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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Bruninho lembra que os afetos passarinham igual Mané

Aos 9 anos, torcedor santista flutua seu coração acima das cores adversárias, e ensina que respeito e admiração dissipam fronteiras

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Atualizado em 15 nov 2021, 07h08 - Publicado em 14 nov 2021, 21h52

Bruno aprende futebol no Peixe. Do lar e da escola, recebe outros ensinamentos. Aos 9 anos, dá banho de civilidade. Distingue muito bem a paixão por um clube da impossibilidade de admirar o diferente. Domina a lição primária: afetos dissipam fronteiras. Passarinham igual Mané, irrefreáveis como Pelé.

Os detratores de Bruninho faltaram essa aula. Azucrinaram o garoto pelo autógrafo do goleiro Weverton, depois da vitória do Palmeiras na Vila. Logo ali, berço histórico de aplausos alheiros. Sob olhares fundamentalistas, o autógrafo do palmeirense, ou o simples cumprimento, representava traição imperdoável.

Bruno do Nascimento escapou por pouco da palmatória física. Mas saiu com os ouvidos e nervos castigados. Temeu que a hostilidade se prolongasse nas redes. Para estancá-la, desculpou-se. Tal inversão é a parte mais triste e simbólica da história.

Até os marcianos estranhariam a vítima se desculpar. Já os lunáticos ignoram o óbvio. Abastecem a crise moral refletida no mundo da bola.

Bruninho foi acudido pela diretoria santista, por Pelé, Neymar, por gente conhecida e milhares de anônimos. A solidariedade resgata a sensatez, mas não camufla a ferida.

Coitado do país em que marmanjos infernizam um menino atrás do autógrafo. Seu pecado foi sorrir para o outro.

Depurada por pesquisadores como Édison Gastaldo e Ronaldo Helal, a genética passional do torcedor não justifica o rompante de desumanidade. Nem a mais louca fidelidade às cores do pavilhão deve violentar a inteligência e o direito de ver além dos muros.

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Mesmo que tivesse virado a casaca, transgressão máxima à liturgia do torcedor, Bruninho obviamente mereceria respeito. Mas acumulou ataques bem acima das provocações inerentes à, como diz Gastaldo, sociabilidade jocosa do futebol.

O excesso indica também um choque geracional. Embora o garoto vista o velho sonho de brilhar jogando bola, e devote ao Santos a predileção que o legitima como torcedor raiz –, ele se apresenta permeável a uma diversidade de filiações afetivas. Com naturezas e calibragens distintas, não canibalizam seu coração preto e branco.

Para Bruninho e boa parcela das novas gerações de torcedores, essa convivência diversa é natural, cotidiana. Decorre tanto do acesso a um banquete globalizado de times e jogadores, servido nos meios digitais, quanto do pendor contemporâneo ao fugaz.

O comportamento exprime a fluidez pós-moderna. Corresponde ao que o sociólogo Richard Giulianotti chama de torcedor flaneur, referência ao sujeito tipificado por Baudelaire, sempre chegado a um rolé.

Escassa nas tribunas online, a abertura ao diferente soa incompreensível aos tempos polarizados e herméticos. Gestos miúdos como o de Bruninho cuidam de preservá-la. O amanhã agradece.

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O Rio da altinha

O sol reaparece para adoçar o domingo, a rua, a orla, a corrida. Uma aquarela às margens do reencontro consigo mesma.

O vendedor de mate, sorriso maior que o chapéu, brinca de altinha com três banhistas. Os galões não lhe pesam. A cidade respira mais leve. O Rio sendo o Rio.

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, também formado em Educação Física.

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