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Por Carla Knoplech, jornalista e especialista em conteúdo digital
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Toda a reação será filmada (e compartilhada) 

Vídeos de pessoas reagindo ao vivo a situações pessoais viram febre na internet, mas revelam o paradoxo da espontaneidade em tempos digitais 

Por Carla Knoplech
Atualizado em 16 dez 2023, 17h58 - Publicado em 16 dez 2023, 17h57

Outro dia fiquei presa em um vídeo de uma jovem que passou em primeiro lugar na faculdade de Medicina após estudar por anos para atingir o feito. Vibrei pela sua conquista segundos após começar a ver o vídeo mas, diferente da esmagadora maioria dos comentários positivos no post em questão, tive uma sensação de estranhamento misturada com a emoção que senti por ela. Essa complexidade de sentimentos se deu por um pequeno detalhe: era ela quem estava se filmando – em tese – desde antes de checar o resultado. Ou seja, o registro mostra desde a sua expectativa em abrir a lista de classificados até o abraço em seu avô, com quem a jovem se encontra na sala logo após sair do quarto. No trajeto entre um cômodo e outro ela estava segurando o celular virado para o seu rosto e continuava filmando as suas reações faciais. 

Talvez eu seja chatérrima por problematizar esse fenômeno, mas senão em uma coluna que se propõe a analisar profundamente o cenário digital atual, onde mais você iria refletir sobre isso? Meu incômodo aqui é com a normalização de alguém se filmar reagindo de maneira premeditada e o quanto esse feito pode roubar a espontaneidade do momento, sem que a pessoa perceba. Basta uma explorada no seu feed mais próximo para você se deparar com reações filmadas de absolutamente tudo que puder imaginar. As mais comuns vão desde contar sobre a gravidez para o cônjuge, passando por pedido de casamento surpresa até o reencontro de pessoas que não se viam há muito tempo. Mas essas são só algumas. Há um submundo de categorias improváveis. 

A questão é que ao filmar a sua reação em um momento tão importante quanto passar em um concurso, pedir alguém em casamento ou revelar uma gravidez, na verdade quem filma pode estar performando para o outro ver e deixando assim de viver essa sensação de maneira realmente espontânea. É como se no afã de querer que esse momento seja eternizado, na verdade, o momento passar a ser roubado. É o jogo de parecer ser, em vez de ser. Eu entendo que o objetivo final seja guardar o momento ou registrar a reação de pessoas amadas. Mas reagir de maneira filmada, e mais importante ainda, postar esse resultado em seguida, nos traz a conversa de sempre que precede o uso das redes sociais e foi totalmente potencializada após o uso em massa da ferramenta: você está sendo ou performando ser?

Notem, os comentários na maioria dessas publicações são extremamente positivos, em sua maioria, e fico feliz por isso. A internet é lugar de tanto viral com conteúdo violento ou negativo, que esse tipo de postagem é um bálsamo nos dias de hoje. Meu ponto aqui, entretanto, é trazer a reflexão sobre de que maneira e em qual nível de intensidade estamos filmando, fotografando e expondo as nossas vidas pessoais em troca de engajamento? Registrar esses vídeos teria valor se eles não fossem postados abertamente? É algo a se pensar.   

Carla Knoplech é diretora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital.

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