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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Apertem os cintos, porque o craque de bola sumiu

Enquanto a seleção feminina busca primeiro título mundial, a masculina precisa reencontrar o extraordinário, a identidade, o imaginário, a História

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Atualizado em 29 jun 2023, 14h57 - Publicado em 28 jun 2023, 11h34

A verdade da seleção não se esconde num teorema. Não tem a complexidade de um tratado filosófico, a elucubração estatística, tampouco a mística dos astros. Está nas nossas barbas, tão rasteira quanto a grama que a consagrou no imaginário.

A seleção afasta-se da sua identidade cultural e esportiva não propriamente porque anda acéfala no banco de reservas. Desgraçada é a acefalia no campo.

Enquanto aguarda um século o competente Carlo Ancelotti, o time joga mal menos pelo estágio transitório e pela falta da batuta do que pela estiagem de maestros e craques. Mesmo sem corresponder à expectativa na hora agá, Neymar é o solitário remanescente da estirpe que salta do talento ao brilho, do brilho à magia.

Nem sempre aqueles fora da curva transformam a genialidade em consagração máxima, como nos legaram Pelé, Garrincha, Rivellino, Gérson, Romário, os Ronaldinhos. Jamais deixam, contudo, de livrar a seleção do opaco.

Zico e a safra de 82 bateram na trave, e daí? Perpetuam-se na memória entre os melhores escretes de todos os tempos.

Feras como o insinuante Vini Jr. podem formar um conjunto capaz de reaver o tônus vitorioso da Canarinho, capaz até de aplacar o jejum de conquistas mundiais. Só os craques, porém, conduzem um permanente o encontro com o encanto.

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Craque, o genuíno craque, constitui a rima perfeita entre o simples e o genial. Um descobridor de atalhos acostumado a surpreender os adversários, a arquibancada, o destino.

Do pacto com a clarividência, o craque extrai saídas para labirintos, como fez Neymar no encruado duelo contra a Croácia que nos eliminaria do Catar. Seja meia ou atacante, o craque fascina e decide na mesma proporção. Encara decisão de Copa igual jogasse no Aterro.

Nossa desidratação de craques tem a ver, em parte, com um desvio no curso das categorias formadoras. Para o bem e para o mal, incorporaram princípios e práticas do andar de cima.

Até o fim do século passado, trabalhavam prioritariamente para revelar preciosidades que produziriam, em fusões com a arte, maravilhas e alegrias esportivas, antes de engordarem o caixa do clube numa transferência internacional e terminarem de se maturar na Europa. Retê-los ficou cada vez mais difícil.

A cada temporada, as fornadas da base precisavam entregar, de preferência, um armador habilidoso (o Oito); um meia diabólico (o Dez); um ponta driblador (atual “extrema”, o Sete ou o Onze); e, com sorte, um artilheiro matador (o Nove). Avistá-los nas preliminares do Maraca aguçava o apetite do torcedor.

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Evoluções táticas não rebaixam a primazia deles. Seguem essenciais ao jogo, aos olhos, às filiações viscerais com o espetáculo do futebol.

Pouco importava se a equipe de juniores, renomeada de Sub-20, ficasse no milésimo lugar da divisão Z, desde que provesse o elenco principal de jovens bambas. Alguns virariam ídolos.

Há pelo menos três décadas já não é bem assim. Desde cedo a garotada começa a disputar sucessivos torneios com parâmetros de mercado, transmitidos por emissoras de tevê e canais de clubes.

O batismo prematuro na cartilha empresarial rende visibilidade e grana. Cumpre o papel de vitrine comercial para diamantes brutos. Não raramente se converte em vendas precoces ao exterior.

Sob o discurso ilusório de preparação para a realidade profissional, antecipa-se a cobrança por alta performance e troféus. A competitividade passa a colonizar a experimentação e a ousadia – sem as quais um craque não desabrocha.

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Guiada por interesses econômicos um tanto imediatistas, a mudança recalibra o desenvolvimento físico e mental da meninada. Também abrevia, várias vezes, a espera pelo amadurecimento de promessas que não se encaixam logo nas exigências competitivas.

Isso não reduz a produção seriada de ótimos jogadores, exportados em ritmo e escala industriais. Mas talvez contribua para nos distanciarmos do extraordinário. Uma distância com a qual, pelo andar da carruagem, teremos de nos acostumar.

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Decolagem

Se a seleção masculina vaga atrás do reencontro com a maestria, a identidade e a História, a feminina sobe a ladeira. Empolgada, perseguirá o primeiro título mundial na Copa da Austrália e da Nova Zelândia. O sonho vai largar 24 de julho, contra o Panamá.

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Mesmo que não faturem o caneco, as comandadas de Pia Sundhage já simbolizam um progresso estrutural e cultural. Expressam uma valorização da modalidade no país, sinalizada no aprimoramento dos campeonatos, na qualificação das equipes, no crescente espaço midiático, na audiência em alta, no volume maior de patrocínios, na equiparação (parcial) de prêmios.

Tais avanços, embora ainda longe dos padrões ideais, representam uma decolagem para alçar nosso futebol feminino à estatura merecida. Começa por erradicar discriminações socioculturais, morais e financeiras milenares. Refletem-se, por exemplo, no resistente fosso entre as premiações das Copas do Mundo.

O iminente Mundial distribuirá, às mulheres, US$ 150 milhões, um terço da bolada entregue aos homens, ano passado, no Catar. Caso o Brasil vença a concorrência para sediar a Copa feminina de 2027, poderá equacionar com a Fifa e os patrocinadores uma premiação ao menos mais próxima da masculina. Ou o céu estaria alto demais?

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Bola para o social

O Sesc RJ vai inaugurar, na próxima quinta (6), um centro de vôlei de praia em Copacabana (Av. Atlântica 2.600). O espaço de treino das três duplas profissionais do Sesc Botafogo Praia acolherá também, de segunda a quinta, aulas gratuitas para 80 crianças e adolescentes de comunidades e escolas públicas da região.

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Ao conviverem com as profissionais, os jovens atendidos pelo projeto social poderão se inspirar em ensinamentos e valores do esporte. A iniciativa mira nesta tabelinha.

Atletas de vôlei do Sesc na praia de Copacabana
(Divulgação/Reprodução)

Programação do CT Sesc de vôlei de praia:

Treinos de alto rendimento (segunda a sexta):
– 8h às 9h: Giulia/Natasha.
– 9h30 às 11h: Talita/Thamela.
– 15:30h às 17h Carol/Marcela.

Aulas do projeto social:
Segunda e quarta:
17h às 18h.
18h às 19h.

Terça e quinta:
17h às 18h.
18h às 19h

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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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