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Daniel Sampaio

Por Daniel Sampaio: advogado, ativista do patrimônio, embaixador do turismo carioca e fundador do Instagram @RioAntigo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Os 130 anos de Copacabana

A história do areal que se tornou a sofisticada e caótica "Princesinha do Mar", ícone do Brasil no mundo

Por Daniel Sampaio Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 jul 2022, 13h56
Vista do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, do alto de uma colina, numa época em que só havia casas e muitos espaços vazios no bairro
Copacabana em 1914 -  (Antônio Caetano da Costa Ribeiro / acervo da Fundação Biblioteca Nacional/Reprodução)
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O bairro de Copacabana, que hoje completa 130 anos de fundação, recebeu esse nome em homenagem à Nossa Senhora de Copacabana, santa padroeira da Bolívia. Segundo uma versão, a raiz desse nome estaria na expressão “kota kahuana” (vista do lago), na língua aimará. Para outra corrente, Copacabana teria se originado de “Kopakawana”, nome quíchua de uma divindade inca cultuada na cidade do altiplano andino em tempos pré-colombianos.

No rochedo em que hoje está o Forte de Copacabana, havia, até 1914, uma igreja dedicada à santa, construída em 1746, provavelmente por comerciantes de prata andina vindos da Bolívia. Graças à devoção à virgem, a praia, antes conhecida como “Sacopenapã” — em tupi, “o barulho e o bater de asas dos socós” —, e a avenida construída para ser um das principais artérias do bairro, ganharam o seu nome.

Copacabana era um enorme areal quase desabitado até o final do século XIX, cujo acesso se limitava às suas íngremes ladeiras.  A abertura do Túnel Velho, em 6 de julho de 1892,  foi o marco oficial da inauguração do bairro. A fim de torná-lo ainda mais acessível, inaugurou-se o Túnel Novo, em 1906.

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O Túnel Alaor Prata (conhecido como Túnel Velho) foi inaugurado em 6 de julho de 1892, fazendo a ligação da Rua Real Grandeza, em Botafogo, com o longínquo areal de Copacabana – (Juan Gutierrez - Museu Histórico Nacional/Reprodução)

O livro “A Invenção de Copacabana”, de Julia O’Donnell, mostra a insistente associação do bairro a um novo modelo de modernidade, vinculando-o a uma série valores caros ao estilo de vida das elites cariocas. Para incentivar o uso dos bondes para ir a Copacabana, a Cia. Ferro Carril Jardim Botânico imprimia, no verso de seus bilhetes, quadrinhas bem divertidas, apelidadas pelos cariocas de “Conselhos de Higiene Poética”:

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Pedem vossos pulmões ar salitrado?
Correi antes que a tísica vos algeme
Deixai do Rio o Centro infeccionado,
Tomai um bonde que vai dar ao Leme.

Sai, doentes do corpo e doentes d’alma,
Sem esperanças que arrastais sem calma
Aos nossos olhos um viver inglório,
Tendes bem perto a vida sem pesares,
Ide a Copacabana, usa-lhe os ares,
Aquilo é um portentoso sanatório!

Graciosas Senhoritas, moças Chics,
Fugi das Ruas, da Poeira Insana,
Não há logares para Pic-nics,
Como em Copacabana!

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Elegante moçaime de alto amor!
Dandys de fina luva e bom havana!
Para um “flirt” não há melhor
Do que em Copacabana.”

Com a inauguração do hotel Copacabana Palace, em 1923, o bairro consolida a sua posição de espaço elegante e cobiçado, tornando-se um ícone do Rio e do Brasil para o mundo. O hotel ao estilo da Riviera Francesa — um projeto do arquiteto francês Joseph Gire — parecia uma ilha de luxo em meio ao ambiente ainda um tanto inóspito que era a Copacabana da época. Embora planejado para inaugurar um ano antes — na esteira das comemorações do centenário da Independência — a dificuldade de importar tantos mármores e outros materiais luxuosos, bem como as ressacas de 1922, atrasaram as obras. O Copa, portanto, não estava assim tão ilhado dos problemas do meio em que foi construído.

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A residência dos Guinle na Av. Atlântica – (Revista Fon-Fon (1928)/Reprodução)
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Outro símbolo de sofisticação de Copacabana era o castelinho normando da família Guinle, na esquina da Avenida Atlântica com a Rua Figueiredo Magalhães. Propriedade da matriarca Guilhermina Guinle, era uma das maiores casas da orla do bairro e ocupava o centro de um grande terreno que ia até a rua Domingos Ferreira. Foi construído na década de 1910, para ser a casa de veraneio dos Guinle, com um belo jardim de frente para a praia. A mansão possuía, nos fundos do terreno, uma grande piscina de água salgada, raridade à época. O castelinho foi demolido nos final dos anos 1940, sendo substituído pelo Edifício Camões, inaugurado em 1952, provavelmente o primeiro grande prédio em volume da Avenida Atlântica.

Copacabana vivenciou um apogeu na década de 1950, beneficiada pelo rápido crescimento econômico do Brasil e do Rio, então capital. A decadência, porém, não tardou a atingir o bairro com intensidade, agregando mais um elemento à sua identidade. A favelização fez-se notar nas encostas do bairro. Edifícios de luxo passam a conviver lado a lado com prédios de cubículos. A boemia refinada de boates elitizadas encontra a prostituição e as drogas.

Os ares salitrados podem ainda hoje ser inalados à beira-mar, mas basta caminhar uma ou duas quadras para o interior do bairro para adentrar na atmosfera caótica do movimento intenso das ruas de uma das áreas com maior concentração populacional da cidade. E se for para encarar o caos, que bom que seja em meio à beleza da Princesinha do Mar. Em sua glória e em suas sombras, Copacabana, de longínqua estação balnear, tornou-se um bairro-síntese do Rio.

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*Texto feito em parceria com o advogado e tradutor João Freire, redator da Equipe Rio Antigo.

**Daniel Sampaio é carioca do Grajaú. Advogado, ativista do patrimônio e embaixador oficial da cidade pela Rio Tur. Fundou há 10 anos o perfil @RioAntigo no Instagram.

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