Por que rainhas de bateria são hoje mais comentadas que muitos enredos?
Cotada para o posto na Grande Rio, Virgínia Fonseca reacende a disputa entre visibilidade midiática e raízes comunitárias

Muitos enredos para o Carnaval 2026 foram anunciados nas últimas semanas, alguns com transmissão ao vivo e forte repercussão nas próprias agremiações. Ainda assim, nenhum deles alcançou a projeção da troca de rainha de bateria na Grande Rio. Bastou Paolla Oliveira confirmar sua saída para o posto virar pauta nacional. No centro da especulação está Virgínia Fonseca, influenciadora digital com milhões de seguidores e pouca ligação com escolas de samba.
Apontada como possível substituta, Virgínia teve seu nome divulgado pelo jornalista Léo Dias, mas até o momento a Grande Rio não se manifestou oficialmente. O rumor, porém, foi suficiente para movimentar redes sociais, programas de TV e grupos especializados em Carnaval, ofuscando até o anúncio do enredo da Mangueira, “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, revelado ao vivo na TV Globo, no RJ2.
Envolvida na CPI das Bets no Congresso Nacional e citada em meio à perda de mais de 500 mil seguidores, a influenciadora busca agora reposicionar sua imagem. Em 2025, fez sua estreia em um camarote da Sapucaí, ainda sem histórico de participação em quadras ou desfiles. Mas viu nas escolas de samba uma oportunidade de se reconectar com o público e ganhar nova projeção.
A função de rainha de bateria ganhou destaque em 1985, quando Monique Evans brilhou à frente da Mocidade. Desde então, o posto deixou de ser apenas simbólico e passou a funcionar como vitrine para escolas de samba, conectando-as à imprensa, ao show business e ao setor de eventos. Shows, presenças VIP e ações promocionais são articuladas com figuras que ocupam esse espaço ao longo do ano. Afinal, uma escola de samba vive em dois tempos: o desfile na Sapucaí e o de muitas ações ao longo de um ano.
A estratégia midiática adotada pela Grande Rio, mesmo sem confirmação oficial, já surtiu efeito. A escola de Duque de Caxias dominou redes sociais e espaços televisivos nesta sexta-feira (16), deixando no segundo plano pautas culturais importantes, como a do enredo mangueirense que celebra a Amazônia Negra.
Na contramão desse modelo, muitas agremiações têm apostado em figuras da própria comunidade como forma de reafirmar suas raízes. Mais do que uma escolha estética, trata-se de um gesto político e simbólico, que reposiciona as escolas como verdadeiros quilombos urbanos. Algumas ainda mantêm a aposta em celebridades pela visibilidade que trazem, mas outras optam por preservar a essência do samba, agradando à chamada bolha carnavalesca.
O posto de rainha de bateria não soma pontos no julgamento oficial dos desfiles, mas carrega uma carga simbólica poderosa. Ele representa o que cada escola deseja comunicar sobre si mesma. No fim das contas, cada personagem na engrenagem de uma agremiação é peça-chave na construção do espetáculo. E, para quem ama o Carnaval, o que realmente importa vai além das coroas e holofotes: é saber se a escola vem bem, se o samba emociona, se o desfile vai tocar o coração do público na avenida.