Rua Saturnino de Brito
Quem não se lembra da rua do antigo Teatro Fênix? A entrada da Rua Saturnino de Brito pela Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa. por Pedro Paulo Bastos Quem foi criança nas décadas de 80 e 90 deve lembrar bem de uma parte dos programas da Xuxa em que ela fazia o sorteio de cartas. […]
Quem não se lembra da rua do antigo Teatro Fênix?
A entrada da Rua Saturnino de Brito pela Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa.
por Pedro Paulo Bastos
Quem foi criança nas décadas de 80 e 90 deve lembrar bem de uma parte dos programas da Xuxa em que ela fazia o sorteio de cartas. A apresentadora, com as pernocas semicobertas por botas coloridas, quase se afundava em um mar de envelopes, cujos quais eram jogados para cima e escolhidos aleatoriamente na hora da queda. O felizardo ganhava diferentes tipos de prêmios. Para que a cartinha pudesse chegar até o programa, um emblemático endereço fora exaustivamente repetido pela loura: “Rua Saturnino de Brito 74. Jardim Botânico, Rio de Janeiro. O CEP, 22470″. Sim, naquela época o CEP ainda não tinha os três últimos dígitos atuais. A Rua Saturnino de Brito marcou o imaginário de muita criança. O bairro, Jardim Botânico, mais ainda – símbolo da Tv Globo.
Hoje o Teatro Fênix já não existe mais, embora a rua continue firme e forte como uma das principais vias do Jardim Botânico e da Lagoa, apesar da sua curta extensão. Começa na Avenida Borges de Medeiros, terminando na Rua Jardim Botânico, sendo continuada pela Rua Lopes Quintas. De rua dos artistas, dos carrões, e de certa muvuca em dias de gravações, a Saturnino de Brito e seu entorno transformaram-se em mais um pedaço da zona sul explorado pelo setor imobiliário. Edifícios residenciais foram levantados no local do extinto teatro, que, na verdade, tinha entrada oficial pela Avenida Lineu de Paula Machado.
O início da Rua Saturnino de Brito é constituído por jardins muito bem cuidados em meio a prédios altos e baixos.
A vista para o Corcovado e o Cristo Redentor também é um ponto alto da rua. Aliás, de todo o bairro do Jardim Botânico.
Nem a Xuxa, nem o Faustão, muito menos o Chacrinha, passam mais pela Rua Saturnino de Brito. Porém, nos domingos de sol, as figurinhas carimbadas por lá são os ciclistas. Não apenas os ciclistas por diversão; me refiro aos profissionais, principalmente. As bicicletas super bem equipadas, eles com cotoveleiras e capacetes. Vêm aos bandos da Lagoa em direção à Rua Lopes Quintas. Há uma razão nisso tudo: a Rua Saturnino de Brito é um dos caminhos para o Horto, um dos principais redutos da cidade para ciclismo, trilhas, contato com a natureza e mirantes de tirar o fôlego, como a Vista Chinesa.
Na primeira quadra, entre a Lagoa e Avenida Lineu de Paula Machado, o que mais chama a atenção são os jardins, fartos e bem cuidados. Graças ao empenho dos condomínios na manutenção deles, a Rua Saturnino de Brito ganha ares bem aconchegantes em meio a tanto verde, de diferentes espécies. Quem me acompanha no blog sabe que sou péssimo para nomear plantas e flores, por pura ignorância, mas se percebe que há um trabalho paisagístico embutido ali. Ou seja, não foi só encher de planta e acabou, o que também já teria sido ótimo. Há um conceito por trás daquilo, que se harmoniza coletivamente. Eu adoro jardins urbanos. Fico sempre babando. Fotografo de todos os ângulos possíveis…
A quantidade de jardins, plantas e flores por lá torna-a uma rua aconchegante e bucólica.
O cruzamento com a Avenida Lineu de Paula Machado. À direita, o local onde se situava o Teatro Fênix, hoje ocupado por um conjunto de edifícios residenciais.
Uma das coisas mais interessantes do Jardim Botânico é o fato de ser um dos bairros na zona sul que mais conserva suas origens – arquitetônicas, em especial. Analisando Leblon e Ipanema, que são densamente ocupados e retransformados, essa região do Jardim Botânico e da Gávea ainda conserva algumas casinhas mais humildes, daqueles tempos operários, em que a Lagoa Rodrigo de Freitas era um lugar de baixa renda e pantanoso, há menos de cem anos. Rodeado de prédios bonitões na Lineu de Paula Machado e na quadríssima, os lados para a Rua Jardim Botânico são mais antigos. Com exceção de uma ou outra casa, como a Mamma Jamma, pizzaria inaugurada em 2009, com design totalmente reformulado, a sua vizinha, no número 30, por exemplo, parece sobreviver aos tapas em meio a alucinante procura por terrenos. O mesmo digo para o posto de gasolina Esso. Na zona sul, posto tem sido quase igual a achar água no deserto.
Ciclista equipado na Rua Saturnino de Brito, com uma floricultura improvisada e o trânsito livre, típico dos finais de semana.
A pizzaria Mamma Jamma, já na altura da Rua Jardim Botânico, onde a Rua Saturnino de Brito termina.
Esse trabalho de fotografar as ruas do Rio pode parecer fácil e prazeroso (e é, não posso mentir!), embora também tenha o seu lado cansativo. Não no sentido do deslocamento, mas sim no desgaste emocional. Fotografar as ruas do Rio, atividade aparentemente individualista, também faz com que eu tenha de lidar com pessoas. Num mesmo percurso posso receber elogios, questionamentos e até mesmo agressões verbais por parte de quem cruze o meu caminho no momento, com a máquina pendurada no pescoço.
Na Saturnino de Brito, foi o caso clássico. Uma senhora só faltou apertar as minhas bochechas – para ela, eu era uma “gracinha” (palavras da própria, hein!), independente do trabalho que estivesse fazendo. Na esquina com a Lineu de Paula Machado, um homem perguntou por que razão eu fotografava tanto o “nada”. Expliquei do que se tratava. “Ah”, suspirou ele, indo embora. Já nas proximidades com a Rua Jardim Botânico, um senhor, descontrolado, queria chamar a polícia, pois o que eu estava fazendo era um “absurdo”. Supôs que eu estivesse fotografando-o entrando em casa, como se eu fosse um paparazzi, e ele, uma dessas celebridades aí que a mídia insiste em etiquetar. Farpas trocadas, segui meu caminho. Não recebi até agora intimação alguma da polícia, que, se foi acionada, deve estar ocupada, rindo do episódio.
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Atenção! O Wallpeople Rio de Janeiro, em função do mau tempo, foi transferido do dia 9 para o dia 16 de junho!
O As Ruas do Rio é parceiro da edição carioca do Wallpeople 2012 (wallpeople.org). Você que curte arte e fotografia, seja amador ou profissional, participe do Wallpeople levando suas criações. Vamos criar um grande mural de fotos, colagens, pinturas, desenhos, etc, relacionados ao tema “Express Yourself (Autoexpressão)”. A ideia é criar uma exposição a céu aberto, intervindo no espaço urbano e promovendo um encontro entre pessoas. Mais de 32 cidades ao redor do mundo estarão participando simultaneamente!
Dia 16 de junho de 2012, das 15h30 às 17h30, na esquina da Avenida Heitor Beltrão com a Rua Alzira Brandão, na Tijuca. Bem ao lado do Teatro Ziembinski, quase em frente à estação São Francisco Xavier do metrô.
Mais informações sobre o evento no Rio de Janeiro aqui. Sobre informações do evento desde sua criação, com entrevista aos criadores, os publicitários espanhóis Pablo Quijano e David Marcos, de Barcelona, assista ao vídeo exclusivo aqui neste link.