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As Ruas do Rio

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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro

Rua Fonte da Saudade

Um passeio pela Rua Fonte da Saudade, onde fica o conjunto de ruas mais expressivo do bairro da Lagoa, comumente lembrado por duas avenidas de tráfego intenso e uma bela paisagem. Rua Fonte da Saudade, na zona sul do Rio: logradouro lotado de árvores, plantas, flores e jardins. por Pedro Paulo Bastos Diz a lenda que […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h19 - Publicado em 4 out 2012, 21h33

Um passeio pela Rua Fonte da Saudade, onde fica o conjunto de ruas mais expressivo do bairro da Lagoa, comumente lembrado por duas avenidas de tráfego intenso e uma bela paisagem.

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Rua Fonte da Saudade, na zona sul do Rio: logradouro lotado de árvores, plantas, flores e jardins.

por Pedro Paulo Bastos

Diz a lenda que por lá se ouviam aos berros os fados cantados pelas portuguesas lavadeiras recém-chegadas ao Brasil. Há pelo menos uns dois séculos, acredito.  A cantoria era uma forma saudosa de relembrar a saudosa mãe-pátria, tão distante, lá nas Zoropa. Outra parte da história diz que por lá havia também uma fonte de água mágica, pura. Eis o nome, Fonte da Saudade. Hoje é um pequeno sub-bairro da Lagoa nas margens do Humaitá e do acesso ao Túnel Rebouças. Diferentemente do passado, não se escutam mais os fados, e sim freadas e buzinas dos automóveis que passam pela avenida adjacente, a Epitácio Pessoa. O 157, que liga a Gávea à Central do Brasil, entra pela rua num estardalhaço, sendo, talvez, o único ruído de máquina por ali em meio a uma paisagem bastante bucólica. No entanto, concretamente verticalizada.

Eram umas dez horas da manhã. O 157 vai parando nos pontos da Fonte da Saudade, onde embarcam homens trintões-quarentões bem vestidos, a mochila escolar destoando do visual, enquanto mulheres igualmente bem arrumadas – umas mais novas, outras mais maduras – esperam sua vez de subir no veículo. Cavalheirismo não faz mais parte das leis dos pontos de ônibus. É um detalhe dispensável, afinal, o corre-corre nos impede de notar tais sutilezas. O ônibus vai se afastando, desaparecendo da minha vista ao entrar numa pequena curva à esquerda, onde a Rua Fonte da Saudade ganha pista dupla. O panorama é bonito de ser apreciado: os troncos das árvores são enfeitados por orquídeas predominantemente brancas, e o Palacete Tavares se exibindo ao fundo, na esquina da Rua Almirante Guillobel.

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A entrada à Fonte da Saudade através da Avenida Epitácio Pessoa. No seu início, ela conta com uma única pista.

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O Palacete Tavares, tombado em 2003, na esquina com a Rua Almirante Guillobel, e o espetáculo de orquídeas que embeleza a rua.

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Árvores tomadas por ervas-de-passarinho enquanto edifícios recentes, com traços antigos, dividem espaço com os, de fato, antigos.

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A esquina com a Rua Carvalho Azevedo, notadamente comercial, voltada para a gastronomia.

O canteiro central remete a Rua Fonte da Saudade ao estilo dos bulevares, com uma sucessão de árvores imponentes margeando os edifícios dali. Nos galhos, o crescimento das ervas-de-passarinho se apresentam como verdadeiras cortinas de fios verdes. Oferecem um visual bonito a este trecho da Lagoa, embora, como todos devem saber, matem pouco a pouco cada uma dessas árvores. Mesmo assim, algumas estão tão desnutridas e envelhecidas que o formato dos seus galhos, na ausência de folhas e flores, se encurva de modo a parecer ora um cabelo de Medusa, ora um outro penteado endoidado. Uma delas, na altura da Rua Sacopã, me lembra o visual da Radical Chic, o personagem de quadrinhos do cartunista Miguel Paiva. A natureza às vezes é mais pop do que a gente imagina.

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Todos os edifícios da Rua Fonte da Saudade seguem um padrão exclusivo da classe média alta, com algumas poucas referências antigas desprovidas de garagens. O aspecto modernoso dos seus prédios pode ser compreendido pela considerável presença de casas, como o Palacete Tavares, já citado, entre outras que, na maioria das vezes, funcionam como estabelecimentos comerciais. No cruzamento da Rua Carvalho Azevedo, duas casas competem em beleza mas complementam-se na vocação – a gastrononomia. O japonês Ki, considerado um dos melhores do Rio, ocupa um imóvel mergulhado em um azul-esverdeado. Do outro lado, a padaria-bistrô Guy, mais adaptado ao comércio, com varandas ao ar livre cobertas por cortinas de plástico transparente e vasos de plantas.

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Não só rota para alguns ônibus, a Fonte da Saudade também funciona como via de apoio ao trânsito pesado da região.

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Os muros grafitados são figurinhas carimbadas por lá, recheados de intervenções criativas. Ao lado, as babás, cujo uniforme é sempre a roupa de cor branca.

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Trecho da Rua Fonte de Saudade, onde funciona um salão de beleza e um pequeno acesso à Rua Baronesa de Poconé. Ao lado, a parte dianteira da Paróquia Santa Margarida Maria.

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A Praça General Álcio Souto, que conta com um monumento de Quintino Bocaiúva no seu centro.

Se os prédios e pequenos restaurantes ilustram a Fonte da Saudade com seus impecáveis projetos de arquitetura e de paisagismo, o lado – até então – obscuro da rua ficava por conta dos extensos muros que a contornam. Um destes muros pertence à instituição Pequena Cruzada de Santa Terezinha do Menino Jesus, com entrada pela Avenida Epitácio Pessoa. Agraciado pela arte de rua, o colorido ininterrupto representa caricaturas, dizeres, onomatopeias e assinaturas, que vão se repetir – não em ideias, mas em cores – nos muros mais adiante, perto da Escola Rubem Braga e da Paróquia Santa Margarida Maria. Aliás, na pequenina Rua Frei Solano, onde está a paróquia e mais uma porção de muros grafitados, rola uma feira livre todas as quartas-feiras. Aquele ruído de cana sendo moída é indescritivelmente maravilhoso! O sabor do caldo, ainda mais.

Nas proximidades do Humaitá, a Fonte da Saudade perde um pouco do seu bucolismo para dar espaço às rotas alternativas de acesso à Lagoa e ao Túnel Rebouças. Placas de trânsito tornam-se mais frequentes, assim como outras linhas de ônibus em direção à Copacabana e à São Cristóvão que trafegam por ali. O encontro das bicicletas que vêm das ciclovias da Lagoa com os pedestres equipados em roupas de ginástica e babás uniformizadas resulta caótico naquelas tentativas ousadas de cruzar o semáforo ainda com a luz vermelha. Aquele tapete de sombra, de falta de luminosidade, peculiar ao primeiro trecho da rua, fica para trás com o clarão provocado pela bonita Praça General Álcio Souto, que tem um Quintino Bocaiúva – o jornalista e político – de bronze no seu centro rodeado por um jardim circular. A vista livre para o Corcovado enfeita a praça como um pintura emoldurada serve de decoração para a sala de estar de uma residência. Enquanto isso, o 157 contorna a praça, já com todos os passageiros da Fonte da Saudade embarcados, e engata na Rua Humaitá, rumo ao Centro do Rio.

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