Calendário: saiba algumas comemorações redondas de 2023
Fizemos uma pequena lista de efemérides importantes para o Rio no ano que vem
Brasileiro gosta de comemoração; e o carioca mais ainda. Tem algo que nos fascina nos números redondos, não é? Parece que faz ainda mais sentido comemorar, relembrar, homenagear e refletir sobre pessoas, acontecimentos ou lugares quando eles estão completando 10, 50, 100 anos. São marcos temporais perfeitinhos, que indicam a passagem arredondada de mais um ciclo, também arredondado.
No ano de 2023, as efemérides que vão fazer parte da vida do carioca que ama vasculhar a nossa memória vão ser das mais variadas. Temos para todos os gostos, do hotel de luxo ao carnaval, do samba à MPB, de Madureira até a Barra. Vamos conferir?
100 anos do Copacabana Palace Hotel
Com a inauguração do hotel Copacabana Palace, em 1923, o bairro de Copacabana consolidou a sua posição de espaço elegante e cobiçado, tornando-se um ícone do Rio e do Brasil para o mundo. O atual Belmond Copacabana Palace foi construído ao estilo da Riviera Francesa — um projeto do arquiteto francês Joseph Gire. Parecia uma ilha de luxo em meio ao ambiente ainda um tanto inóspito que era a Copacabana da época.
Embora planejado para inaugurar um ano antes — na esteira das comemorações do centenário da Independência — as dificuldades para importar mármores e outros materiais luxuosos, bem como as ressacas de 1922, atrasaram as obras.
Ao longo de décadas, o “Copa” virou praticamente um sinônimo do bairro. A Princesinha do Mar e seu grande hotel atravessaram juntos as ondas da História. Tantos bailes de carnaval, réveillons, e dias ensolarados (ou não) por onde tanta gente andou, ao longo de quase 100 anos, certamente geraram muita história para contar. E até 13 de agosto, data de sua inauguração histórica, o Copacabana Palace deverá dar muito o que falar em 2023.
Centenário de Emilinha Borba
Nascida no bairro da Mangueira em 1923, Emília Savana da Silva Borba foi uma das artistas mais queridas do Brasil. Participava desde criança de programas de calouro como o show de Ary Barroso e, já aos doze, passou a integrar o elenco do Cassino da Urca, após ter sido amadrinhada por ninguém menos que Carmen Miranda.
Conquistou uma legião de fãs no Brasil e no mundo, mas também teve suas inimizades. Algumas de suas rusgas polêmicas foram com as também cantoras Linda Batista e Marlene (que celebrou seu centenário em 22 de novembro).
Emilinha ficou famosa sobretudo por sua atuação na rádio Mayrink Veiga e na Rádio Nacional, onde, nesta última, obteve o título de Rainha do Rádio em 1953. Eternizou inúmeras canções, entre elas as marchinhas “Chiquita Bacana” e “Marcha do Remador”. Esteve também em mais de 30 filmes. Faleceu em 2005, devido a um infarto fulminante.
No ano de seu centenário, esperamos ver homenagens à memória de Emilinha Borba pela cidade e por seus palcos. Seu atuante fã clube já celebrou missa em outubro e está peticionando à Prefeitura por uma estátua da cantora na Lapa, onde também há uma praça com seu nome, na esquina da Rua do Senado com a Rua do Lavradio.
Nota: penso que o Rio celebra pouquíssimo suas Rainhas do Rádio.
100 anos da Portela
No ano de 2023 celebra-se o centenário da Portela, a tradicional agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira, escola supercampeã, de tantos baluartes, mestres, tias e divas. Para marcar a importância dessa comemoração, a Portela leva para a avenida, com os carnavalescos Renato e Márcia Lage, o enredo “Te amo além do infinito!”, que conta justamente a história da escola e de seus 100 anos. O samba consagrado vencedor em 15 de outubro foi escrito por Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Edmar Jr, Bira & Marcelāo, com participação especial de Hélio Porto, e desbravará a memória da Portela por meio de cinco personagens de sua história.
90 anos do Rei Momo
Figura pândega e brincalhona, oriunda da mitologia grega e dos carnavais europeus, que havia aparecido por aqui somente nos palcos de teatros, o Rei Momo fez seu debut oficial no carnaval carioca há quase 90 anos. Em 1933, o cronista carnavalesco Edgard Drumond, do jornal “A Noite”, criou um boneco de papelão a quem chamou “Rei Momo I e Único”. No ano seguinte a essa brincadeira, o jornal decidiu criar um Rei Momo de carne e osso, que seria eleito anualmente, como rei do carnaval carioca. O escolhido foi Moraes Cardoso, um cronista de turfe do jornal, que atendia aos padrões estéticos (estar acima do peso e ter fama de glutão). Cardoso foi eleito por quinze anos consecutivos e o concurso ultrapassou os limites do jornal “A Noite”, tornando-se um certame oficial da cidade. Outro Rei Momo de grande fama e destaque foi Abrahão Reis, que reinou durante os anos 1950 e 1960.
70 anos da Petrobrás
Depois que um poço de petróleo foi encontrado no Recôncavo Baiano em 1939, o Brasil despertou para a possibilidade de termos ouro negro em nosso subsolo. Até Monteiro Lobato abraçou a causa da nacionalização do petróleo nos anos 1940. Surgia a campanha “O petróleo é nosso”, em defesa do controle nacional sobre o produto. O Rio de Janeiro, que na época era a capital do país, foi o palco dessas disputas políticas em torno do petróleo.
Em 1951, durante seu governo democrático, Getúlio Vargas apresentou o projeto de criação da Petrobrás, e depois de muitas discussões no Congresso, em 3 de outubro de 1953 foi aprovada a lei nº 2004, que criou a Petróleo Brasileiro S.A., a Petrobras, e instituiu o monopólio estatal da exploração, do refino e do transporte do petróleo. A Petrobrás é a maior empresa brasileira e tem sua sede no Rio de Janeiro, na Av. Chile.
50 anos do álbum “Secos & Molhados”
Em agosto de 1973, o conjunto musical formado por João Ricardo, Gérson Conrad e Ney Matogrosso, lançou seu álbum de estreia. O disco foi um sucesso estrondoso, vendendo mais de 1 milhão de cópias pelo país (mais de 1500 somente na primeira semana). A banda Secos & Molhados, além de ter revelado o maravilhoso Ney Matogrosso, também tem relevância como uma banda inovadora e visionária, que, em um momento que a MPB se movimentava entre a Bossa Nova e a Tropicália, já nos sinalizava para o rock brasileiro, que reinaria apenas na década seguinte. Com seus figurinos e atitude extravagantes e ousados, os Secos & Molhados foram um fenômeno musical e comportamental, numa época em que a linha dura da ditadura calava as bocas de tantos.
10 anos da Cidade das Artes
No ano de 2013, após anos e anos de abandono da antiga Cidade da Música, pensada na administração de César Maia, foi finalmente inaugurada a Cidade das Artes, um enorme espaço para diversas manifestações culturais, na Barra da Tijuca. Projetada pelo arquiteto francês Christian Portzamparc, a Cidade das Artes é a sede da Orquestra Sinfônica Brasileira e ganhou recentemente o nome de Bibi Ferreira, artista que teve seu centenário este ano.
*Daniel Sampaio é carioca do Grajaú. Advogado, ativista do patrimônio e embaixador oficial da cidade pela Riotur. Fundou há 10 anos o perfil @RioAntigo no Instagram.