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Dito Erudito

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Um panorama da música clássica

O Dito Erudito 2016

O ano começa. Eu recomeço. Uma razão para meu relativo “silêncio” Nesses últimos tempos é a sensação de que a música de concerto — a tal “clássica”, a dita música erudita — está silenciada. Como propor “um passeio pela música clássica” se seria algo como andar num imenso color-chrome, abstrato e vazio? Na música clássica […]

Por fernanda
Atualizado em 25 fev 2017, 17h41 - Publicado em 5 jan 2016, 11h56
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O ano começa. Eu recomeço. Uma razão para meu relativo “silêncio” Nesses últimos tempos é a sensação de que a música de concerto — a tal “clássica”, a dita música erudita — está silenciada.

Como propor “um passeio pela música clássica” se seria algo como andar num imenso color-chrome, abstrato e vazio? Na música clássica não andamos sobre campos de casacos-de-pele e black-tie, nadando entre taças de champanhe; ironicamente em meio a tanta musica, parecemos amordaçados. Poucos incluem ópera entre as expressões artísticas brasileiras, e no entanto também somos daqui, fazemos musica aqui. Se as imagens mais frequentes do glamour ao redor da ópera e da musica erudita falam de uma elite, vale lembrar ue 9 entre 10 vezes sao imagens importadas, que pouco ou nada têm a ver com o fazer lirica em nosso país. E qual a cara da ópera no Brasil? Eis um bom ano para tentar responder essa pergunta.

Aqui no país o passeio pela ópera não anda sempre florido — mas anda com esperanças. Há muita coisa boa no ar para 2016, e o ano que passou não foi avaro em novidades: a rara Menina das Nuvens de Villa-Lobos retornou ao Rio, uma deliciosa e rara ópera de Prokofiev foi ouvida em São Paulo, Minas jogou-se de coração em alma no Bel Canto, Belem trouxe a magia do cinema para os palcos e com um belo resultado; parcerias com a América Latina desenham-se. Parece que os deuses da lirica nos deixaram um pouco mais distantes da costumeira superficialidade nesse 2015. Claro, há coisa inquietáveis como o Teatro Nacional de Brasilia que permanece escandalosamente fechado, deteriorando-se. Há casos de gestão irresponsável com muito desperdício de dinheiro publico. Há a questionável substituição de espetáculos ao vivo por apresentações em cinema, em vídeo. Nas redes sociais, em meio aos vários prêmios de ‘melhores do ano’, alguns cantores começaram a postar que alguém deveria pensar em instruir o de “Melhor Pagador”; enquanto uns pagam em dia — ou com um atraso pelo menos aceitável — outros….bom, como dizer? Se me permitem a paráfrase, pedem a estrela-guia (dos artistas) um brilho de aluguel. Não existe maior provincianismo do que não saber o que se pode gastar, encher a barriga e deixar a conta para o garçom. São desafios — e velhos fantasmas — que com a crise econômica, somam-se aos vaticínios de um novo ano temivelmente pobre de recursos.

Para os que procuram emoções nas páginas policiais a ópera andou frequentando-as. Talvez para provar sua ‘contemporaneidade’ em tempos de “lava-jato” o Teatro Municipal de São Paulo foi arrastado junto com seu ex-diretor para prestar declarações sobre um suposto desvio de até R$18 milhões. Segundo algumas reportagens outros fariam parte do esquema, incluindo outras produtoras culturais. As hipóteses são várias e a verdade ainda não está nem perto de vir à tona. É possível que as culpas só sejam divididas quando alguém resolver falar, estilo ‘delação premiada’. Mas é bom saber que o MP está investigando: num país em que os recursos para a cultura são tão preciosos, em que muita gente séria luta para manter a chama da ópera acesa (e com honestidade), a mera conivência com um ‘esquema’ assim é criminosamente cúmplice, infame. Volto ao assunto na semana que vem.

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Infelizmente, esse primeiro passeio do ano não pode deixar de chegar ao fim sem falar de duas grandes figuras que nos deixaram. Mais recentemente, o compositor Gilberto Mendes, homem engajado em cultura — aliás, em questionar e repensar cultura. Sua morte, depois de uma longa e imensa vida, quase não apareceu na mídia; as tais bolhas de champanhe do mar de silencio que nos cobre venceram. A outra perda foi a de Marilia Pêra. A grande atriz, mulher incrivelmente carismática e versátil, era presença frequente em ópera e concertos — caso infelizmente raro entre estrelas brasileiras de TV, teatro e cinema. Marília Pera tinha humor e talvez esteja rindo da seriedade com que falo do tal silenciamento da música de concerto. Talvez achasse isso tudo um pouco operístico da minha parte — tomara que de onde esteja, veja tempos melhores para a musica dita erudita.

Vamos de 2016.

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