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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Da Rocinha a Paris, histórias de um corredor movido a cidadania

Entusiasta do esporte como agente de transformação social, Danrley Ferreira detalha experiência na pioneira maratona olímpica para amadores

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Atualizado em 16 ago 2024, 17h14 - Publicado em 13 ago 2024, 15h42
Danrley Ferreira comemora chegada na maratona olímpica para amadores
 (AT Filmes/Reprodução)
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Danrley Ferreira mal passava dos10 quando os relatos de corredores na Rocinha o fizeram seguir a partitura esportiva, e transformá-la numa fonte de histórias tão inspiradoras quanto as contadas pela mãe. Delas faz parte agora a participação, como embaixador da Asics, na Marathon Pour Tous, pioneira maratona olímpica para atletas amadores, disputada domingo passado.

“Realizei um sonho de criança”, alegra-se o ex-BBB, com o entusiasmo que contagia os vizinhos nos treinões de domingo pela comunidade. Aos 25 anos, o estudante de pedagogia e youtuber detalha a experiência histórica e conta como une esporte e educação para empreender mudanças sociais, ambientais, culturais:

O que representou a participação na Marathon Pour Tous?

Foi muito mais que a realização de um sonho. Um sonho também dos amigos que cresceram correndo comigo na Rocinha. Disputar uma maratona já é algo significativo. Em Paris, numa Olimpíada, torna-se mais especial. Estou grato pela oportunidade de viver um momento histórico desses. Um dia vou contar aos meus filhos e netos que eu corri a primeira maratona olímpica para amadores.

Como foi a prova?

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As subidas longas e íngremes castigaram, assim como o calor e a umidade alta. Mas, pensando bem, que bom que eu não consegui correr mais rápido: cada minuto pelas ruas mágicas de paris valeu a pena. As calçadas estavam lotadas com pessoas de todos os lugares do mundo, torcendo, gritando, cantando, incentivando os corredores. Nunca sorri tanto durante uma prova. Realizei um sonho de criança. Fiquei feliz como se estivesse realmente representando o país.

Mas você representa um Brasil empenhado em transpor barreiras socioeccômicas, educacionais, esportivas…  

Sim, e o esporte é um estímulo à transformação. Uma galera nas redes sociais e nas ruas se espelha nos esforços para superar obstáculos sociais e econômicos como aqueles comuns à realidade do atletismo. Quando comecei a correr, eu me inspirava em ídolos como (o multicampeão olímpico) Usain Bolt e Giovani dos Santos (bronze nos 10 mil metros, no Pan 2011, vencedor da Meia Maratona Internacional do Rio em 2016).

Que inspirações você extrai, agora, dos Jogos de Paris?

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A principal inspiração vem da luta dos atletas: uma vida de dedicação para disputar a Olimpíada, muitas vezes sem visibilidade, sem apoio. É o que mais me toca. São grandes vitoriosos. Inspiram bastante, mesmo que nem cheguem ao pódio. Procuro trazer essa garra, essa perseverança, para a minha vida. Quero dar também o melhor.

Como potencializar a força transformadora do esporte?

Trabalhando em conjunto. Minha trajetória conjuga a relação entre esporte, inclusão, cidadania. Comecei a correr motivado pelas histórias, contadas pela minha mãe, de corredores na Rocinha. Aderi ao programa De Braços Abertos, cujo objetivo era inserir o esporte na comunidade como ferramenta de inclusão. Aos 13 anos, eu já fazia parte da equipe de atletismo da Rocinha, patrocinada pela Asics. Ganhar tênis e roupa apropriada para corrida era o auge do adolescente esportista. O apoio das marcas, da família e de órgãos públicos é fundamental para democratizar o esporte, para fortalecê-lo como instrumento de cidadania, de saúde, de responsabilidade social e ambiental. As redes sociais também colaboram, aumentando a visibilidade de iniciativas sociais ligadas ao esporte.

De que forma o esporte ajuda a combater a exclusão e o preconceito?

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O esporte é uma ferramenta tanto de mobilidade socioeconômica quanto de transformação individual e ambiental. O intercâmbio de experiências e de realidades no meio esportivo ajuda a combater preconceitos, estigmas.

Sua rotina esportiva caminha intensa. Como conciliá-la com os afazeres de estudante de pedagogia e de youtuber?

A corrida representa um alicerce para manter tudo em ordem. Além de me dar energia, fortalece a disciplina para encarar os desafios no dia a dia. Ajuda a manter a cabeça centrada nos estudos e no trabalho, mas sem me desligar das redes. Educação também é um eixo central na minha vida, uma grande ferramenta transformadora, ao lado do esporte. Fui o primeiro da família a entrar numa universidade federal.

De vendedor de picolé e participante de BBB, que vivências você agrega aos planos de esportista e educador?

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Experiências como a venda de picolé nas praias produzem aprendizados importantes. Eu puxava o carrinho por 20 quilômetros. Passava por Barra, São ConradoIpanema, até o Leme. Tinha 17 anos. Isso ajudava o condicionamento físico e, acima de tido, contribuía para aprimorar a perseverança e me comunicar melhor. Aplico essas habilidades nas disputas esportivas e em outras partes da minha vida.

Você começou a correr ainda criança, há quase 15 anos. O que mudou substantivamente nesse tempo?

Conquistei uma visibilidade que amplia as oportunidades de ajudar pessoas à volta. Agora eu alcanço, por exemplo, a senhora e o moleque que são estimulados a correr todo fim de semana, em busca de uma vida saudável. Essas corridas comunitárias, aos domingos, já reuniram mais de 40 participantes, inclusive de fora da Rocinha. É muito bacana. Pretendo expandi-las.

A corrida aprofundou sua relação com a Rocinha, com o Rio?

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Certamente. É uma relação de muito amor e respeito. Crescer aqui na Rocinha, ao lado de pais que me apoiaram, foi essencial para me formar como cidadão, para aprender a lidar com as diferenças, para combater discriminações. Sou apaixonado pela cidade. Às vezes, estico os treinos para apreciar lugares como a Vista Chinesa, as cachoeiras do Horto, as trilhas da Zona Oeste, a Lagoa, o Centro.

O que você curte mais na cidade?

Amo fazer trilha, praticar atividades ao ar livre. Adoro praia, claro. Cresci na praia de São Conrado. Quando acabava de vender picolé, sempre dava um mergulho no mar. Felicidade pura. Esta ligação com o Rio me estimulou a praticar vários esportes além da corrida: vôlei, remo, futebol, handebol. Em dezembro, vou estrear no triatlo. Também me amarro em encontrar gente de todo tipo pela cidade.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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