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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Destronados: a falta que fazem o maestro e o driblador

Acentuada nos últimos 20 anos, escassez dos virtuoses coincide com o jejum dos títulos mundiais e da beleza que construíram o prestígio do nosso futebol

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Atualizado em 21 mar 2024, 09h32 - Publicado em 21 mar 2024, 09h22
Vini Jr. sorrindo no campo de treino
Vini Jr. renova a linhagem de dribladores, atrofiada por transformações culturais e táticas  (CBF Oficial/Divulgação)
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Um é chamado de egoísta, fominha. O outro, de lento, chupa-sangue. Já não ocupam os tronos de outrora.

As guilhotinas da internet os condenam ao obsoleto. Tampouco levam vida fácil entre analistas de ofício.

O time vai mal, pedem logo suas cabeças. Um é acusado de prender demais a bola. O outro, de marcar pouco.

Parecem ultrapassados. Engano. Nunca fizeram tanta falta.

O driblador encarna o estilo brasileiro decalcado no imaginário, símbolo da nossa identidade cultural, fonte de troféus, encantos, de prestígio mundo afora. Encarna o moleque faceiro que nasce com a pelota grudada no pé. O moleque endiabrado que alegra os campinhos, as várzeas e todos os corações.

Terror das retrancas, é ele que desata o ferrolho quando as maquinações táticas se esgotam e o relógio pulsa desespero. Quando as unhas e esperanças se vão.

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Quando até as preces paralisam, é o driblador que irrompe sobre os muros, sobre as leis da física. Flecha incandescente rasgando o breu.

Ele enverga a primazia de, como se diz, furar as linhas, derrubar os bunkers. Acima de vitórias e conquistas, fornece espanto, vertigem, delírio. Banha-nos de pequenos alumbres barrocos, até a borda da arte.

Sem o driblador, o futebol caminharia desbotado, desfigurado que nem carnaval pernambucano sem frevo. Tão inconcebível quanto um divórcio entre os dedos elétricos de Hamilton de Holanda e seu bandolim de dez cordas.

Nenhuma grande equipe viceja sem um grande driblador. Pois a grande equipe, cuja escalação vem instantaneamente à cabeça, não é só dourada de taças. Distingue-se pela beleza eternizada na memória.

Os domingos acordavam ansiosos pelas diabruras de Garrincha, as canetas de Zico, o elástico de Rivellino, os truques de Romário. O Maraca esbaldava-se com as fintas de Jairzinho, Cafuringa, de Júlio César Uri Gueller, destinado a entortar as defesas igual o famoso ilusionista supostamente fazia com as colheres.

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A linhagem seguida por Denner, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Neymar, Vini Jr. derrete sob uma miopia cáustica. Confunde-se o pendor do drible com uma ameaça à harmonia coletiva, uma disfunção orgânica, uma malcriação latente.

Então o driblador, num cochilo dos deuses, acaba domesticado pela cartilha mecânica, condicionado à produtividade. Drible precisa ser vertical, buscar sempre o gol, sem excessos, senão torna-se firula inútil, apregoam os doutores da objetividade, como se pássaros prescindissem de asas e precisassem de consentimento para voar.

Ora, drible é excesso. Pertente ao céu, não ao cativeiro. Se lhe mutilam a alma de borboleta, aproxima-se da ferrugem. Afasta-se daquilo que tem de melhor: poesia, liberdade, distração.

Noutro descuido imperdoável dos deuses, o maestro também sucumbe à tutela utilitária. O jeito cadenciado vira sinônimo de lentidão, incompatível com o salto de intensidade nas pelejas profissionais.

Com marcação acirrada e tempo corrido para pensar, o futebol atual não comporta armadores como Gérson, decretam os apocalípticos e os cegos. Balela. Um maestro como o Canhota, cérebro do tri em 1970, impõe-se às mudanças. São elas que se ajustam ao bamba.

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O jogo acelerado não subtrai sua clarividência. Nele o raciocínio chega primeiro. Antevê o que nem a arquibancada prenuncia.

Das escolinhas à seleção, o maestro perde espaço para volantes e meias ofensivos, mais intensos, menos cerebrais. Alguns até quebram um galho na armação. Nunca é a mesma coisa.

Essa emblemática transformação arranca nos anos 1990. Consolida-se de duas décadas para cá. O período corresponde ao jejum de títulos mundiais e de beleza. Só os ingênuos acreditariam numa coincidência.

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Alvinegros relembram título de 95

Rever o passado é primordial, claro, para construir futuros desejáveis. E ainda pode render boas resenhas, como a da próxima terça (26). Uma noite alvinegra.

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Os ex-jogadores do Botafogo Wagner, Wilson Gottardo, André Silva e Leandro Ávila conversarão com torcedores sobre a conquista do Brasileiro de 1995 e outras histórias marcantes, às 19h, na Cobal do Humaitá.  O papo integra a série de encontros Gigantes do Museu, organizada pelo jornalista, empresário e boleiro Sérgio Pugliese, fundador do Museu da Pelada.

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Qualificação para projetos esportivos

Em meio ao salto de iniciativas financiadas pela Lei de Incentivo ao Esporte, que movimentou quase R$ 1 bilhão no ano passado, a Fundação Vale e a Trilha Gestão lançam, agora em abril, o segundo módulo do curso online gratuito para para a formação de proponentes de projetos esportivos. O primeiro módulo é acessado a partir de um cadastro básico na página da Fundação.

O curso dirige-se àqueles que atuam ou pretendem atuar na elaboração, no acompanhamento e na prestação de contas de projetos financiados pelas leis de incentivo ao esporte. Embora cresçam em todas as regiões do país, muitos ainda esbarram na falta de conhecimento de proponentes.

A qualificação profissional revela-se, portanto, um impulso para aproveitar o potencial desses programas alinhados ao desenvolvimento social e esportivo.  Podem receber doações de valores equivalentes a até 2% do Imposto de Renda de pessoas jurídicas e até  7% de pessoas físicas.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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