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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Luz, câmera e muita ação: foco crescente no universo esportivo

Irmãos Abdala revelam bastidores de gravações que unem esportes de ação, cinema e publicidade, como a do salto histórico da skatista Letícia Bufoni

Por Alexandre_Carauta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 nov 2022, 22h17 - Publicado em 22 nov 2022, 00h50
Irmãos Abdala em gravação na gravidade zero
Irmãos Abdala na gravação em gravidade zero a bordo de aeronave da Nasa -  (Foto de divulgação/Reprodução)
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Nem o céu limita os irmãos Abdala. O caçula André levita feito astronauta. Caça pílulas flutuantes enquanto Salomão, dois anos mais velho, captura o balé na gravidade zero. Filmagem raiz. Nada de computação gráfica. O Cabo Canaveral é testemunha.

Repetem a cena 20 vezes, como se transformassem em bolhas de sabão os sucessivos tobogãs (parábolas) na aeronave da Nasa restrita à elite hollywoodiana. A cada mergulho, André suporta heroicamente o equivalente a 300 quilos. Veste a mesma armadura sideral usada por Brad Pitt em Ad Astra.

A façanha compõe o novo clipe publicitário da farmacêutica Cimed. Chega à internet agora em dezembro.

Proezas assim habitam a carreira de Salomão e André desde 2017, quando uma websérie da Honda carimba o primeiro contrato profissional da dupla. Pouco depois, em 2020, a lente dos Abdala enverniza o heptacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton em vídeos encomendados pela Mercedes. “Vimos que dava pra viver deste sonho”, orgulha-se Salomão.

O sonho era rimar os esportes de ação, companheiros dos garotos já na primeira infância, com o cinema e a publicidade. Mistura apimentada de Christopher Nolan, Quentin Tarantino e David Fincher, eternas inspirações dos jovens diretores nascidos em Minas e criados com fartas porções de adrenalina no interior paulista.

Deu tão certo que o comercial do Porsche Tycon lhes rendeu uma menção honrosa no prêmio publicitário Webby 2022. Reconhecimento à ginga do modelo elétrico nas dunas de Jericoacoara, acompanhado por bambas do kitesurfe,

Igualmente arrebatadoras são as imagens do salto histórico da skatista Letícia Bufoni a três quilômetros de altitude, gravadas nos Estados Unidos para campanha da Red Bull. “Usamos uma lente sob medida e contratamos o Craig O’Brien, paraquedista-cinegrafista que pulara com Tom Cruise em Missão Impossível 5”, conta André.

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Impossível é evitar a ponta de inveja ao ouvir as histórias dos Abdala. Incorporam o sorriso do menino deslumbrado com o presente de Natal, com o autógrafo do ídolo, com a primeira paixão. De folga no Brasil, eles compartilharam algumas dessas histórias num papo por vídeo, sintetizado abaixo:

O vídeo do salto da skatista Letícia Bufoni, lançado em novembro, soma-se aos sucessos acumulados por vocês nos últimos anos, ao unirem cinema e esportes de ação. Qual o segredo deste filme?

Salomão: Tentamos valorizar ao máximo o sonho e o talento da Letícia. Corremos atrás de uma equipe e uma estrutura de filmagem compatíveis com o desafio de fazer manobras de skate a bordo de um avião militar e, em seguida, saltar a 3 mil metros de altitude. Investimos numa produção sob medida, com pelo menos dois meses de muita preparação. Não podíamos ultrapassar quatro tentativas.

André: Foi desenvolvida uma lente especial, menor, mais leve, pelo Dan Sasaki. Ele fez as lentes para Star Wars, 007 e outras grandes produções que filmaram com Panavision. Fixamos câmeras numa chapa adaptada da aeronave. Ela foi ajustada depois de uma medição a laser, cirúrgica, para não alterar o coeficiente aerodinâmico. E trouxemos o Craig O’Brien, paraquedista-cinegrafista que pulara com Tom Cruise em Missão Impossível 5.

Essas peculiaridades indicam uma relação cada vez mais acentuada dos seus filmes publicitários de ação com Hollywood?

Salomão: Sim. As lentes customizadas (Abdala Brothers) indicam essa ligação crescente. A Panavision só faz isso para grandes produções hollywoodianas. Estamos lisonjeados. Sinal de que nossa proposta de fazer publicidade com cara de cinema é reconhecida.

André: Buscamos unir cinema, publicidade e esportes de ação desde que passamos a filmar de maneira profissional, em 2017, quando a Honda nos contratou para fazer uma websérie. Nossas filmagens são sempre inspiradas em produções de Hollywood. O filme da Letícia tem, como referência, claro, Missão Impossível 5, especialmente a cena em que Tom Cruise salta de um avião militar empreendendo uma manobra conhecida como halo jump. Já o filme do Porsche Tycon é inspirado em 007 – Operação Skyfall. E por aí vai…

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Equipe de filmagem em frente do avião de onde Letícia saltaria
Equipe de filmagem do salto histórico de Bufoni (- Divulgação/Reprodução)

Falando ainda em referências hollywoodianas, em quais diretores ou diretoras vocês se inspiram?

Salomão: Christopher Nolan, Quentin Tarantino e David Fincher. Procuramos ser experimentais e autorais como eles são.

André: Tarantino e Nolan dominam a lista dos nossos dez filmes preferidos. Eles nos inspiram a conjugar a liberdade do cinema e dos esportes de ação para fazer coisas grandes, autênticas.

Como despontou o casamento entre esporte, cinema e publicidade?

Salomão: Nascemos numa família chegada a esportes radicais. Aprendemos a andar de moto aos 5 anos. Aos 7, eu já competia de motocross, no interior de São Paulo. Os X Games são a nossa Copa do Mundo. Futebol, só quando a seleção brasileira joga. Nosso negócio são os esportes de ação, de aventura, radicais.

André: Praticávamos todas essas modalidades, do wake ao skate, do downhill ao automobilismo. Depois começamos a filmar, ainda adolescentes. Percebemos que éramos melhores filmando… A gente fazia vídeos do [wakeboarder] Pedro Caldas, só para andar de graça no Cable Park dele.

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Qual foi o pulo do gato?

Salomão: Em 2017, filmamos para o Instagram do Eric Granado, tetracampeão de SuperBike, principal brasileiro na motovelocidade. O vídeo teve quase meio milhão de visualizações. Aí a Honda nos contratou para fazer uma websérie…

André: Não tínhamos nem empresa ainda. Mas já filmávamos esportes de ação desde 2013, na edição dos X Games em Foz do Iguaçu. Depois do trabalho com a Honda, emendamos uma série para a Mercedes na Fórmula 1, dois comerciais da Porsche feitos no Brasil, um documentário sobre o Rally dos Sertões, fora o filme da Letícia, a campanha do novo Galaxy Watch, com Henrique Avancini, um dos principais nomes do mountain bike, e um vídeo em gravidade zero, para a Cimed, a bordo de uma nave da Nasa. Este vídeo deve chegar à internet em dezembro.

Filmar na gravidade zero foi desafiador até para vocês, acostumados a viver aventuras à frente e atrás das câmeras?

Salomão: Muito desafiador. Envolveu uma preparação especializada. Sem contar que só poderiam embarcar na aeronave da Nasa eu, o André, o instrutor, que seria o astronauta, e um cinegrafista auxiliar

André: Teríamos de gravar tudo nas 20 parábolas do voo. Era à vera. Nada de estúdio, nada de computação gráfica.

Você, André, acabou assumindo o papel de astronauta…

André: Conversando com o instrutor, percebemos que eu podia ser o astronauta. Tremendo desafio. Nos mergulhos da aeronave, eu suportava três vezes o meu peso, mais o peso da roupa. Aliás, era a mesma usada por  Brad Pitt em Ad Astra.

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Salomão: André foi um herói. Aguentou mais de 300 quilos.

Qual a próxima bola da vez?

André: Vamos gravar a quebra do recorde mundial de velocidade terrestre. Superar os 400 km/h, numa moto desenvolvida pela Lightning em parceria com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).

Salomão: Devemos filmar em dezembro. Só aguardamos as melhores condições climáticas.

Por que marcas de diferentes setores buscam estreitar a ligação com a cultura de esportes como o skate?

Salomão: Esses esportes, essas culturas, fascinam pela procura constante do ineditismo. É o que chamamos NBD (never been done). Vale para o esporte, vale para a filmagem: liberdade para perseguir o inédito, inovar. O skate vive disso. do NBD. O filme da Letícia é NDB. As marcas se fascinam com isso, e querem ser associadas a esse fascínio.

André:  Não pode ser o esporte pelo esporte ou o filme pelo filme. É preciso quebrar barreiras, preconceitos, limitações.

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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