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Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural
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Despina

Organização independente dedicada ao ativismo cultural gera, há quase uma década, condições de trabalho para artistas trans, não binárias e racializadas

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Atualizado em 20 jun 2022, 17h47 - Publicado em 20 jun 2022, 17h29

Dando continuidade ao projeto de gerar visibilidade para espaços independentes de arte e experimentação que fazem a diferença na cena carioca, marquei uma conversa com Consuelo Bassanesi, diretora artística da Despina, uma organização cultural independente, criada em 2013, dedicada à arte contemporânea e ao ativismo cultural.

Abrindo nosso papo, ela conta que Despina é uma das cidades imaginadas por Ítalo Calvino na obra “As Cidades Invisíveis”, publicada em 1972. No livro, o autor italiano descreve um território que se apresenta de formas diferentes para quem chega por terra ou por mar, sugerindo uma reflexão sobre a contradição e a dualidade do espírito humano, e a diversidade de perspectivas que um único objeto pode proporcionar.

Comprometida com o desenvolvimento de plataformas de pesquisa, produção e intercâmbio nos campos da arte e do ativismo cultural, a organização – que atualmente ocupa um sobrado na Rua Hermenegildo de Barros, na Glória – realiza programas de residência artística, oficinas, cursos, exposições e conversas públicas, entre outras ações. Por lá já passaram artistas brasileiros que hoje despontam na cena (internacional, inclusive), como Agrippina R. Manhattan, Ana Lira, Diambe, Lyz Parayzo, Rafael Bqueer, Tadáskía e Vinicius Pinto Rosa, bem como residentes de mais 20 países.

De acordo com Consuelo, ampliar o acesso à arte contemporânea, fomentando a participação e visibilidade de pessoas historicamente marginalizadas é o foco da Despina: “Desenvolvemos nosso trabalho na intersecção entre arte e ativismos, sem reconhecer fronteiras entre um e outro, a partir do viés do feminismo interseccional, antirracista e trans inclusivo. E à margem de grandes patrocinadores e hierarquias paralisantes, num espaço institucional de liberdades, coletividade e autonomia. Desde o início de nossas atividades, evidenciamos a disposição de trabalhar com narrativas e corpas invisibilizadas, criando projetos plurais, transdisciplinares e ativamente formadores nos campos das artes e do ativismo estético-político”, afirma a diretora.

Para Bassanesi, a desigualdade radical de acesso à infraestrutura que permite a locomoção, a ocupação de espaços e a inserção no campo da arte provoca um abismo de invisibilidade sobre narrativas que partem de corpos historicamente subalternizados: “Este processo de apagamento e silenciamento produz, mais do que uma dívida social, uma lacuna na produção cultural e intelectual contemporânea. É nosso legado investir em práticas artísticas que desestabilizam este sistema desigual e constituem redes de afeto, suporte e fortalecimento como estratégias de resistência e democratização”.

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Em nove anos de atividades, a Despina desenvolveu diversos projetos buscando oferecer condições espaciais, materiais, logísticas e profissionais para que artistas pertencentes a grupos minoritários – priorizando pessoas trans, não binárias, afrodescendentes e mulheres – tivessem acesso a condições de trabalho e de visibilidade para desenvolver suas pesquisas artísticas. Segundo a diretora, estes projetos são desenvolvidos “com” e “por” esta comunidade (e não para ela).

Desde 2020, a Despina é também responsável pela concepção e gestão de Compa – Arquivo das Mulheres, o primeiro arquivo digital brasileiro colaborativo dedicado às memórias, lutas e micropolíticas das mulheres e do movimento feminista no país.

O arquivo se propõe a mapear, resgatar e disponibilizar publicamente coleções e acervos de camisetas, zines, bandeiras, lambes, cancioneiros, poesia, manifestos e demais objetos e registros que documentem e elaborem transdisciplinarmente as narrativas e lutas em curso.

“Os materiais incluídos neste arquivo procuram recuperar e conservar a memória das lutas das mulheres na resistência. Servem também de registro para nossos esforços coletivos rumo à construção de alternativas para superar as estruturas sociais, políticas e econômicas opressoras vigentes”, reflete Consuelo.

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Entre os projetos mais recentes da Despina, a diretora cita Zum Zum Auê, um programa de residências de seis semanas, com bolsa de participação e verba de produção, desenhado para suporte e autorrepresentação de coletivos do Rio de Janeiro formados por pessoas LGBTQIA+, afrodescendentes, indígenas e mulheres.

Outro projeto destacado é Podemos ser mais do que imaginamos ser, que ofereceu apoio financeiro e acompanhamento artístico para o desenvolvimento de performances criadas por jovens artistas cariocas. Os trabalhos foram registrados em vídeo e vêm sendo exibidos em mostra itinerante, em diferentes regiões da cidade ao longo deste mês de junho.

Perguntada sobre a sustentabilidade da instituição, já considerada longeva para os padrões brasileiros, Bassanesi responde que busca a materialização de uma sede própria para dar seguimento ao trabalho da Despina e ampliar o acesso de artistas brasileiros e internacionais ao programa de residências e projetos, pulverizando colaborações anteriores bem-sucedidas com entidades e fundos internacionais como British Council, Goethe Institut, Prince Claus Fund e outras organizações de apoio à cultura e à produção artística.

** Se você dirige ou integra um espaço independente de arte e experimentação, entre em contato com a coluna. Talvez possamos divulgá-lo aqui: fabio.vejario@gmail.com.

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