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Ruas Diógenes Sampaio, Itu e Embaixador Morgan – Humaitá

Esqueça a boemia da Cobal ou o trânsito caótico da Rua Humaitá: o bucolismo está lá no alto da Rua Miguel Pereira Colada ao Corcovado. Vista para a Rua Diógenes Sampaio, na esquina com a Rua Embaixador Morgan. por Pedro Paulo Bastos A verticalização acentuada é um fator recorrente no modo de ocupação do solo […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 18h45 - Publicado em 16 mar 2014, 20h27

Esqueça a boemia da Cobal ou o trânsito caótico da Rua Humaitá: o bucolismo está lá no alto da Rua Miguel Pereira


Colada ao Corcovado. Vista para a Rua Diógenes Sampaio, na esquina com a Rua Embaixador Morgan.

por Pedro Paulo Bastos

A verticalização acentuada é um fator recorrente no modo de ocupação do solo na Zona Sul do Rio. Por outro lado, quem circula pela caótica Rua Humaitá, situada na referida zona, mal imagina que subindo uma de suas transversais, em direção ao morro, seja possível encontrar alguns recantos exclusivamente residenciais – e o mais curioso, unifamiliares! Antes de dar continuidade ao passeio, que começou pela simpática Rua Miguel Pereira, devo afirmar que cheguei até lá graças às sugestões de alguns leitores do As Ruas do Rio, aos quais submeti, há pouco tempo na página do Facebook, uma pesquisa sobre quais ruas eles gostariam de ver retratadas aqui. Foi assim que eu cheguei lá no alto do Humaitá, na tardinha do último sábado 15 de março.

Bastou penetrar a Rua Miguel Pereira em direção às ruas Embaixador Morgan, Itu e Diógenes Sampaio para percebermos, eu e a Alessandra, amiga sempre companheira nessas minhas expedições urbanas, a vocação bucólica desta região, tão diferente (e mais tranquila) que o “baixo” Humaitá. O silêncio impera por ali, desrespeitado vez ou outra pelas vozes muito sóbrias de um ou outro morador que deixasse escapar um tom mais alto durante uma conversa que por ventura fugisse para fora de sua janela. Símbolos românticos, tão peculiares aos lugares com alma pacata, vão surgindo aos olhos, tais como aquelas luminárias antigas que, se não me engano, são chamadas de candeeiros. Eles estão aos montes por essas vizinhanças junto às fachadas das nobres, mas, ao mesmo tempo, singelas residências. Muros baixos e ausência de grades ou portões também chamam a atenção por lá.

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Residências. Casas espaçosas e confortáveis, mas simples, configuram o panorama residencial da Rua Embaixador Morgan.


Identidades bem marcadas. Na rua, cada residência tem sua própria identidade, seja pelas cores, seja pela estética. No imóvel da esquina, as janelas do primeiro piso são de ferro com entalhes de figuras simétricas, enquanto as janelas de cima são constituídas por venezianas verdes de madeira.

Decidimos percorrer o quadrilátero formado pelas ruas Embaixador Morgan – contígua à Miguel Pereira –, Diógenes Sampaio e, em seguida, a Rua Itu. Não há critério algum nessa escolha, mas é que a região nos pareceu tão diversa que, se nos detivéssemos em uma rua apenas, com certeza estaríamos deixando de lado uma ou outra faceta que a rua vizinha poderia oferecer de bacana a você, querido leitor e, suponho, não tão bem familiarizado com a área. Sem falar que percorrer esse conjuntinho de ruas é uma tarefa pouco pragmática, no sentido de que há tanta coisa para admirar por ali que é bem melhor deixar as pernas e os olhos comandarem o passeio do que o cérebro mandão e limitador.

“Sem falar que percorrer esse conjuntinho de ruas é uma tarefa pouco pragmática, no sentido de que há tanta coisa para admirar por ali que é bem melhor deixar as pernas e os olhos comandarem o passeio do que o cérebro mandão e limitador.”

 

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A Rua Embaixador Morgan, por exemplo, é uma via que me deixou atordoado assim que aportei por lá. Explico-me: cada casa tem seu próprio detalhe, suas próprias cores, sua própria identidade. Os matizes de lá não se repetem neste trecho, então é muito fácil você designar a casa vermelha, a casa azul, a casa de janelas azuis bordeadas por um amarelo-ovo bastante elegante etc. Como no meu relógio o ponteiro grande apontava para o doze e o pequeno para o seis, os postes de rua já vinham se acendendo naturalmente, assim como os candeeiros das casas. A luz amarela, um tipo de luz que eu considero aconchegante, dava toda uma graça a mais aos imóveis da rua. Um lampejo que sobressaltava sutilmente pontos isolados das fachadas e da flora urbana, outro atrativo da Rua Embaixador Morgan. A sua diversidade de folhas e de galhos é encantadora.


Na Diógenes Sampaio. Um gato de pelagem branca encara a lente da câmera enquanto um ciclista adentra a rua.


Ao ar livre. Morador trabalha sobre um fusca antigo muito próximo de uma esplêndida árvore que poderia se passar, tranquilamente, por um flamboyant, mas não é. Quem souber o nome dessa belezinha, escreva!

Na esquina com a Rua Diógenes Sampaio, onde entramos, deixando de lado a igualmente aprazível Rua Aiuru, há uma imóvel de dois pavimentos muito, mas muito simplório, só que com detalhes pra lá de sofisticados. Começando pela porta social, sem firulas alguma, simplesmente uma porta branca feita de madeira colada à rua, sem grades, nem nada. As janelas do segundo piso trazem venezianas verdes, também de madeira, enquanto as do primeiro piso eram protegidas por um ferro escuro e todo desenhado com figuras simétricas. No “rodapé” da fachada, placas de pedra não-uniformes contornam a sinuosidade do imóvel, comungando, aliás, com os próprios limites do piso das ruas Embaixador Morgan e Diógenes Sampaio. Numa, a rua é de paralelepípedos; na outra, é de asfalto, aquela superfície lisinha.

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A vista inicial da Rua Diógenes Sampaio, sob a perspectiva de quem vem da Embaixador Morgan, é a de um muro coberto por plantas – espécie unha-de-gato, quem sabe – com um deleitável edificiozinho verde lá no final e um “pipocamento” de miniflores laranjas sobre as folhas mais altas de uma árvore de média altura no lado oposto ao muro. Como já lhes disse, o silêncio impera pelas vizinhanças, mas bem na curva da Diógenes Sampaio era possível ouvir, entre os latidos de um casal de Canis lupus (vulgo Lobos) e o tilintar das ferramentas de um jovem que trabalhava sobre um fusca suspenso por um macaco, a vivacidade dramática de alguma ópera bastante conhecida ressoando de dentro de uma das residências.


Na Diógenes Sampaio II. Plantas que recaem sobre a portaria antiga de uma garagem. Ao lado, a simpática dona Cristina Cabral, mantenedora da quaresmeira em foco.


A Rua Itu. Vista da Rua Itu com a Rua Diógenes Sampaio ao fundo, e a orquídea branca que adorna um dos troncos da via 

O auge da expedição pela Rua Diógenes Sampaio foi, sem dúvida, quando nos deparamos com uma bela quaresmeira junto a uma casinha branca tão bonita quanto à árvore que lhe faz companhia. A quaresmeira, como vocês podem ver, dispõe dessas flores roxas que, por um momento, de tão bonitas, pensei que pudessem exalar algum perfume se aproximasse o nariz delas. Foi neste momento quando surgiu por uma pequena janela a senhora Cristina Cabral, moradora há mais de trinta anos da casinha branca, quem, por alguns instantes, pensei que fosse me repreender por eu estar ali naquele tête-à-tête tão gostoso com a quaresmeira em frente à sua residência. Ledo engano! Ela, na verdade, me agradeceu por eu ter gostado tanto da quaresmeira dela, a qual vem cuidando já há algum tempo e com muito carinho, como me pareceu. Batemos o maior papo depois disso, não só sobre a quaresmeira, assim como sobre outras árvores e, inclusive, sobre o meu propósito de trabalho no As Ruas do Rio, que é precisamente esse: difundir e preservar a memória visual dessas coisas esplêndidas e interessantes que temos no nosso extenso espaço urbano.  

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Paisagismo e natureza. Ajardinado simples e com bons efeitos estéticos junto à residência na Rua Itu e a vista privilegiada para o Cristo. 

A Rua Itu, compreendida entre as ruas Diógenes Sampaio e Embaixador Morgan, apesar de pequena, possui casas tão belas quanto às das ruas adjacentes. O que mais evidenciei ali é a inclinação paisagística emanada pelos seus moradores. Como são muitas plantas, não só no espaço público como no privado, expostas aos olhos do pedestre, esse jogo de espécies vegetais poderia ser apenas mais um carnaval verde como vemos em tantos lugares e que fica bonito e aconchegante da mesma forma. No entanto, um olhar mais apurado assinala que esse amontoado de plantas não está disposto de qualquer forma. É parte de uma combinação que funciona tanto entre as plantas em si quanto em relação à parcimônia das cores das fachadas.

Já com a lua sobre as nossas cabeças, nos despedimos do alto do Humaitá em meio a uma família de micos que, de galho em galho, também acabaram desfilando ousadamente sobre a fiação da rua. Sem falar nos percevejos que, volta e meia, grudavam nos nossos tornozelos pelados. E o Cristo? Esqueci-me de falar do Cristo, apesar dele ser onipresente no Humaitá, concordam? Quem mora ali tem vista privilegiada para o Corcovado que, em noites pouco nubladas, fica ainda mais angelical. Era o caso. Despertava, a partir daquele instante, uma noite linda.

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