Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
Continua após publicidade

A Copa e a Copa do futebol feminino brasileiro

Atrás do primeiro título mundial, seleção inspira guinada que potencialize o esporte como fonte de lazer e inclusão a meninas do asfalto e do campo

Por Alexandre_Carauta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
19 jul 2023, 15h30
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O sonho do primeiro título mundial larga como jamais largou. Não desperta festas temáticas, ruas pintadas, tampouco fintas no expediente. Ainda assim, enverga importância superior à própria ambição esportiva.

    Em busca do caneco na Copa da Austrália e da Nova Zelândia, a seleção comandada pela sueca Pia Sundhage embute um desafio tão difícil quanto desbancar Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha. A estatura técnica, tática, física, psicológica dessas potências reflete a densidade estrutural e sociocultural alcançada pelo futebol feminino nos respectivos países. Padrão para o qual o Brasil ensaia decolar.

    A guinada exige amadurecimentos administrativos, políticos, financeiros compatíveis ao legado de Marta, Formiga, Pretinha e demais pioneiras. Só elas sabem a dureza de desbravar um território historicamente masculino, contaminado por dogmas e comportamentos machistas.

    Com o ardor maciço de quem mata duzentos leões para sobreviver à asfixia de respeito, grana, dignidade, as precursoras enfrentaram violências materiais e simbólicas. Capinaram segregações visíveis e invisíveis atrás de um futuro ereto. Escreveram o prefácio de uma revolução a se imprimir.

    O avanço envolve desde o aprimoramento das categorias formadoras e a expansão da prática em escolas, praças, clubes, condomínios até a qualificação de times e campeonatos para atrair, sob a batuta do espetáculo, mais visibilidade, investimento, consumo. O pacote depende de substantivas transformações culturais.

    Continua após a publicidade

    Nenhuma revela-se tão decisiva e complexa quanto superar discriminações estruturais. Fazem um estrago danado. Perpetuam assédios a jogadoras, treinadoras, torcedoras, comunicadoras (denunciadas em campanhas como #deixaelatrabalhar) e discrepâncias midiáticas e salariais, reféns de preconceitos e cabrestos mercantis.

    Sem desmerecer os progressos conquistados na última década, desigualdades crônicas ainda prevalecem. Por exemplo, no Mundial em curso, o prêmio às competidoras, de US$ 150 milhões, corresponde a um terço do entregue, ano passado, no Mundial masculino do Catar.

    O pulo do gato precisa convergir competências e esforços guiados por uma visão estratégica de longo alcance, alinhados a compromissos igualitários. Convém aproveitar a onda ESG (sigla em inglês para responsabilidade socioambiental e governança).

    O empenho de empresas globais em acolher tais valores, convenientes à reputação corporativa, insinua-se um potente aliado ao salto do futebol feminino. Investidores não admitem mais patrocinados em descompasso com princípios como diversidade, equidade, inclusão. A indústria esportiva não é exceção.

    Continua após a publicidade

    A desejável evolução acolhe não só a órbita do alto rendimento, midiatizada e comercializada em larga escala. Estende-se às esferas educacional e comunitária do esporte, as quais o Estado tem a obrigação constitucional de prover.

    Não basta aprimorar as equipes, os torneios, o espaço na mídia, as remunerações, as condições de trabalho, o trato profissional. É necessário converter o futebol num propulsor de saúde, lazer e cidadania às meninas do campo e do asfalto.

    Então um belo dia não haverão mais de driblar o destino para bater uma bolinha, melhorar a vida e, com sorte, cair nas graças da galera. Eis a nossa grande Copa.

    _____________

    Continua após a publicidade

    Do trono à harmonia 

    Marta inspira nossa fervorosa torcida. Pela maestria. Pela simpatia. Pela coragem da adolescente que embarca sozinha no ônibus de Alagoas rumo ao desconhecido. Pelas maravilhas que a coroaram seis vezes melhor do mundo. Pela humildade em descer do trono para se irmanar com reservas no seu sexto e derradeiro Mundial.

    “Ela é de grupo”, elogia Pia Sundhage, técnica campeã olímpica em 2004 e 2008, com os Estados Unidos. Deve ser algo desconcertante, até para a experiente treinadora, acomodar um mito no banco.

    Recordes, reverências internacionais e lances geniais expressam a grandiosidade da artilheira das Copas (17 gols, e contando…), a maior de todos os tempos. Um assombro. Torçamos para a conquista na Austrália/Nova Zelândia se incorporar à galeria de superlativos.

    Continua após a publicidade

    Há dois motivos razoáveis para botarmos fé. O primeiro: Marta. Mesmo sem a reconhecida explosão, Marta é Marta. Aos 37 anos, a eterna Camisa 10 ainda faz diferença, inclusive ao compartilhar atalhos extraídos da vasta experiência. Conserva a fibra e o talento esculpidos com os pés descalços da infância alagoana.

    O segundo: equilíbrio. Pia orquestra um conjunto harmônico, seu principal trunfo competitivo. Será suficiente para faturar o caneco? Saberemos a partir de segunda (24), estreia contra o Panamá, às 8h (transmissão da Globo e do Sportv). Tiremos do armário as cornetas e camisas amarelas.

    ­­­­­­­­­­­_________

    Vestidos de empolgação

    Por falar em camisa, o Movimento Verde Amarelo (MVA) escala uma novo modelo listrado para apoiar a seleção na Copa. Criado em parceria com a Dimona, é uma versão feminina da listradinha, transformada em bandeirão no Mundial do Catar.

    O MVA reunirá mais de 100 torcedores e torcedoras nas arquibancadas australianas e neozelandesas. Vão entoar cantos compostos para as jogadoras e um tema musical escolhido por concurso no Tik Tok.

    _________

    Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

    Continua após a publicidade

     

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 39,96/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.