Amor (e música) de Carnaval
Ocupar os espaços públicos é a maneira mais pacífica de resistir ao conservadorismo e ao retrocesso.

Tem coisa mais gostosa do que viver um amor de Carnaval? Uma paixão fulminante que nasce no meio da folia e apesar de, muitas vezes, durar apenas “um bloco”, torna-se inesquecível. Que clichê horroroso mas o que seria da nossa vida sem os clichês horrrorosos…e sem o Carnaval?
Gosto da folia momesca desde pequenina. Tenho fotos engraçadas (e medonhas) desta época. À medida que fui crescendo e entendendo a importância da maior festa popular do mundo e, pasmem, no momento que compreendi que a “rua é nóiz” (Salve, Emicida!), que Dionisio era um deus político e que catarse coletiva é mola propulsora da vida, me entreguei completamente ao Carnaval – sim, com maiúscula – e tornei-me uma pessoa mais empática e amorosa.
Meu bloco preferido é aquele onde meus amigos estão e “Evoé Momo”, meus amigos não fazem parte daquela turma insatisfeita que acha que o melhor bloco é sempre o que não se está. No último final de semana, me entreguei às marchinhas e às releituras ritmadas pela percussão. Como é lindo saber que a cidade é nossa. Que o Crivella passará e nós passarinho. Ver milhares de cidadãos se divertindo apesar desta corja jurídica, política e midiática me fez voltar a acreditar no amor.
Mas eu me propus – como o título desta coluna indica – a falar também de música de Carnaval, né? Meu bloco não tem corda então todos os amigos são bem vindos. Lucas Santtana, que já deu as caras por aqui, é baiano e como todo bom músico nascido em Salvador, traz o Carnaval no sangue. O cantor e compositor aproveitou o clima festivo e lançou esta semana o single Amor de Carnaval, que homenageia paixões vividas nesta época. Ouvir a música é fazer uma saudosa retrospectiva afetiva e fica impossível não se emocionar.
Quem também chegou esta semana pra engrossar o repertório carnavalesco foram as duas mais importantes e representativas bandas da atualidade: Nação Zumbi e BaianaSystem. O encontro entre os dois grupos, tantas vezes imaginado pelos fãs, era uma vontade antiga dos músicos e esta parceria chega em clima de celebração espiritual com Alfazema. A faixa evoca o tão lembrado aroma da lavanda, conhecido por quem já viu o desfile do Afoxé Filhos de Gandhy e popularizado nos carnavais de rua de antigamente. Os carnavais da Bahia e de Pernambuco estão ligados por frevos e tambores. Por lembranças e histórias, cheiros e memórias. Das ruas e dos becos, das festas de Santo e das festas de Largo. Das caminhadas e dos carnavais. O cenário é sempre repleto de energia e intensidade. “Alfazema” chega como uma oferenda, que agradece mas que também expressa proteção.

Por fim, quem também aproveitou a época mais purpurinada do ano pra lançar seu novo single foi a cantora Márcia Castro. Em Desce Bum, a artista nos convida a mexer o corpo sem vergonha. Aliás, vergonha é uma palavra que não pode mais fazer parte do vocabulário das mulheres quando falamos em corpo. Não há nada mais demodê do que vergonha do próprio corpo. Nem há nada mais libertador do que aceitar o próprio corpo.
Que todos nós tenhamos uma folia libertadora. Tudo indica que 2018 será um ano difícil. Aproveitemos, mais do que nunca, cada minuto do nosso Carnaval lembrando sempre que: ocupar os espaços públicos é a maneira mais pacífica de resistir ao conservadorismo e ao retrocesso. Brindemos!!
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Emicida – Pantera Negra

Aprendi a gostar de rap com Evandro Fióti, empresário e irmão de Emicida. Há seis ou sete anos, meu conhecimento sobre o gênero era parco. Os anos foram passando, o rap tornou-se o gênero mais ouvido do mundo, Emicida é um dos mais importantes e representativos artistas do gênero no Brasil, Fióti é referência em empreendedorismo e a Laboratório Fantasma – uma espécie de coletivo artístico que promove música e moda de um jeito ainda pouco usual: com representatividade – um dos maiores núcleos artístico e criativo da arte independente.
Mesmo hoje, artista consagrado, Emicida ainda é alvo de narrativas distorcidas. Consciente do lugar que alcançou, o artista costuma responder aos ataques levianos com arte como aconteceu esta semana ao lançar o clipe Pantera Negra. Aficionado por quadrinhos desde criança, o rapper homenageia um de seus heróis preferido. Na letra da música, a história de Emicida se cruza com a do personagem homônimo, o primeiro super-herói negro a virar filme pela Marvel Studios que estreia em breve no Brasil.
O clipe tem direção de Fred Ouro Preto, que também esteve à frente do vídeo de “Triunfo” e do DVD “10 Anos de Triunfo”, gravado no ano passado com lançamento previsto para este semestre.
No mais, como Emicida mesmo diz: levanta e anda.
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Por motivo de “festa momesca”, esta coluna dá uma pausa na próxima semana e volta a ocupar este espaço dia 21 de fevereiro.
No mais, #usecamisinha.