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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Palpitações cariocas no mata-mata reverberam loucuras do futebol

Da gangorra emocional alvinegra aos desvarios num vagão tricolor em fuga dos pênaltis, uma crônica da paixão à qual se entrega o torcedor

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Atualizado em 29 ago 2024, 14h33 - Publicado em 26 ago 2024, 10h21
Torcedores do Botafogo comemorando na arquibancada
Torcedores do Botafogo comemoram a classificação para as quartas de final da Libertadores (Vitor Silva/Botafogo./Reprodução)
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Dizem que dá azar. Os supersticiosos rechaçam. Mas é preciso falar: ninguém anda jogando como o Botafogo.

Torcedores seguravam a onda até a goleada sobre os rubro-negros e a forra sobre o Palmeiras desatarem o entusiasmo represado desde que o título nacional escorrera pelos dedos. O ano não será igual ao que passou, proclamam envaidecidos, com o descarrego de quem espanta olho gordo e o sorriso de quem avista a redenção.

Nem o mais escaldado botafoguense contém a empolgação diante de um time envolvente, competitivo, sólido. O brilho ascendente cauteriza as feridas do trauma que se apaga no retrovisor.

O escrete de Artur Jorge alcança a cobiçada comunhão entre consistência defensiva e ofensiva, entre vigor, organização, impetuosidade. Até rivais reconhecem o mérito ancorado na engenhosidade do treinador, habilidoso em orquestrar talentos, e no elenco harmônico, condizente aos milhões aportados pela SAF com pinta de mecenato sob a regência de John Textor.

Em qualquer outro esporte, poderíamos cravar sem exagero: título é questão de tempo. O futebol, sabemos, adora ludibriar a lógica, a justiça, as favas contadas.

Assim lembrou a reta final eletrizante no duelo de vida ou morte contra os palmeirenses, quarta passada. A espinha insinuava congelar sob o espectro do déjà vu. Mais uma vitória decisiva ensaiava arredar do bolso. “De novo, não!”, afligiam-se alvinegros em todos os cantos. Suplicavam piedade aos céus.

Só os deuses da bola, e seus caprichos sarcásticos, aprontam tamanha gangorra emocional. Só a massacrante Alemanha dos 7 a 1 e o Santos de Pelé engatariam três gols meteóricos depois dos 40. Que botafoguense não cogitou exilar-se no Alasca durante os derradeiros e intermináveis minutos?

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“Quando empataram, eu não quis ver mais nada. Aí soube que o terceiro gol deles tinha sido anulado. Então decidi voltar a ver. Mas a agonia ainda não havia acabado. Foi só ligar de novo a tevê para deparar com a falta perigosa no último segundo. Felizmente a trave estava do nosso lado”, desabafa o feirante na manhã seguinte.

Consumado o avanço na Liberta, baixar a adrenalina beira o impossível naquela noite. Até zen-budista custaria a pregar os olhos.

Tricolores também suam, na véspera, para ninar a frequência cardíaca exponenciada pela crueldade dos pênaltis. Maracanã à flor da pele. Reza, mandinga, figa, fuga.

Alguns debandam como se corressem de lavas vulcânicas, antes que o apito confirmasse a tensão máxima das penalidades. Enquanto aguardam o metrô, um murmúrio ecoado da arquibancada denuncia a cobrança desperdiçada por Ganso. “Eu sabia, por isso saí batido”, precipita-se um rapaz. “Estava na cara”, concorda o sujeito ao lado.

O pressentimento do luto cala os ânimos, as prosas, as esperanças. Um silêncio sufocante instala-se no vagão. O vazio perdura até o jovem grudado no celular anunciar: “Se o Arias marcar, a gente se classifica”. Segundos duram uma eternidade. Ufa!

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O comboio do medo vira trem da euforia. A moça esquece os óculos e arrisca um peixinho. Refeita do rompante, manda mensagem pro amigo deixado no estádio.

“Não sou desertora. Simplesmente o coração não aguenta mais. Pênaltis não são futebol. São outra coisa”, justifica. Alguém discorda?

Os abraços propagam-se com a força contagiante dos que comemoram o fim de uma guerra. Todos no vagão parecem velhos amigos. Por pouco o alto-falante não os congratula, em vez de devolvê-los à realidade da estação iminente.

Um casal sentado no canto acompanha perplexo o delírio. É possível ler a mente dos namorados: Como esses extraterrestres pararam aqui? Que azar…

Em meio aos cantos de alívio e celebração, um gaiato confessa o que muitos, talvez todos ali, à exceção do casal, já martelaram jocosamente no peito: “Ganhamos porque eu não vi. Sério”. Alguém duvida?

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Do ioiô de emoções alvinegro ao metrô tricolor carregado de mística, as palpitações do mata-mata reverberam a alma boleira. Nem na décima dimensão escaparíamos de seus prosaicos desvarios, suas liturgias fantasiosas, seus enredos mágicos. A menos que reinventassem o futebol, o universo, o ser humano.

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Escalada gringa, renovação doméstica

As classificações sofridas de Botafogo, Fluminense e Flamengo às quartas de final da Libertadores revelam outro ponto em comum: o protagonismo estrangeiro. A coincidência retrata o crescimento dos sul-americanos por aqui, turbinado com a grana das SAFs e de patrocínios robustos.

Savarino arrebatou a festa alvinegra na capital paulista. O venezuelano deu o primeiro gol de bandeja para Igor Jesus e fez o segundo.

O colombiano Jhon Arias, baita achado do Fluminense, comandou a vitória sobre um Grêmio no qual se destaca o venezuelano Soteldo, ensaboado inferno das defesas adversárias. Arias joga demais.

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Fiel à tradição argentina de bons goleiros, Rossi impediu que um desfalcado e recuado Flamengo acabasse eliminado pelo esforçado Bolivar na altitude de La Paz. Recebeu a ajuda do uruguaio De la Cruz, motor do time. O conterrâneo Arrascaeta, mesmo atormentado por lesões, continua estrela da companhia.

À ascensão gringa, soma-se a reciclagem doméstica oxigenada por virtuoses como os endiabrados Luiz Henrique e Estêvão e o versátil Gerson, merecidamente chamados à seleção. (O técnico Dorival Jr. acerta ao valorizar nosso quintal.)

Cá entre nós, o experiente PH Ganso também está comendo a bola. Ressuscitado por Fernando Diniz, o meia clássico compensa a baixa intensidade e as limitações físicas com inteligência, habilidade e elegância incomuns. Infelizmente, deixamos de fabricar maestros dessa linhagem.

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Histórias Olímpicas, e muitas outras, na telona

Três episódios da série Histórias Olímpicas, do Redação Sportv, serão exibidos no CineEsporte – Festival de Cinema de Esportes.  A sessão está marcada para a próxima segunda, 2 de setembro, às 20h30, no Cinesystem Botafogo (Praia de Botafogo, 316), com entrada franca. O público poderá conversar com a equipe do programa depois da exibição.

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A produção seriada aborda passagens marcantes dos Jogos Olímpicos, como as relacionadas à luta contra o racismo, aos avanços na representatividade de atletas LGBTQIA+ e ao progresso das mulheres na batalha por igualdade de gênero. O festival inclui mostras competitivas de longas e curtas internacionais, debates e homenagens a atletas históricos. A programação inclui mostras competitivas festival pode ser consultada em www.cineesporte.com.

Com sessões gratuitas também no CCBB (Rua Primeiro de Março, 66, Centro) e no Ponto Cine (Estrada de Camboatá, 2.300, Guadalupe), a sexta edição do CineEsporte reúne 40 produções nacionais e estrangeiras até a terça que vem, 3 de setembro, quando será exibido, às 20h30, no Cinesystem Botafogo, “Mulheres à cesta“. Dirigido por Silvia Spolidoro e Hellen Suque, o longa brasileiro conta a história de jogadoras de basquete nas décadas de 1960 e 1970. O grupo foi decisivo à inclusão da modalidade nas Olimpíadas.

Jogadoras na quadra de basquete
(Divulgação/Reprodução)

Não menos representativa é a homenagem à extraordinária Aída dos Santos, primeira brasileira a disputar uma final olímpica, em Tóquio 1964. Mesmo sem roupa e tênis adequados, a única mulher da nossa delegação ficou em quarto no salto em altura.  Coisa de cinema.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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