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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
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“SAF deveria beneficiar toda a indústria do futebol brasileiro”

O consultor esportivo e professor da PUC-Rio Luiz Leo propõe a adoção compulsória do modelo de Sociedade Anônima como uma estratégia setorial

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Atualizado em 2 Maio 2023, 12h11 - Publicado em 2 Maio 2023, 11h58

Nem os videntes já cravariam a sorte das Sociedades Anônimas emergentes no futebol brasileiro. Ainda é cedo para avistar uma sincronia entre os interesses de clubes, atraídos por uma salvação às finanças agonizantes; compradores, de olho no potencial lucro; e torcedores, ansiosos por títulos. Assim ponderam analistas como o consultor esportivo e professor da PUC-Rio Luiz Leo, autor do artigo “Futebol-empresa: o capitalismo chegou, afinal, no futebol brasileiro” (Revista Eptic), em parceria com o professor da UFRJ Marcos Dantas.

Ele acredita que as SAFs se consolidem por aqui no longo prazo. “Mas precisam ser implantadas como uma estratégia setorial, de maneira a beneficiar toda a indústria nacional do futebol. Isso geraria mais renda, emprego e divisas ao país”, sugere Leo, em entrevista ao programa Resenha de Primeira, comandado pelo jornalista Christian Baeta. O papo é parcialmente reproduzido abaixo:

Que balanço já se pode fazer das SAFs no país?

Ainda é cedo para avaliarmos precisamente. Vários aspectos e valores contratuais continuam desconhecidos, temos só especulações. E os principais efeitos da SAF vêm no longo prazo.

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O torcedor, em geral, não tem tanta paciência…

Verdade, quer legitimamente ver a SAF logo convertida em grandes times e conquistas. Isso leva tempo, a partir de uma combinação recíproca entre saúde financeira e competitividade.

É o ambicionado, e difícil, círculo virtuoso: mais investimento, mais competitividade, mais receita…

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Exato. O circulo virtuoso exige responsabilidade financeira e fiscal, governança. Requer um padrão empresarial que supostamente a SAF ajuda a amadurecer, na esteira dos avanços profissionais e administrativos derivados das Leis Zico (8.672/1993) e Pelé (9.615/1998).

Seria questão de tempo a adoção desse modelo pela maioria dos grandes clubes nacionais, como fizeram Botafogo, Vasco, Cruzeiro, Bahia, entre outros?

Acredito que sim. O modelo deveria ser implantado de forma compulsória, nos termos da lei, para beneficiar toda a indústria do futebol brasileiro e a nossa economia. Geraria mais renda, emprego, divisas. Isso ainda esbarra nas dificuldades de convergência setorial. Elas se refletem, por exemplo, nos impasses em torno da sonhada Liga nacional. Sem a filosofia ganha-ganha, como adotada nas franquias americanas, o setor não explora seu grande potencial econômico.

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Por falar em convergência, o sucesso das SAFs depende também da conciliação entre os interesses econômicos do comprador e os interesses esportivos do clube e de seus torcedores, não?

Sem dúvida. Nem sempre esses interesses coincidem na mesma época. O torcedor tem, compreensivelmente, um olhar imediatista. É o dono simbólico do patrimônio pelo qual devota uma paixão incondicional. Quer obter logo o retorno esportivo. Já o comprador vê na aquisição do clube uma oportunidade de negócios. Busca o lucro, o que envolve muitos aspectos além da montagem de um bom time, como a ampliação das fontes de receita.

Muitos dos compradores têm mais de um clube, como John Textor, dono do Botafogo, do Crystal Palace (Inglaterra), do Lyon (França) e do RWD Molenbeek (Bélgica); e Ronaldo Nazário, que adquiriu o espanhol Valladolid, em 2018, e o Cruzeiro, em 2021. Clubes brasileiros perigam ficar subalternos nessas holdings?

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Cada caso reúne suas especificidades. Nosso mercado do futebol sofre com as fragilidades da economia brasileira no mundo globalizado. Por outro lado, todas essas operações em clubes nacionais buscam o sucesso financeiro, fundamental para o sucesso esportivo. Nenhum desses investidores entra para perder. Mas, como eu disse, só com o tempo e o conhecimento de determinados aspectos contratuais, podemos fazer um balanço preciso sobre as SAFs no país.

A maioria dos clubes nacionais que adotam ou cogitam adotar a SAF busca uma salvação para dívidas enormes, acumuladas por décadas de irresponsabilidade fiscal e financeira. O pires na mão tem desencadeado vendas precipitadas ou relativamente baratas?

Sem saber os valores precisos de cada negócio, não há como avaliar adequadamente. Clubes com debilidade financeira têm, é lógico, menos poder de barganha. Mas isso não significa que se precipitam ou fazem mau negócio. Claro que uma mudança desse porte precisa ser muito bem planejada e executada, para render vantagens a todos os envolvidos: clube, investidor, torcedor, patrocinador e, eu insisto, a toda indústria do futebol brasileiro. A SAF representa uma oportunidade de o setor progredir.

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Até que ponto o clube, ao se constituir empresa ou Sociedade Anônima, corre o risco de quebrar?

Bem, o risco, teoricamente, sempre existe nesse modelo. Mas ele se torna remoto quando a migração para a SAF é bem pensada e conduzida, de maneira profissional, alinhando os parâmetros empresariais e a governança às particularidades estruturais, socioculturais e simbólicas de cada clube. Até por isso, reforço, o modelo deveria ser implantado como uma política setorial.

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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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