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Psiquiatra infantil
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O excesso de cobrança dos alunos na volta às aulas pós-pandemia

Depois de passarem dois anos em casa, crianças e adolescentes se queixam com frequência de excesso de exigências por parte dos professores

Por Fabio Barbirato
20 jul 2022, 17h30

A queixa tem sido recorrente nos consultórios: crianças e adolescentes reclamam da cobrança demasiada das escolas neste ano letivo de 2022. Depois de passarem quase dois anos em casa, com aulas suspensas ou online, a volta às aulas presenciais teria sido retomada no mesmo ritmo em que eram dadas antes da pandemia. Se foi necessário algum tempo para que os jovens se acostumassem às aulas online, o mesmo tempo não seria necessário na retomada das aulas presenciais? 

Alunos reclama da falta de habilidade de alguns professores de estarem cobrando atenção, empenho e resultado de forma exagerada. A queixa não é infundada. Olhando em retrospectiva, as crianças passaram dois anos isoladas, tendo aulas por meio de telas, sem interagirem com colegas, contando com a ajuda dos pais, fazendo provas e testes de forma improvisada, como foi possível graças a internet.

Quando as aulas retornaram ao formato híbrido, em 2021, muitas escolas optaram por manter um sistema de avaliação dos alunos mais maleável, sem tanta exigência. O que se vê agora, em 2022, é que as escolas voltaram ao nível de cobrança de antes da pandemia. Adolescentes, então na faixa de 14 anos, passaram dois anos em casa e agora são confrontados com ritmo de estudos e de cobrança pré-vestibular.

“Do oito ao oitenta”, é como muitos pais definem como os filhos estão enfrentando a vida escolar durante e depois da fase aguda da pandemia. As notas escolares deste primeiro semestre refletiriam esse descompasso: crianças que tiravam notas altas nas provas online agora, nas provas presenciais, estariam indo mal. Mudou o sistema de cobrança, mudou o aluno ou teriam mudado os dois? 

Alguns podem julgar, apressadamente, que se trata de fato irrelevante e que as crianças devem mesmo ser cobradas de forma rígida, como outrora. No entanto, pesquisas constatam o quanto crianças e jovens foram impactados em sua saúde mental pela pandemia.

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Recente pesquisa da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo constatou que sete em cada dez alunos da rede pública relataram níveis altos de sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia de Covid-19. Dos 642 mil alunos ouvidos, 440 mil relataram sequelas na saúde mental, ou seja, 69% do total. Uma verdadeira pandemia de saúde mental: 33% dos alunos tem dificuldades de concentração, 18% se sentem exaustos ou pressionados e outros 18% perdem o sono por causa de preocupações.

O momento requer cuidado e atenção. Crianças e jovens não são um grupo homogêneo. Se a pandemia não foi vivida por todos os jovens da mesma forma, a vida depois dela também não deve ser entendida como algo estanque. Generalizações não são saudáveis em nenhum caso, muito menos quando se trata do bem estar de menores.

Se muitos adultos procuraram apoio psicológico durante a pandemia, entre adolescentes não foi diferente. Todos devem ser acompanhados respeitando suas individualidades e lidando com as sequelas que tanto tempo longe da escola presencial ainda podem estar se apresentando em seu comportamento. Pais e professores devem ter paciência e entendimento na hora de cobrar. Alunos precisam entender que o tempo passou e que precisam se dedicar um pouco mais do que seria normal. Respeito é a palavra-chave neste momento. 

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós-Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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