Meu mundo caiu – Outros países na coleção do Mian
Em recorte inédito, exposição traz coleção do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, considerada a maior do mundo, de volta ao Cosme Velho
Há cerca de quatro anos, venho realizando ações que visam garantir a permanência da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) – fechado em 2016 por falta de recursos – no Brasil. Chegando a somar 6 mil peças, o acervo reunido ao longo da vida pelo joalheiro francês Lucien Finkelstein (1931-2008) é considerado a maior coleção de arte naïf do mundo.
Em 2019, montamos nas cavalariças do Parque Lage a exposição-manifesto Arte Naïf – Nenhum museu a menos, com record de visitação. Agora, em 2023, inauguramos o projeto Arte nas Estações, que levou 270 obras da coleção do Mian a três cidades do interior de Minas Gerais, em mostras temáticas itinerantes com um vasto programa educativo, que mobilizou o público de toda aquela região. No ano que vem, o projeto se estenderá a outros estados, incluindo Mato Grosso e Espírito Santo, sempre privilegiando regiões fora do eixo Rio-São Paulo.
Neste terceiro ato, apresentamos a coletiva Meu mundo caiu – Outros países na coleção do Mian que, desde o dia 11 de setembro, marca o retorno de parte deste importante acervo ao bairro do Cosme Velho, onde o antigo museu fundado por Lucien teve a sua sede. Dentre as cerca de 4 mil obras que atualmente compõem o conjunto administrado com apreço pela museóloga Jacqueline Finkelstein, foram escolhidas 120 pinturas de 38 países relevantes para o discurso da geopolítica mundial no ocidente, sobretudo no século 20.
A mostra curada por Ulisses Carrilho reúne obras que retratam cenas de protestos e insubordinação, mas também do gozo com a vida em territórios como o Afeganistão, Haiti, Iraque, Polônia, África do Sul, Vietnã e Cuba, entre outros. De acordo com o curador, países que “contribuíram para a ideia de um mundo caído, em frangalhos, despedaçado: mas pronto a ser refeito e deformado, a partir de perspectivas mais generosas da arte, do direito à imaginação e dos direitos humanos”.
Os trabalhos são exibidos por aproximação temática ao longo das cinco salas expositivas da Z42 Arte, casarão de arquitetura eclética dos anos 1930, que foi sede da embaixada da Jordânia no Brasil e residência do embaixador do Japão.
Se as obras formam a primeira camada visual da exposição, as paredes da Z42 também contribuem para a construção de novas narrativas através da pintura expandida criada por Rafael Alonso, artista convidado a interferir no espaço expositivo. Ao escapar da ideia de cubo branco, a intervenção contraria a neutralidade dos museus criando um ambiente imersivo, questionador e irônico.
Essa etapa do projeto só foi possível a partir do patrocínio master da Ortobom que, entendendo a relevância da causa, nos apoiou com verba direta sem uso de lei de incentivo. Contamos, ainda, com o patrocínio da Rádio JB FM e apoio do empresário e colecionador Luís Paulo Montenegro.
Convido os leitores e leitoras para visitarem Meu mundo caiu, até 11 de novembro, e se surpreenderem com a qualidade da produção, a riqueza de técnicas e a diversidade poética de artistas autodidatas de regiões tão díspares que, de ingênuos, nada têm. É programa pra encantar pessoas de qualquer idade, posso garantir.
Em tempo: acaba de ser lançada no metaverso a coletiva Sofrência, primeira exposição de arte naïf brasileira a ser disponibilizada digitalmente para espectadores do mundo todo. A mostra, também parte do Arte nas Estações, esteve em cartaz em Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, entre fevereiro e o início de setembro desse ano. O tour virtual é realizado através da plataforma de inteligência artificial Spatial, em que o visitante elege seu avatar e circula por todas as salas da exposição originalmente montada em Ouro Preto, tendo acesso à trilha sonora da cantora Marília Mendonça, aos textos de parede e à vista da bela cidade colonial.