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Psiquiatra infantil
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Jovens com transtornos mentais: onde mora o seu preconceito?

Episódio em porta de escola mostrou que adolescentes são rapidamente rotulados de “malucos” ou “doentes”, um retrato do preconceito

Por Fabio Barbirato
18 Maio 2022, 18h44

Circulou em redes sociais e entre grupos de pais no WhatsApp o vídeo de um rapaz – supostamente munido de uma faca – ameaçando bater em outro, na porta de uma escola de elite do Rio. As imagens mostram o jovem acuado, cercado pelos demais adolescentes, às risadas e gritos de excitação com a confusão formada.

Antes de buscarem entender o que estava acontecendo, o vídeo correu como um rastilho de pólvora, cheio de julgamentos dos pais, preocupados com seus próprios filhos. “Maluco” e “doente” foram alguns dos termos empregados para defini-lo. Para ser tachado com qualquer desses rótulos, o jovem precisaria ter passado por uma série de exames e avaliado por profissionais, o que não foi o caso. Portanto, trata-se apenas de preconceito. Um termo chegou a ser cunhado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para designar tal comportamento: “psicofobia”, ou seja, preconceito contra pessoas que sofrem transtornos ou doenças mentais.

Claro que não é um comportamento natural um jovem ameaçar outro com uma faca. Mas o vídeo sequer mostra a arma branca – mais uma fake news, para usar um termo corrente nos dias de hoje – e não deixa claro o que o motivou a ameaçar outra pessoa. Seria ele vítima de bullying? No dia a dia de sala de aula, qual o comportamento daqueles jovens que estão rindo no vídeo? É de cooperação e amizade? Ou de coação e humilhação? Não sabemos.

Além disso, ao se apressarem a chamá-lo de “maluco”, os pais sequer se dão conta do quanto de preconceito e desinformação suas falas estão impregnadas. Talvez seu espanto tenha origem no fato de que o episódio de violência não ocorreu em alguma escola do subúrbio ou nos rincões do Brasil mas, ao contrário, se deu na escola de elite, onde os pais julgam que seus filhos estão protegidos e cercados por seus “pares” (o que quer que isso signifique…).

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Mas a realidade é que muitos jovens estão enfrentando algum tipo de transtorno psiquiátrico hoje, especialmente depois da pandemia de Covid-19. Pesquisa recente da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo constatou que sete em cada dez alunos da rede pública relataram níveis altos de sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia de Covid-19. Dos 642 mil alunos ouvidos, 440 mil relataram sequelas na saúde mental, ou seja, 69% do total. Uma verdadeira pandemia de saúde mental entre os jovens.

Nos últimos anos, a sociedade brasileira tem caminhado no sentido de aumentar o respeito por grupos minoritários. Por que não estender esse sentimento para quem tem algum transtorno mental? Portanto, antes de se apressarem a rotular de forma depreciativa quem quer que seja, os jovens, mas principalmente os adultos, devem repensar na força das suas palavras e mais: no tipo de exemplo que estão dando aos próprios filhos. Um pouco de respeito e empatia não fariam mal.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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