Filtro solar, herói ou vilão?
Estudos científicos comprovam que o protetor não impede a produção de vitamina D

O assunto é polêmico e gera divergências inclusive entre os médicos. Há quem relacione o aumento do uso de filtro solar ao preocupante crescimento do número de casos de deficiência de vitamina D na população de diversos países. Sim, o sol é mesmo a principal fonte de produção de vitamina D no organismo. Mas, de acordo com estudos científicos, mesmo com uso diário de protetor solar é possível manter uma produção normal de vitamina D.
Um desses estudos, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, concluiu que o corpo precisa de doses muito baixas de radiação ultravioleta para sintetizar a vitamina D. Esse processo acontece com a passagem de radiação pela pele coberta por roupas leves e pelo couro cabeludo.
De acordo com a pesquisa, realizada em 2018 com 95 voluntários (https://www.sbd.org.br/exposicao-solar-leve-com-medidas-fotoprotetoras-nao-impacta-a-producao-de-vitamina-d-pelo-organismo/), a variação dos níveis plasmáticos de vitamina D foi cerca de 4mg/ml maior para o grupo exposto com filtro solar do que para o grupo confinado, mostrando que ocorreu síntese efetiva de vitamina D após breve exposição ao sol, mesmo com filtro solar. Entre o grupo exposto com o produto e o grupo exposto sem o protetor, a variação dos níveis plasmáticos de vitamina D não apresentou diferença significativa.
É importante lembrar que estamos falando do Brasil, um país tropical, onde os índices de radiação UV são elevados, praticamente, o ano inteiro. O que significa que o uso de filtro solar nas áreas diretamente expostas ao sol é imprescindível, em qualquer época, para prevenção de manchas, queimaduras, fotoenvelhecimento e câncer de pele, o tipo de câncer mais frequente no país. O excesso de exposição ao sol é o principal fator de risco para o surgimento da doença.
Portanto, não se trata de vilanizar o sol, mas de usufruir dos benefícios e das delícias dos dias ensolarados sem prejuízos para a saúde. É aí que entra o filtro solar como um importante aliado.
Entre as razões para a deficiência de vitamina D estão: não se expor diretamente ao sol em momento nenhum do dia (os horários mais indicados são antes das 10h e depois das 16h); dietas restritivas, má-absorção do intestino (sobretudo em pacientes que fizeram cirurgia bariátrica), obesidade, sedentarismo, alguns medicamentos de uso regular e variações nos receptores de vitamina D nos tecidos. Ou seja, todas elas independem do uso de protetor solar, que leva a fama de vilão injustamente.
Dica de dermato: aproveite o sol, de preferência nos horários antes das 9h e depois das 16h, com filtro solar, e acompanhe, regularmente, seus níveis vitamina D. Se a suplementação for necessária, ela pode ser feita de forma segura e eficaz, desde que recomendada e acompanhada pelo seu médico.