Esquinas do Esporte Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
Continua após publicidade

Para banir o machismo, futebol precisa vencer a complacência

Divórcio de padrões masculinos permeáveis à violência exige que condescendência crônica e cumplicidade corporativista se rendam à consciência humanitária

Por Alexandre_Carauta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 mar 2024, 17h45 - Publicado em 4 mar 2024, 11h02
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A condenação de Daniel Alves por estupro emana uma profunda densidade simbólica. Representa uma resposta tanto às violências contra a mulher, relativizadas pelo machismo estrutural, quanto à tradição do futebol em legitimá-las.

    Publicidade

    Fora as indignações retóricas, fora as reações isoladas e superficiais, como retirá-lo da lista oficial de ídolos do Barcelona, a indústria esportiva manteve-se inerte. Emblematicamente inerte.

    Publicidade

    O silêncio ultrapassa a cumplicidade corporativista. Expressa o elo do universo futebolístico com padrões masculinos hegemônicos, historicamente carregados de discriminação e brutalidade.

    O mundo da bola ajuda a fixá-los. Uma alfabetização perpetuada despretensiosamente nos campinhos e nas relações entre boleiros. Assim comprovam pesquisadores como Arley Damo e Adriana Braga.

    Publicidade

    Futebol é para homem, adverte logo o pai ou ou o irmão mais velho. Mal o guri rala o joelho na terra ou recebe um safanão desleal, reforça-se a lição. Desde cedo a peladinha da esquina o ensina a engolir a dor. Sem perceber, engole o coração inteiro.

    Continua após a publicidade

    Ritos futebolísticos doutrinam: homem não chora, não cai, não deixa de revidar, nem de se impor à força. O manual da masculinidade protocolar costuma prevalecer sobre os valores olímpicos da empatia, da equidade, da inclusão.

    Publicidade

    Brincando, brincando, o moleque aprende a jogar e a virar homem. Enquadra-se na identidade sociocultural masculina, nos seus clichês materiais e imateriais, nos significados e códigos calejados em reprimir gentilezas.

    Muitas vezes convergem, com vergonhosa banalidade, para o desrespeito, a opressão física e verbal. Desembocam em indecências como os abusos sexuais sistematicamente perpetrados contra mulheres e meninas: um a cada oito minutos, contabiliza o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

    Publicidade

    Romper o entrelace do futebol com tal partitura revela-se tão difícil quanto necessário. Requer o investimento em educação e o amadurecimento humanitário inerentes às transformações ou revoluções atrás da harmonia coletiva. Nunca é fácil, nem rápido.

    Continua após a publicidade

    O desafio impõe um engajamento plural. Exige uma adesão ampla dos profissionais da área, especialmente os de maior projeção, peso político, influência social.

    Publicidade

    Corporativismo e complacência hão de se render à consciência cívica, à cidadania. Começa por reconhecer a urgência em fazê-lo.

    Todo artista deve viver de olhos abertos, pregava o pintor argentino Antonio Berni (1905-1981). A recomendação estende-se, é claro, aos artistas da pelota.

    ___________

    Continua após a publicidade

    Desafios da cobertura esportiva

    Por falar em engajamento, o ABI Esporte estreia a segunda temporada nesta segunda, às 19h30, no canal da Associação Brasileira de Imprensa no YouTube. Comandado pelo presidente do Conselho Deliberativo da ABI, Marcos Gomes, o programa semanal discute os rumos, dilemas, aperfeiçoamentos da cobertura esportiva.

    Os debates abordam temas como a contribuição jornalística para reduzir o racismo e outros preconceitos manifestados nos ambientes esportivos. Com produção de Silvia Serra e participação de Jamile Barreto e Paulinho Sacramento, o ABI Esporte reúne também informações sobre qualificação e oportunidades profissionais.

    ____________

    Continua após a publicidade

    Maré solidária

    A tabela entre esporte e responsabilidade social navega em várias frentes. O Rainha do Mar deste ano, por exemplo, já encaminhou 518 unidades de leite em pó ao Pro Criança Cardíaca.

    A doação integra as campanhas solidárias promovidas nos eventos da Effect Sport, como o festival aquático. Em 2023, 1.500 unidades de leite foram repassadas à organização sem fins lucrativos.

    Criado em 1996 e instalado em Botafogo, o Pro Criança Cardíaca presta serviços pediátricos gratuitos integrados a ações sociais. Acumula 15 mil atendimentos a crianças e adolescentes pobres.

    Continua após a publicidade

    Ana Marcela Cunha, ouro na maratona aquática dos Jogos de Tóquio, faturou o Rainha do Mar 2024. A disputa reuniu mais de mil competidoras, dia 25 de fevereiro, na praia de Copacabana.

    ___________

    Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.