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Bruno Chateaubriand

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Carnaval: a cultura das bandeiras

Superstição, técnica e alguns detalhes sobre os cuidados que as porta-bandeiras mantêm dias antes dos desfiles das escolas de samba

Por Bruno Chateaubriand Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 abr 2022, 11h40 - Publicado em 6 abr 2022, 20h46
Histórias das porta-bandeiras das escolas de samba do carnaval carioca
A artesã Aurora Galonete com as bandeiras das escolas de samba do Carnaval Carioca. (Divulgação/Divulgação)
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Elegância, giros, meias-voltas, torneados, ancestralidade, esse vocabulário faz parte do universo das porta-bandeiras do Carnaval do Rio de Janeiro. Elas carregam a responsabilidade da condução dos pavilhões das escolas de samba da nossa cidade. Mestre-sala e porta-bandeira não têm só uma dança diferente de todos os outros integrantes de uma agremiação, eles não sambam e têm um palavreado e regras de etiqueta bem diversa, que começa no início do século passado, quando Hilário Jovino Ferreira deu o pontapé inicial para essa nova forma de arte. Estima-se que o estilo de dança foi influenciado por danças pré-nupciais das adolescentes africanas cortejadas pelos jovens guerreiros.

Desde 1938, quando o julgamento do casal passou a fazer parte do cronograma, muita coisa mudou. Palavras dessa corte da agremiação, passaram a constar em um dicionário dos casais. O talabarte, por exemplo, que é um cinto usado para sustentar a bandeira, tem um lugar especial. Alguns são forrados, outros não. Isso tudo para fugir do grande pesadelo de qualquer porta-bandeira, enrolar o pavilhão na frente de um módulo de julgamento, no meio da apresentação, e perder pontos.

Para fugir desse possível erro, as condutoras dos pavilhões criaram técnicas que vão desde molhar a bandeira com água antes do desfile (para aumentar o peso em caso de vento) até mandar produzir duas bandeiras para o dia oficial de desfile. Esse é o caso de Lucinha Nobre, primeira porta-bandeira da Portela, que, este ano, fez o tipo vento e o tipo tempo firme. Buscando firmeza, Rute Alves, atual campeã do carnaval pela Unidos do Viradouro, mandou trocar o cetim tradicional, tecido usado pela grande maioria, pelo cetim podange, um modelo mais encorpado e firme. Aliás, firmeza não pode faltar quando se carrega um pavilhão pesado em um braço e uma fantasia de mais de vinte quilos no corpo. Isso tudo deve acontecer com um olhar concentrado, elegante e feliz no seu mestre-sala.

Selminha Sorriso, Squel Jorgea e Marcella Alves, da Beija Flor, Mangueira e Salgueiro, ambas com mais de vinte anos de passarela, tratam a bandeira como um filho. Depois de buscar os pavilhões feitos pela artesã Aurora Galonete, artista preferida para a elaboração das bandeiras, levam o símbolo da escola para uma espécie de bênção. Marcella que nasceu dia 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, levou seu pavilhão vermelho e branco do Salgueiro para receber a proteção da sua santa de nascimento e devoção. Já Selminha, da azul e branco de Nilópolis, marca hora e dia na agenda para que possa cumprir um ritual de recebimento do manto sagrado da agremiação. Squel, por sua vez, dorme com a bandeira verde e rosa durante a semana que antecede a disputa e entrega a mesma para a mãe benzê-la. 

Com vento ou sem vento, com chuva ou não, as muitas porta-bandeiras do Carnaval Carioca estarão pisando, nos próximos dias, na passarela do samba para executar uma arte essencialmente nossa e que, por isso, merecem os nossos aplausos. 

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