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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Lembranças de uma bola feita de sorriso, de infância, de inclusão

Foto da Dente de Leite propagada nas redes desperta conexões com o tempo da fantasia, onde permanecemos criança e aliviamos o peso do mundo

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Atualizado em 30 nov 2024, 10h13 - Publicado em 28 nov 2024, 10h08
Crianças jogando bola na chuva
 (Pixabay - Sasin Tipchai/Reprodução)
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Ela cultiva a universalidade dos contos de fada. É feita tanto de borracha quanto de sorriso, de infância, de pequenas grandes histórias. Unanimidade.

A foto propagada pela internet desperta uma doce nostalgia inclusive nos que, por azar, jamais a chutaram. Não um chute qualquer. Nela até os pernas de pau disparam uma bomba venenosa, sinuosa, barroca.

“Trajetória imprevisível, terror dos goleiros. Volta e meia a Dente de Leite acabava no telhado vizinho. Foi precursora da Jabulani”, compara o boleiro na resenha com ex-colegas de mestrado. Refere-se à pelota adotada na Copa da África do Sul (2010), famosa pelo ziguezague.

“Era o par perfeito do Kichute amarrado na canela. Uma dupla formidável, tipo Pelé e Coutinho”, acrescenta um amigo.

“Alegria dos campinhos de terra”, emenda outro.

“Que nada. Jogávamos descalços, dedão no asfalto”, retruca o fominha criado nos melhores dias do subúrbio. Fala com a autoridade de quem devota filiação ancestral ao universo do futebol.

A lembrança não abriga dor de órfão. Expressa, pelo contrário, a gratidão solar dos meninos e meninas que cresceram lambuzados pela bola de estimação.

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A genuína Dente de Leite formou gerações de peladeiros. Na praça, no play, no barro, no cimento, na areia. Folia dos pés descalços, de kichute, de conga. Pés que a resgatavam debaixo do carro, do quintal alheio, do matagal, ou do cão à espreita louco para devorá-la.

Aquela bola dionisíaca assombrava as vidraças e os deveres de casa, sucessivamente derrotados pelo chamado do quique. A Dente de Leite era o mirabel das peladas.

Merecia virar gibi. A aparência espartana camuflava superpoderes. Vencia a chuva, o chão abrasivo, as leis da física. Ficava perfeita no aguaceiro, igual Senna.

Alma de bombril, topava a parada que viesse: linha de passe, embaixadinha, bobinho, gol a gol, queimado, garrafão. Frequentava com a mesma desenvoltura rodas de vôlei na rua, na piscina, no mar. Herdara a simplicidade brejeira das antepassadas feitas de meia.

Sua imagem faz sucesso na internet não só porque representa o apetite artístico da molecada atrás de uma caneta, um lençol, um drible impossível. Não só porque ativa o imaginário em que chuteiras endiabradas, nascidas nas esquinas, simbolizam um Brasil idealizado.

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Faz sucesso porque lembra a graça das coisas simples, e nos conecta ao tempo da leveza, da fantasia, da inclusão. Ali permanecemos criança e aliviamos o peso do mundo. Tempo onde a despretensão pedagógica da brincadeira esfria a cuca, aquece os sonhos.

Em todos os tempos, ainda não inventaram brinquedo melhor do que uma bola. A danada da bola continua irresistível também na memória.

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Capital do breaking

 

O Rio vira a capital do breaking no início de dezembro. Craques de 30 países decidem, dia 7, a etapa mundial do Red Bull BC One, maior disputa global de Breaking 1×1. Embalada com o show de Marcelo D2, a finalíssima inclui b-boys e b-girls brasileiros, como Leony, Maia, Samuka, Mini Japa.

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O tempero verde-amarelo também salga, entre os dias 4 e 6, na Fundição Progresso (Centro), o Red Bull BC One Camp Rio. Neste aquecimento para o tira-teima decisivo, passinho, capoeira e samba incrementam a imersão na cultura do breaking e do hip hop. A programação, gratuita, reúne, por exemplo, oficinas de danças e batalhas de exibição.

 

B-boy Leony executando uma manobra de breaking
B-boy Leony (Little Shao - Red Bull Content Pool/Divulgação)

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Brilho nas ondas cariocas

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As águas de São Conrado coroaram o pernambucano Douglas Silva nesta sexta (30). Ele faturou pela primeira vez o Brasileiro de surfe, favorecido pelos resultados nas oitavas do I Love Dream Tour Rio, última etapa da principal competição nacional.

Os aplausos se estenderam a um garoto ousado de 16 anos. Atleta convidado (wildcard) do Circuito, Rickson Falcão reforça o time de promessas à altura do protagonismo conquistado por brasileiros e brasileiras nas ondas mundo afora.

O jovem honra também o DNA geográfico. É de Saquarema, norte fluminense, o Maracanã do surfe.

Rickson Falcão surfando
Rickson Falcão, de 16 anos (David Castro/Divulgação)
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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