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Por Daniel Sampaio: advogado, ativista do patrimônio, embaixador do turismo carioca e fundador do Instagram @RioAntigo
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Copacabana Palace: o centenário de um ícone

Os 100 anos de um lugar simbólico para a construção da identidade carioca e de suas memórias

Por Daniel Sampaio Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 ago 2023, 23h35 - Publicado em 14 ago 2023, 19h54

O atual Belmond Copacabana Palace foi construído ao estilo da Riviera Francesa e parecia um luxuoso e imponente colosso em meio ao ambiente ainda de baixa densidade que era a Copacabana da época — repleta de casas e mansões, mas cheia de vazios. Ele foi um projeto do arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo que projetou o Hotel Glória.

Assim como o Copacabana Palace, o Glória também foi idealizado e comissionado para suprir a carência de hotéis de alto padrão no Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, suprir a demanda que cresceria significativamente devido aos eventos de comemoração pelo Centenário da Independência, em 1922.

Embora planejado para abrir a tempo de setembro de 1922, as dificuldades para importar mármores e outros materiais luxuosos, bem como as ressacas marinhas de 1922, atrasaram as obras. Outros hotéis planejados para o evento conseguiram terminar suas obras. Mas o Copa ficaria para o ano seguinte.

Foto aérea do Copacabana Palace, c. 1930
Foto aérea do Copacabana Palace, c. 1930 (AGCRJ/Reprodução)

No dia 13 de agosto de 1923, tem início o Baile de Abertura do Copa. O evento não dá certo, pois sua atração musical, a vedete francesa “Mistinguetti” não consegue se apresentar, gerando uma avalanche de pedidos de reembolso, todos prontamente atendidos por Octávio Guinle. Depois desse fiasco, o hotel demorou a atrair clientela, mesmo com preços acessíveis e transporte até o Centro do Rio incluído. A estratégia precisava mudar.

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Em 1923, Octávio Guinle inaugura também o Copacabana Theatro-Cassino, onde hóspedes e visitantes tinham uma sofisticada experiência que ia muito além da jogatina: teatro, música, dança, entretenimento e gastronomia, na companhia de gente muito sofisticada, estilosa e interessante. A estratégia funcionou: ao longo dos anos, personalidades como Orson Welles, Santos Dumont, Marlene Dietrich e Edith Piaf deram o ar de suas graças ao estabelecimento.

Desde sua inauguração, o Theatro-Cassino enfrentou uma batalha jurídica para manter sua licença de operação, resultado desejado pelo então presidente Arthur Bernardes. Merecidamente, os Guinle venceriam essa novela judicial dez anos depois.

Já em 1924, Guinle tem a ideia de realizar seu primeiro baile de carnaval, com uma folia sofisticada, criativa e extravagante. Ao longo do tempo, tornou-se parte do calendário jet setter mundial, atraindo estrelas de Hollywood como Orson Welles, Jayne Mansfield, Ginger Rogers e a divina Rita Hayworth, que se fantasiou de baiana.

O cartaz do filme
O cartaz do filme “Flying down to Rio”, de 1933, com seu protagonista, Fred Astaire, em cena (Internet/Reprodução)

Nos anos 30, já estava se consolidando a imagem do Copacabana Palace como o maior ícone de sofisticação deste nosso paraíso tropical que passava a ser conhecido como “Cidade Maravilhosa”.

Esse ambiente foi bem retratado no filme “Flying Down to Rio”, com Fred Astaire e Ginger Rogers protagonizando sua primeiríssima dança nas telonas e com as famosas cenas de acrobacias aéreas femininas mostrando o nosso Copa (mesmo que com imagens geradas em estúdio).

Em 1938, foi a vez do Golden Room, que se tornou uma das mais importantes casas de espetáculos musicais do país. Nomes como Nat King Cole, Tony Bennett, Ella Fitzgerald, Edith Piaf e Ray Charles foram responsáveis pela construção dessa lenda.

Em 1943, a boate “Meia Noite” junta-se à poderosa lista de atrações do Copa. Era considerada, de fato, a primeira boate do Rio, com suas portas abrindo somente a partir da meia noite e o ambiente totalmente vedado (sem saber quando amanhecer). Foi um lugar de muitas atrações, sobretudo da Rádio Nacional, que transmitia a música ao vivo direto do palco da “Meia Noite” em um de seus programas. Nomes como Nora Ney, Ivon Cury, Marlene e Dóris Monteiro começaram suas carreiras de crooners por lá.

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O cantor norte-americano Nat King Cole se apresenta no palco do Golden Room, no Copacabana Palace, em 1959
O cantor norte-americano Nat King Cole se apresenta no palco do Golden Room, no Copacabana Palace, em 1959 (Internet/Reprodução)

Com a proibição do jogo, em 1946, é o fim da linha para o Theatro-Cassino. Mas Octávio Guinle mantém a vocação do espaço e, em 1949, abre as portas do Teatro Copacabana Palace. A peça de estreia foi “A mulher do próximo”, de Abílio Pereira Almeida, com Paulo Autran.

Aliás, Fernanda Montenegro estreou sua carreira teatral por lá em dezembro de 1950, com a peça “Alegres canções das montanhas”. Sim, foi o primeiríssimo palco em que a nossa “Fernandona” pisou. É o Copa sendo épico, mais uma vez.

Em 1953, o Teatro sofreu com um incêndio (que levou embora também o “Golden Room” e a “Meia Noite”), mas logo ressurgiu como uma fênix, poucos anos depois. O Teatro não sucumbiu ao fogo, mas em 1994, suas atividades foram encerradas em decorrência da política de desmonte da Cultura promovida pelo Governo Collor — uma tragédia para a produção artística em todo o país. Felizmente, o Teatro Copacabana Palace reabriu suas portas em novembro de 2021.

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Ao longo de décadas, o “Copa” virou praticamente um sinônimo do bairro. A Princesinha do Mar e seu grande hotel atravessaram juntos as ondas da História. Tantos bailes de carnaval, réveillons, e dias ensolarados (ou não) por onde tanta gente andou, ao longo de quase 100 anos, certamente geraram muita história para contar.

Brigitte Bardot e Elis Regina, na varada do Copa, na década de 1960
Brigitte Bardot e Elis Regina, na varada do Copa, na década de 1960 (Internet/Reprodução)

Teve muita graça e beleza: Brigitte Bardot e Elis Regina protagonizaram momentos mágicos na varanda do Copa — para as câmeras dos fotógrafos e também para os fãs nas calçadas. Polêmica e notoriedade também não faltaram: a cantora Janis Joplin e o cantor Rod Stewart e seus músicos constam do rol dos expulsos das dependências do hotel: ela por nadar nua na piscina em 1970; eles por jogar uma partida de futebol na suite, destruindo objetos e obras de arte em 1977.

Em 1985, chegou-se a cogitar a demolição do hotel, o que foi impedido pelo tombamento do edifício junto aos órgãos patrimoniais federal, estadual e municipal. Atualmente, o hotel Belmond Copacabana Palace é considerado um marco da paisagem urbana carioca e é tombado nas esferas federais, estaduais e municipais como patrimônio histórico, devido à sua importância cultural e arquitetônica para o Brasil.

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Você sabia que o Copa foi eleito um dos 10 hotéis mais icônicos do mundo segundo a conceituada revista Condé Nast Traveller, em 2015?

Um dos antigos bailes de carnaval do Copa, em foto colorizada (provavelmente dos anos 50)
Um dos antigos bailes de carnaval do Copa, em foto colorizada (provavelmente dos anos 50) (Internet/Reprodução)

Não irei mencionar a enorme lista de atrações e eventos que o Copacabana Palace já está realizando e ainda realizará em celebração pelo seu centenário. Convenhamos: aqui nesta coluna a gente prefere falar de coisa velha (rs). Só que uma coisa ficou certa para mim: o Copa ainda deve dar muito o que falar em 2023 e nos próximos anos. O futuro nos promete excelentes histórias, daquelas que às vezes só o Copacabana Palace pode nos contar.

*Daniel Sampaio é advogado, pesquisador, memorialista e ativista do patrimônio. Fundou o Instagram @RioAntigo e é presidente do Instituto Rio Antigo.

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