Bola da vez no mercado e no meio acadêmico, a Inteligência Artificial inflama discussões comerciais, políticas, filosóficas, sociológicas, morais, legislativas. Miram os limites tecnológicos, econômicos e éticos do céu ao qual vorazmente se lançam as organizações mais valiosas do planeta (Microsoft, Meta, Google, Apple, Amazon).
Os debates escavam oportunidades e riscos. Pairam sobre vertentes, contradições, dilemas, ambições em torno da IA. Refletem seu uso crescente, vasto, disruptivo (palavra da moda).
Algumas aplicações mal se insinuam no horizonte. Muitas só vão despontar quando Internet das Coisas (IoT), 6G, blockchain, e sabe lá mais o quê, se consolidarem no cotidiano.
Da educação à publicidade, da medicina à ciranda financeira, da arte à campanha eleitoral, nenhuma molécula contemporânea parece esquivar-se da IA. Nela também mergulha a indústria esportiva.
A tecnologia ascendente é empregada para afiar o rendimento atlético, para prevenir lesões, para incrementar a midiatização de disputas e atletas profissionais impulsionada com o rádio nos anos 1940. Na era do streaming, a espetacularização desdobra-se em experiências transmidiáticas, colaborativas, cada vez mais próximas do videogame.
Sob o domínio do marketing, inovações digitais redimensionam as relações materiais e imateriais com o universo esportivo. Esticam e borram suas fronteiras, suas camadas virtuais, como se ingressássemos numa Matrix sem direito a pílula vermelha.
Assim indicam os museus imersivos (outra palavra da moda) nos quais investe a elite do futebol. Buscam expandir as filiações tangíveis, simbólicas, afetivas entre o torcedor e o clube do peito, historicamente concentradas na agenda competitiva.
Ancorados no entrelace entre computação, memória e fantasia, tais espaços ampliam a realidade magnetizada por histórias, personagens, façanhas à beira da ficção. Almejam a fidelidade e a renovação de consumidores necessárias a qualquer negócio.
Não menos pragmática é a ajuda da IA para potencializar ou corrigir estratégias. O tônico cibernético junta-se às qualificações físicas, técnicas, táticas, psicológicas.
Tabuleiros inteligentes, por exemplo, formam e apuram as múltiplas habilidades inerentes ao xadrez. Oxigenam um vínculo histórico com a informática, fixado no imaginário por casos como o duelo entre o ex-campeão mundial Gary Kasparov e o computador Deep Blue, em 1996. Deu a máquina. Era só o começo.
“Como o jogo envolve muito cálculo, a Inteligência Artificial vira uma grande aliada. Ela indica linhas (sequências de lances) precisas. Mas é preciso destreza para memorizá-la e aplicá-las nas dinâmicas do duelo”, observa o mestre Natácio Bezerra, comandante da equipe PUC-Rio de xadrez. Ele completa:
“Recorrer ao auxílio tecnológico durante a partida caracteriza uma trapaça. Por isso, a fiscalização tem sido rigorosa, sobretudo nos confrontos online”.
Banhada de entusiasmo, a escalada da IA impõe resguardos éticos proporcionais à densidade das transformações em curso. Exige responsabilidades sociais compatíveis à complexidade do campo esportivo, às suas dimensões educacional, comunitária, mercantil, ao seu potencial para melhorar a vida.
_______
Velozes nas águas da Guanabara
A Baía de Guanabara aporta a estreia sul-americana do Sail GP. A etapa inaugural no Rio está marcada para maio do próximo ano.
Abraçados pelo Pão de Açúcar, os velejadores dessa Fórmula 1 dos mares revigoram a tradição carioca de esportes aquáticos. A capital fluminense soma-se às cidades da Europa, da Ásia e do Oriente Médio pelas quais passa a competição, desde Sidney, na Austrália, até São Francisco, na costa oeste dos Estados Unidos.
_____
Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.