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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Um carnaval de luzes para inspirar tempos mais coloridos

Imagem derradeira do Maraca no ano, os milhares de feixes irmanados pelos celulares emitem um convite ao senso comunitário e à diversidade

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Atualizado em 13 dez 2021, 12h45 - Publicado em 11 dez 2021, 19h00
Torcedores do Fluminense emitem luzes de celulares no Maracanã
Tricolores cobrem o Maraca com um bailado de luzes, para festejar passagem à Libertadores (Foto de Paulo Gramado/Reprodução)
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As luzes do Maracanã redimiram o ano torto. Torto não igual Garrincha, poético desconcerto, a vertigem da arte nos pés. Torto porque distorcido pelas desumanidades acentuadas com a pandemia.

Em meio a pesadelos, haveríamos de reencontrar as luzes do Maraca. Não resplandecem as bandeiras de outrora, varais da teatralidade legada por Mario Filho ao carnaval das torcidas. Agora a apoteose visual cintila nos celulares a tiracolo.

O futebol extrai do ano torno essa derradeira imagem, redentora. As milhares de luzes miúdas estampavam, quinta passada, mais do que o sorriso tricolor diante da passagem à Libertadores. Extrapolavam o tributo à façanha do time irregular.

Os feixes também irmanavam o desafogo com o vírus, a inflação, os desalinhos políticos. Tudo momentaneamente engolido no cordel de claridades. Proeza comparável só ao torpor do gol.

O colar de brilhos iluminava o estar-junto. Convite ao entendimento, ao senso comunitário. Não é pouco num ano torto.

Sob a regência do verde e do vermelho, a variação cromática ampliava o fervor simbólico. Uma aquarela de diversidade. Fosse um conto de Natal, os jogadores teriam largado a bola e se juntado à celebração, como num filme do Capra, todos beijados por um anjo.

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O espetáculo se dissipa nas redes e na temporada de especulações sobre quem chega, quem parte, alegria das resenhas. Nem por isso as luzes do Maraca deixam de perenizar uma inspiração a tempos solidários, transigentes, leves, menos permeáveis à indiferença.

Tempos nos quais a indústria esportiva – atletas, investidores, consumidores – contribua mais à valorização da pluralidade, à redução da desigualdade, à promoção da saúde. Nenhuma outra pauta revela-se tão importante quanto esses desafios. Nem o reciclado debate sobre clube-empresa, nem as emergentes oportunidades de NFT.

A revisão de prioridades é o segundo passo para aproximar o mercado esportivo da realidade na qual 20 milhões passam fome e 120 milhões mal fazem uma refeição por dia. Realidade em que a prática de esportes, efetivada como política pública, com o apoio da iniciativa privada, reduziria significativamente as internações hospitalares.

O primeiro passo é o amadurecimento cívico. A consciência do bem-comum, para o qual devemos confluir  diferenças, liberdades, responsabilidades. Assim clamam despretensiosamente as luzes irmanadas no Maraca.

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Mané e os craques da crônica

Eternizado em prosas, versos, fotos, Garrincha pulsa na camisa com listras tortas incorporada em outubro ao Museu do Maracanã. A homenagem do Botafogo evoca o drible da assimetria corporal sobre a lógica, os tratados biométricos, o ponderável.

Sem a pretensão de equacionar tamanha singularidade, Paulo Mendes Campos é certeiro:

“Como um compositor seguindo a melodia que lhe cai do céu, como um bailarino atrelado ao ritmo, Garrincha joga futebol por pura inspiração, por magia, sem sofrimentos, sem reservas, sem planos. (…) Garrincha é como Rimbaud: gênio em estado nascente”.

A descrição está no texto “Mané Garrincha”. Integra a recém-lançada coletânea “Os sabiás da crônica” (Autêntica). Organizada por Augusto Massi, a antologia reúne mais cinco craques do gênero: Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) e José Carlos Oliveira.

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A pelada como ela é

Outro craque das palavras, Sérgio Pugliese lança dia 20, às 17h, na Cobal do Humaitá, “A pelada como ela é” (Museu da Pelada). Um desfile de histórias deliciosas, hilárias, inacreditáveis – todas verídicas, garante Sérgio – sobre o amor entre os fominhas e a bola.

O jornalista conta vários casos colecionados há mais de dez anos, desde que mergulhou no folclore peladeiro. Habitaram coluna homônima no Globo, viraram quadro na Rádio Globo e hoje frequentam a mesa-redonda dominical da Tupi. O livro pedia passagem.

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, também formado em Educação Física.

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