Travessa Guimarães Natal & Rua Assis Brasil
Coladas ao Parque Estadual da Chacrinha, essas duas ruas de Copacabana esbanjam bucolismo e silêncio em meio ao trânsito da Rua Tonelero A Travessa Guimarães Natal, em Copacabana, é uma rua pequena e estreita, que se inicia numa curvinha no final da Rua Guimarães Natal, onde está a entrada para o Parque Estadual da Chacrinha. […]
Coladas ao Parque Estadual da Chacrinha, essas duas ruas de Copacabana esbanjam bucolismo e silêncio em meio ao trânsito da Rua Tonelero
A Travessa Guimarães Natal, em Copacabana, é uma rua pequena e estreita, que se inicia numa curvinha no final da Rua Guimarães Natal, onde está a entrada para o Parque Estadual da Chacrinha.
por Pedro Paulo Bastos
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“Misericórdia, parece que você tomou um banho!”, exclamou uma senhorinha de cabelos brancos ao me ver. Eu vestia uma camisa social toda engomadinha, azul, de tonalidade escura. Raios de sol bem nocivos ao humor de qualquer pessoa incidiam diretamente sobre a Travessa Guimarães Natal, em Copacabana, e, consequentemente, sobre todas as cabeças de pedestres que passavam ali naquela hora. A camisa estava colada ao corpo, favorecida pela mochila preta que eu carregava nas costas. A calça caqui já apresentava a evidência de filetes de água pelas pernas. A câmera, presa ao pescoço, fugia à regra. Era uma manhã de quarta-feira, eu é quem não podia fugir à regra de vestir qualquer roupa para ir à faculdade, e logo depois, ao trabalho. Essa transpiração toda em poucos minutos de chegada ao local. O motivo é: a Travessa Guimarães Natal é uma ladeirona. Sem árvores – logo, mais assoleada do que deveria -, e com paralelepípedos que dificultam um pouco a caminhada se você não subi-la pela estreita calçada. Mas que é a exceção da exceção da exceção das ruas de Copacabana, ah, isso é.
Apesar de ela estar colada ao Parque Estadual da Chacrinha, uma área aberta ao público, o seu acesso intimida a quem não mora ali porque a Rua Guimarães Natal (não confundir a travessa com a rua), sua vizinha, tem bem uma cancela na esquina com a Rua Tonelero. Uma medida necessária em tempos violentos como esse, ainda mais para ruas escondidas em bairros movimentados. Quem quiser visitar, no entanto, é passe livre, eu tirei a prova. Às vezes sou barrado em alguns lugares e por isso fico tão na defensiva… Tinha muita curiosidade de desbravar melhor essas ruas na encosta de Copacabana. Elas são bem diferentes das transversais à Barata Ribeiro e à Nossa Senhora de Copacabana. Muito mais bucólicas, calminhas e de clima muito familiar.
A Travessa Guimarães Natal, além disso, contém casas, coisa pouco comum pela zona sul. E pelo que pude comprovar, ela também faz jus ao padrão mais ou menos estabelecido de que são nas ruas mais interioranas de Copa onde está quase toda a totalidade de albergues (hostels). O trânsito de gente loira por ali era recorrente no momento em que percorri a via. Até eu me acostumar com a ideia de que a Guimarães Natal não era bem uma rua residencial, me surpreendia quando os gringos saíam de uma porta de madeira verde, que se confundia ao paredão da casa coberto por heras. No caso, o paredão do King George Hostel. Mais adiante, o Cabana Copa Backpacker Rio Hostel prolongou a altura do seu muro amarelo com bambus. Resultou num visual bem bonito.
Chão de paralelepípedo, pouca sombra efetiva e edifício antigo na Travessa Guimarães Natal.
Repare no topo da fachada dos edifícios à esquerda, que, interessantemente, vem em detalhes simétricos. Ao lado, o Copacabana Vert, recém-construído na esquina com a Rua Assis Brasil.
O lado ímpar da Travessa Guimarães Natal é todo constituído de prédios antigos, muitos com janelas venezianas. Um detalhe interessante de quatro prédios, nos números 7, 9, 11 e 13, é o topo deles, em formato simétrico, com três degraus – ou pelo menos uma espécie de – em cada lado. As luminárias chamativas contrastam com as portarias simplórias, como a do Edifício Tanucha, por exemplo. Agora o que entra em constraste mesmo com o resto da rua, que tem um aspecto mais de subúrbio, é o Copacabana Vert. É um edifício moderníssimo, com varandas espelhadas e um bom paisagismo de entrada. Foi construído em cinco pavimentos – quem checar pelo Google Street View verá que em janeiro de 2010 ele estava em fase de construção. Preciso nem dizer que o último andar, a cobertura, deve ter uma vista incrível para o bairro e para o Parque Estadual da Chacrinha, no terreno de trás.
À esquerda da Travessa Guimarães Natal começa a Rua Assis Brasil, uma das ruas mais requisitadas de Copacabana pela sua calmaria, bom nível imobiliário e proximidade com a estação Cardeal Arcoverde do metrô. Se vocês repararem nas fotos seguintes, esse pedaço que percorri é uma colcha de retalhos. Na Assis Brasil se vê um monte de nesgas de sol, tamanha a arborização da rua. Bem diferente da Guimarães Natal, que é praticamente um deserto do Saara. Esse panorama foi melhor apreciado através do trecho vazio da Rua Assis Brasil, à direita da Travessa Guimarães Natal, onde estão os fundos do Copacabana Vert e o Parque Estadual da Chacrinha. O aclive fica tão íngreme ali que em dias de chuva eu não me arriscaria descer, pela calçada de pedras portuguesas, com qualquer tipo de sapato. É sério!
A Rua Assis Brasil, no seu trecho superior, colado ao Morro de São João: sol, sombras, árvores e muitas plantas. Veja também que, diferentemente da maioria dos prédios do bairro, nos condomínios dali contam com vários andares de garagem.
Na esquina, o simpático edifício Montesano e, ao fundo, o restante da Rua Assis Brasil em direção à Rua Tonelero.
A Rua Assis Brasil compartilha seu espaço com edifícios antigos e outros mais recentes, como o do número 143, que é um megacondomínio, onde estacionamento parece ser o que não falta. Inclusive um dos acessos para a garagem lembra bem o de um shopping, margeado por um bonito jardim, com diferentes espécies de plantas. Toda a Assis Brasil é assim, embora nesse pedaço, particularmente, a presença de elementos da natureza seja mais forte, não só pelas árvores altas bem como pela proximidade com o Morro de São João logo atrás. O desenho curvilíneo da rua deixa em evidência a beleza e o posicionamento das árvores, além, claro, do contraste entre o paralelepípedo da via e as pedras portuguesas da calçada.
Um portal sob um dos prédios abre caminho para uma travessa que se conectará à Rua Otaviano Hudson.
Ao longo da Rua Assis Brasil é possível ver diferentes intervenções nos troncos das árvores, como ninhos improvisados, gaiolas e flores avulsas.
O restante da rua é previsível e retilíneo, mas não menos bonito. É um mar de prédios, típico da “Princesinha do Mar”, com muitas janelas e portarias bem arrumadas. Como a rua é parcialmente fechada, e a segurança, reforçada, não houve a necessidade de se colocar portões e grades nas calçadas, sem destinar um espaço público à exclusividade dos condomínios. Assim, as portarias, muitas delas de vidro, estão unicamente separadas da via por pequenos degraus. Ademais, um portal branco abre espaço sob um dos prédios da Assis Brasil, conectando-a com a Rua Otaviano Hudson por uma ruazinha também bastante simpática e residencial.
Na Assis Brasil, graças às sombras abundantes, a minha camisa social já voltava ao estado sólido após quase cinquenta minutos de puro encharque. Eu me misturava aos outros moradores que desciam a rua em direção aos seus trabalhos. Grande parcela dos homens tinha aquele jeito de executivo. Uns preocupados nas conversas telefônicas em seus iphones, enquanto outros, distraídos com o som de seus ipods, ajeitavam a mochila Wöllner nas costas. As mulheres, também com cara e roupa de meio empresarial, marchavam pelas calçadas da Rua Assis Brasil de maneira com que ouvíssemos bem o atrito de seus saltos com o chão. Os porteiros, de vassoura na mão, cumprimentavam com um “Bom dia!” a quem lhes acenasse, e os poodles, em coleiras, latiam amistosamente ao encontrarem outros mascotes. Um cenário de boa vizinhança, sem dúvida.
O encontro da Rua Assis Brasil, com sua cancela, e a Rua Tonelero, bem em frente à Praça Cardeal Arcoverde. Atente para a árvore de esquina, floridaça.
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