As escolas de samba e o respeito à comunidade que sustenta o Carnaval
Um desfile de escola de samba não acontece isoladamente; ele é o ápice e o fim de um ciclo que dura o ano inteiro

Com a proximidade do Carnaval, é comum vermos artistas se aproximando das escolas de samba, aproveitando o momento pré-desfile para atrair holofotes e visibilidade. No entanto, é fundamental refletir sobre o verdadeiro significado desse espetáculo e o papel central das escolas de samba e de suas comunidades.
Um desfile de escola de samba não acontece isoladamente; ele é o ápice de um ciclo que dura o ano inteiro. Por trás da festa grandiosa na avenida, há um núcleo comunitário que se reúne semanalmente, celebrando sua cultura, promovendo ações sociais e mantendo vivas as tradições que sustentam o samba. Feijoadas, oficinas culturais, ensaios e convivência reforçam a máxima do sambista Beto Sem Braço: “O que espanta a miséria é festa”.
As escolas de samba são verdadeiros quilombos urbanos, espaços de resistência cultural e social, onde a comunidade cria, vive e sustenta o samba. Nesse contexto, a chegada de artistas às vésperas do Carnaval deve ser tratada com sensibilidade. Embora seja positivo que figuras públicas se envolvam com as escolas, é preciso lembrar que os verdadeiros protagonistas desse espetáculo são os sambistas e integrantes que dedicam seu ano inteiro ao fortalecimento da agremiação.
No Salgueiro, por exemplo, há o assentamento dos orixás que regem a agremiação em frente ao palco principal, ratificando a conexão espiritual e ancestral que permeia o universo das escolas de samba. Esses espaços são mais do que áreas de entretenimento; são terreiros sagrados, regidos pelo respeito às tradições e pelo trabalho de quem mantém viva a essência do samba.
O desfile de Carnaval, que encanta o mundo, é o momento em que essa comunidade tira do “armário” as fantasias e apresenta sua narrativa cuidadosamente construída. É a celebração de um esforço coletivo, um espetáculo que só é possível porque há, por trás das luzes e dos aplausos, uma escola de samba pulsando vida e história.
Para os artistas que se aproximam nessa época, a mensagem é clara: sejam bem-vindos, mas respeitem. Respeitem as raízes, os sambistas e os trabalhadores que carregam no corpo e na alma o peso e a alegria de fazer o Carnaval acontecer. Afinal, os verdadeiros donos da festa são aqueles que, de mãos dadas com a agremiação, transformam sonhos em realidade, ano após ano.