitar uma final entre México e Islândia, mas passou.

Escrevo na noite de domingo, depois das goleadas da Bélgica na Tunísia, da Inglaterra sobre o Panamá e da Colômbia na Polônia. Voltamos aos conformes. Na quarta, temo a truculência dos sérvios, que entrarão em campo dispostos a quebrar os ossinhos magros do nosso escrete.

Não sou fanática por futebol. Gosto, mas não sou fanática. Este início de Copa, no entanto, me pegou de jeito, acho que tenho queda por azarões. Acordo cedo e emendo os jogos. No trabalho, assisto pelo celular. Vou das 7 da manhã às 5 da tarde, depois encaro as mesas-redondas.

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Num final de noite besta, eu me apeguei a uma roda com o Casagrande. Adoro o Casa. Era um cenário horroroso, rosa, mal iluminado, com a Praça Vermelha ao fundo. Passei horas lobotomizada, ouvindo os marmanjos discutir o VAR. Casagrande acredita que o árbitro de vídeo vai acabar com o romantismo do futebol, os outros acharam exagero. O bate-boca se estendeu comigo ali, amortizada.

Na madrugada da vitória do Brasil contra a Costa Rica, gastei o tempo que não tinha com uma gente agressiva, ditando regras no mesmo cenário tétrico.

A mesa elegeu o Neymar para pele. E tome crítica às lágrimas do Neymar, ao cabelo do Neymar, às firulas do Neymar, aos tuítes do Neymar, ao temperamento do Neymar. Falou-se mal, mas tão mal do craque que eu acabei perdoando o topete à Trump da estreia, a fita, o destempero, o individualismo e os dribles sem direção.

Minto, o pranto para as câmeras no gramado deveria ter rolado no vestiário. Thiago Silva, cujo descontrole durante os pênaltis deu o tom da seleção de Felipão, disse que aconselhou o colega a botar para fora. Alguém tem de dar um corte no Thiago, ninguém merece outra geração de canarinhos chorões.

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Gosto de mesa-redonda, das opiniões-enceradeira, que rodam, rodam e não chegam a lugar nenhum. Lamento que as desta Copa estejam tão fracas. A pobreza de opiniões só agrava o meu estado vegetativo.

Parei de ler, de escrever, abstraí do mundo. A morfina futebolística me afasta da eleição de outubro, da tortura do Trump com as criancinhas latinas, do lobby do agrotóxico no Congresso Nacional, da fuzilaria dos helicópteros e do estudante baleado por um caveirão na Maré.

É escapismo, eu sei, alívio momentâneo para a dureza da vida. Atire a primeira pedra quem nunca se alienou.

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