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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Sem ídolo, clube viraria uma foto na parede

Fulminada nas redes, saída de joia tricolor reaquece debate sobre retenção de talentos, indispensável ao cacife simbólico e econômico do futebol

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Atualizado em 17 mar 2022, 20h07 - Publicado em 16 mar 2022, 11h55

Todo negócio persegue uma lealdade além da razão. Por influência dos laços primários na formação do torcedor, clubes de futebol a alcançam sem muito esforço. Talvez por isso vários continuem relapsos em cultivá-la, e grande parte ainda se entregue a compradores como um náufrago diante do resgate.

O capital simbólico guia relações e decisões de mercado, assinalam especialistas como Everardo Rocha, autor de “A sociedade do sonho: comunicação, cultura e consumo”. A fidelidade a uma marca corresponde aos benefícios tangíveis e intangíveis percebidos, à identificação com significados e valores que a singularizam.

O vínculo se aprofunda à medida que a relação de consumo contempla demandas funcionais, morais, emocionais. À medida que alimenta filiações materiais e imateriais, impulsionada por eixos conotativos.

No percurso até o coração e a mente do torcedor, o ídolo é um atalho certeiro. Não só porque representa gol, vitória, sucesso. Mas pela ponte ao encantador, ao extraordinário, à transcendência.

O ídolo desfila significados pelos quais é construída a tal lealdade além da razão. Sua força conotativa o diferencia do craque, cuja maestria produz pinturas, títulos, não necessariamente inscrições no imaginário e na alma do torcedor.

Dos talentos revelados ano a ano, milhares mal florescem nos próprios quintais. Fragilidades financeiras e administrativas o distanciam de consumarem em casa o potencial esportivo e econômico.

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Alguns virariam ídolos. Fora os ganhos competitivos, moveriam comportamentos, desejos, paixões.

A caminho do Betis, o atacante Luiz Henrique integra-se às exportações prematuras. Noticiada às vésperas de uma decisão na Libertadores, a venda de R$ 70 milhões revoltou fatia enorme da torcida.

Nos bares, esquinas, escritórios, tricolores se negavam a acreditar na saída da joia de 21 anos, logo depois de terem se extasiado com um gol de Pelé. Inadiável, justificou o presidente do Flu sob o frigir das redes.

Supostamente alinhadas a governança e responsabilidade fiscal, decisões executivas frequentemente não se configuram populares. Muitos clubes renomados trocam (barato) preciosidades pela quitação de despesas operacionais. Uma necessidade perpetuada por fraquezas econômicas e deslizes gerenciais igualmente crônicos.

Retenção de talentos nunca foi, nunca será fácil. Ainda assim, a complexidade do desafio não torna menos indispensável o amadurecimento de soluções para conter a sangria.

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A urgência não está depende de uma migração para sociedade anônima, e sim a uma visão estratégica ancorada no instinto de sobrevivência. Se lhe escapam a prata caseira e os ídolos, nenhum clube se mantém verdadeiramente grande – nos gramados, nos cofres, na memória.

Sem esses ingredientes, o clube torna-se pouco a pouco sua sombra. Transforma-se, como diria Drummond, em foto na parede. Uma doída foto na parede.

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física.

 

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