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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

“A Geração Ansiosa”: porque o livro do momento faz tanto sucesso?

Obra tem causado enorme procura nas livrarias por tratar de um tema de interesse crescente

Por Fabio Barbirato
30 jul 2024, 11h36
Criança loira vestida de vermelho segura um celular nas mãos.
Crianças e celular: Haidt propõe proibição absoluta, mas sugestão é polêmica. (Freepik/Reprodução)
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Um livro tem causado enorme furor entre os pais neste momento: “A Geração Ansiosa”, do americano Jonathan Haidt. O autor é professor na Stern School of Business, na New York University (NYU) e tem doutorado em Psicologia Social pela Universidade da Pensilvânia.

A obra explora como a infância hiperconectada em aparelhos digitais – como celulares e tablets –, sem a supervisão de responsáveis, está causando o que o autor chama de uma “epidemia” de transtornos mentais. Recentemente, o jornal Folha de São Paulo se debruçou sobre os dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) dos SUS referentes aos anos de 2013 a 2023. O número de pacientes entre 10 e 14 anos com transtorno de ansiedade é de 125,8 a cada 100 mil. Já entre os adolescentes, esse número alcança a marca de 157 a cada 100 mil.

Haidt desenha um verdadeiro quadro de crise do que entendemos por séculos como infância e adolescência. Com a infindável oferta de conteúdo e atrações online, as crianças acabam por se desconectar do que realmente é capaz de forjar seu caminho rumo à vida adulta saudável: a relação interpessoal, o contato com a natureza e as “boas e velhas” brincadeiras, que formaram dezenas de gerações, e que agora parecem relegados a segundo plano em detrimento das telas.

“O que aconteceu é o que eu chamo de ‘grande reprogramação da infância’. Em 2010, os adolescentes tinham um telefone apenas para fazer ligações, se encontravam mais com outras crianças e se divertiam mais. Mas em 2015, tudo mudou. Eles trocaram o telefone celular comum por um smartphone com câmera e internet. E as crianças passaram a ter uma infância no celular com efeitos na vida social e no desenvolvimento cognitivo”, afirma o autor.

Haidt faz propostas radicais na busca por uma infância mais saudável na era digital: jovens até 16 anos não teriam acesso às redes sociais, alunos até o nono escolar não teriam acesso a smartphones, ampliação da independência concedida às crianças, permitindo-as brincar sem supervisão e aumentando sua responsabilidade no mundo real. Por fim, Haidt propõe a proibição de celulares nas dependências das escolas.

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De todas as suas ideias, esta última parece mais perto da realidade. Diversos países já estão criando legislação que restringe, ou até mesmo proíbe, o uso de celulares nas escolas. Na Flórida, por exemplo, a experiência já mostrou trazer melhores resultados acadêmicos aos alunos e diminuição dos casos de bullying. Estados como o Rio de Janeiro já adotaram medidas semelhantes, embora não tão radicais: o uso de celulares está condicionado a determinadas situações que não prejudiquem o aprendizado e a sociabilidade.

“Quando seu filho é pequeno e você quer um pouco de sossego, acaba dando ao seu filho um telefone ou um tablet. Agora, vemos as consequências disso. Uma geração que está muito mais ansiosa e deprimida. Com mais casos de automutilação e suicídios”, sentencia Haidt.

No entanto, as ideias de Haidt soam como um contrassenso à realidade do mundo contemporâneo. Celulares fazem parte das nossas vidas, em maior ou menor medida. Até as pessoas mais resistentes a eles já se renderam. A geração que está nas escolas hoje é nativa digital, se comunica, estuda, brinca, se informa e interage pelos celulares. Negar isso é uma luta inglória e inútil contra a realidade. É preciso bom senso e disciplina para se dosar mais esse elemento na fase mais importante da vida das crianças e adolescentes para que os celulares não se tornem “ladrões” de novas oportunidades ou experiências de quem está apenas começando a vida.

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Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

 

 

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