Em clima competitivo, desfiles na Cidade do Samba antecipam o Carnaval
Golaço da Liesa para lançar o álbum dos sambas-enredo é uma oportunidade para agremiações perceberem o que está funcionando e o que precisa de ajustes
As três noites de apresentações das escolas do Grupo Especial na Cidade do Samba, entre a última sexta (29) e o domingo (1º), foram carregadas de emoção e um clima competitivo natural pairou no ar.
Quem cantou mais? Quem se apresentou melhor? O fato é que essa ação, comandada pelo presidente Gabriel David, foi um golaço da Liesa, que abriu os seus portões gratuitamente para a comunidade do samba e chegou a receber 10 000 pessoas na sexta (29). A entrada era um quilo de alimento não-perecível.
Esse evento, que tem como principal objetivo o lançamento do álbum com as 12 faixas dos sambas-enredo para o próximo Carnaval, teve sua origem em dezembro de 2021, durante o período em que os desfiles foram suspensos pela pandemia.
Naquela ocasião, o reencontro dos sambistas foi carregado de emoção, marcando um momento único para o setor. Hoje, os que eram chamados “minidesfiles” evoluíram para a a celebração do Dia Nacional do Samba, um formato criado para valorizar as agremiações do Grupo Especial.
No entanto, um aspecto curioso tem surgido: o evento é válido para avaliações sobre o Carnaval que está por vir? O formato ficou com aparência de que não vale pontos, mas vale, sim, alguma coisa. Essa ação, por filosofia, não foi concebida para antecipar as competições da Avenida, já que ali não há uma avaliação formal, que só ocorre no desfile oficial.
Trata-se de um espetáculo híbrido, em que parte dos componentes usa fantasias sem conexão com o enredo futuro, enquanto outros trajam camisetas típicas de ensaios técnicos.
O que realmente importa nesses desfiles são os elementos técnicos de canto e sinergia entre os componentes que podem ser observados e ajustados para o próximo ciclo, tais como:
* A qualidade do samba: ele está funcionando bem na prática?
* Harmonia entre bateria e carro de som: existe sintonia entre esses dois pilares?
* Energia dos componentes: como os convidados reagem e interagem ao cantar o samba?
* Desempenho dos casais de mestre-sala e porta-bandeira: há conexão e fluidez nas apresentações?
Esses encontros são oportunidades preciosas para ajustes e alinhamentos técnicos, mas não devem se transformar em uma busca pela “melhor escola”.
Para as próximas edições seria interessante pensar em uma direção artística, dando uma organizada no estilo a ser apresentado. “Desfiles de escolas de samba são representações do sagrado das agremiações”, como pontuou a carnavalesca Maria Augusta durante as três noites. Portanto, a energia de cada agremiação pode ser observada em ações como essa.
Essa oportunidade de refinamento de detalhes técnicos foi impactante por honrar a rica cultura do samba e do povo preto, que são os verdadeiros donos do espetáculo. Elementos ancestrais, através da forte cultura de terreiro, transformam esse território em algo mágico, que vai muito além de avaliações formais. E que venha o Carnaval 2025!