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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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Por que nem o VAR livra o apito de uma prolongada berlinda

Nocivas à paciência do torcedor e à credibilidade do espetáculo, barbeiragens aproximam a realidade do caricato juiz satirizado no filme "Boleiros"

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31 out 2024, 10h37
Juiz de futebol
 (Pixabay - Dmitry Abramov/Reprodução)
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O zero a zero persiste, aflige o homem de preto. O tempo encolhe, o suor frio aumenta. Cartolas o fuzilam com olhos impacientes. Cobram a vitória comprada.

Nenhum trambique funciona. Nenhuma artimanha supera a perebice. A peleja caminha pro fim, nada de gol. Hora do pênalti maroto.

Assim o cineasta Ugo Giorgette retrata, no irreverente “Boleiros” (1998), o clichê do juiz ladrão. Só os ingênuos acreditam que o VAR irá limitá-lo ao imaginário ou à ficção.

Dele não escapou, sábado agora, o renomado Flávio Rodrigues. A experiência não impediu que marcasse dois pênaltis inexistentes, a favor dos anfitriões, no duelo entre Vitória e Fluminense.

O primeiro equívoco foi corrigido pela turma do vídeo. Intervenção certeira, embora inadequada: a cabine não deve meter a colher em cumbucas interpretativas.

Já a segundo falha, quase nos acréscimos, adulterou o resultado. “Achei que, com o VAR, esses pênaltis mandrakes de fim de jogo acabariam”, ironizou o técnico Mano Menezes, na coletiva depois da partida. (Fez alusão a Mandrake, famoso ilusionista dos quadrinhos.)

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Seria injusto responsabilizar exclusivamente o apito pelo insucesso do time carioca na capital baiana, reconhecem os torcedores angustiados com a decadência do campeão sul-americano. Isso não arrefece a indignação quanto às marcações incorretas. Estranhamente incorretas, acrescentariam os desconfiados.

O Maracanã testemunhou, na mesma tarde, outro pênalti madrake. Quando Flamengo e Juventude empacavam no 1 a 1, Bráulio Machado confundiu com falta uma trombada normal sobre o meia Gerson. Abria-se a porteira da goleada rubro-negra (4 a 2).

Diante das evidências, e das críticas internet afora, a CBF afastou Bráulio, Flávio e mais cinco colegas mal avaliados na rodada do fim de semana. Aplicou-lhes o velho gancho.

O afastamento temporário equivaleria a um lenço de papel escalado contra uma virose recorrente. Constitui um paliativo, uma satisfação aos descontentes, não propriamente um antídoto à moléstia crônica.

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Erros crassos, sistemáticos, corroem a paciência e, sobretudo, a confiança indispensável a qualquer relação, inclusive a de consumo. Despertam teorias da conspiração. Acentuam suspeitas de interferências políticas e econômicas sobre o mérito esportivo. O ascendente mercado das apostas online acirra as especulações.

Para o ex-árbitro da CBF e comentarista Marcelo Pinto, as deficiências renitentes decorrem, em grande parte, de uma “politicagem refletida na escalação dos profissionais” e de um declínio técnico comparável ao dos jogadores:

“Há 20 anos, tínhamos Kaká, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Adriano, alguns dos melhores do mundo. Na seleção atual, quantos desses nós temos? A arbitragem reunia Oscar Roberto de Godoi, Carlos Eugenio Simon, Marcio Rezende de Freitas, Antonio Pereira da Silva, Sidrack Marinho, Sálvio Espíndola. O nível era bem superior ao dos árbitros brasileiros hoje na Fifa”, opina.

A solução, sugere o especialista, implicaria tornar a arbitragem autônoma, “sem vínculos com clubes, federações, confederações”. Exigiria ainda, completa Marcelo, o amadurecimento do VAR: “uma excelente ferramenta”, porém várias vezes mal aplicada.

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A urgência em erradicar manobras nocivas à credibilidade e à qualidade do espetáculo esbarra na mentalidade patrimonialista perpetuada desde tempos coloniais. Mentalidade refletida na ancestral resistência dos clubes a se unirem em torno de interesses comuns, acima de conveniências e ambições particulares.

Enquanto se prendem ao umbigo, a realidade ronda o caricato personagem vivido por Otávio Augusto no filme de Giorgette. Um emblemático clichê.

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Altinha na telona

Por falar em filme, o novo Cine Joia (Av. Nossa Sra. de Copacabana, 680) exibe, nesta quinta (31), o delicioso “Bola pro alto”. Premiado no festival CineEsporte, o documentário pode ser visto em duas sessões especiais: às 19h (com legendas de acessibilidade), seguida de bate-papo sobre o valor educacional da altinha; e às 20h30.

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A bilheteria será destinada à difusão do longa no exterior e no Brasil. Dirigido por Cecília Lang, “Bola por alto” é finalista numa mostra competitiva do 42º Festival Internacional de Cinema, Esporte e TV – FICTS, de 4 a 9 de novembro, em Milão.

Guiada pela altinha, a narrativa de 70 minutos expõe nossa cultura praiana. A aquarela de imagens e falas simbólicas salga o mergulho no histórico pacto entre as areias cariocas e a gandaia corporal.

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Eternidade

Arthur Moreira Lima nos lega, entre tantas preciosidades, uma versão celestial para o hino do Fluminense que ele tanto amava. A melodia já é uma pintura. Embalada pelos dedos poéticos do genial pianista, vira covardia. Reforça a vocação também do hino tricolor à eternidade, diria Nelson Rodrigues.

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Sotaque carioca

O Asics House na Pista ganhará o Rio nos dois próximos fins de semana. Corredores testarão tênis da marca, por duas horas, e receberão serviços como hidratação (especialmente bem-vinda na primavera vestida de verão).

A iniciativa itinerante reproduz o apoio aos esportistas montado no Parque Bruno Covas, em São Paulo. Ficará no Aterro do Flamengo dias 2 e 3 de novembro, das 6h às 12h. Já nos dias 9 e 10, aportará na Lagoa Rodrigo de Freitas.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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